Em suas Mãos (Barak 2) romance Capítulo 68

Eu ergo as mãos e toco sua barriga. Ela nervosa se levanta, e eu me levanto.

“Reaja, fale alguma coisa!” Digo para mim mesmo. No entanto, vendo-a ali, tão perto, com a barriga acentuada dentro daquele vestido azul-marinho, me faz perder a capacidade de falar. Uma enxurrada de sentimentos e lembranças, sem controle, me tomam e me golpeiam com força total.

Ergo meu olhar. Paralisado fico encarando-a. Seus olhos castanhos brilhantes dentro dos meus, a respiração me falta.

É tanta saudade que tenho o desejo louco e insano de beijá-la ali mesmo, tocando-a, amando-a com desespero.

—Rashid. O que faz aqui?

Ela fala de um jeito tão agressivo que disparo:

—Dormir com a porta aberta é perigoso.

—Rashid, isso não é da sua conta. O que faz aqui?

Sim, há um abismo entre nós. Muita coisa tinha acontecido. E eu não consigo aceitar isso. A dor e a decepção dentro de mim são absurdas. Embora sei que foi tudo culpa minha, sou assolado por revolta e dor.

—Agora é da minha conta, você carrega um filho meu. —Digo.

—Rashid, não pode entrar assim. Quero que me esqueça. Eu quero refazer minha vida longe de você.

Não gosto da maneira que ela fala comigo. Naquele momento é como tomar um balde de água fria na cabeça Fecho os olhos por um momento. A dor dentro de mim é atroz. Abro meus olhos e a encaro com um olhar miserável.

Respiro fundo e me aproximo, ela dá um passo para trás e fica encurralada entre eu e o sofá. Minhas mãos sobem até seus ombros e eu a puxo para mim, apoiando sua cabeça em meu peito, beijando suavemente seu cabelo. Sou embriagado por seu cheiro, pelo amor e saudade, com uma paixão que lateja dentro de mim e quer extravasar.

Ela fica sem ação no princípio, mas depois começa a se debater, eu a afasto e a encaro:

—Khadija. Quero você. Quero nosso filho...

Lágrimas grossas surgem nos olhos dela.

—Saia daqui, agora! Você não pode ficar entrando na minha vida quando bem entende.

Percebo ódio ali, não tem mais aquele brilho de ternura que eu enxergava antes... O desespero me engolfa junto com o medo real de perdê-la. Fico imóvel no mesmo lugar, lutando com meus sentimentos. Entendo que preciso dizer as palavras certas.

—Eu te amo.

Ela olha para mim com o rosto fechado, como se eu falasse do tempo.

— Amor, Rashid? Amor é cuidado, é se importar, é querer estar junto, é fazer o possível para estar junto, amor é mais que encontrar o beijo perfeito e o encaixe ideal dos corpos. Amor é quando duas almas se encontram...

Sinto como se tivesse levado um soco no estômago. Meu coração bate forte, a agonia se embola com a raiva do que fiz se torna gigantesca dentro de mim. Sei que ela está certa. Era assim que eu a tinha, mas tudo mudou. Eu a olho dentro dos olhos. Nunca me canso de olhar para ela. Nunca deixarei de amá-la. Tudo que viesse e acontecesse não seria o bastante para arrancá-la de dentro de mim. Eu sou dela, eu estou em suas mãos e isso não me causa mais aversão.

Ela desvia o olhar dos meus olhos miseráveis.

—Khadija, olha para mim. Por favor. —Seus olhos procuram os meus, relutantes. — Eu sou louco por você, eu passei um inferno sem você. Não sabia que estava esperando nosso filho. Tenho a procurado, há muito tempo.

Ela enxuga as lágrimas.

— Você passou um inferno porque quis. Foi você que quis assim, lembra. Bem, adivinhe, Rashid? Eu sei que isso será como um grande choque para você, mas eu não me sinto em suas mãos. Eu te amei sabia? Mesmo me esforçando para não sentir nada por você, pois o senhor controle absoluto não queria nenhum tipo de sentimento. Mas agora estou bem. Estou até feliz, sabia?

Eu a pego pelos ombros e a faço olhar para mim:

—Khadija, Allah! Eu errei. Eu estou assumindo que errei. O que você quer que eu faça? Diga que te amo de joelhos?

Ela tira minhas mãos com raiva.

— Rashid, você ama a si mesmo. Está falando isso pois essa gravidez mexeu com você. Se me amasse de verdade, jamais me faria aquela proposta. Amante! É esse lugar que tenho na sua vida.

— Não...

Ela me corta:

—Agora vá. Não quero uma guerra. Só quero que saiba que as coisas mudaram entre nós. Você não joga mais as cartas. Pode ficar tranquilo que não usarei esse filho para arrancar nada de você. É isso que teme?

Meus olhos descem para o seu ventre. Sinto-me perdido, completamente sem saber o que fazer. Eu a encaro. Sinto um baque com o impacto de seu olhar, ela me olha como se eu não despertasse mais nada dentro dela. O medo real de perde-la aperta meu coração.

— Não, Khadija. Sei que não faria isso...e mesmo porque, você sabe que tenho recursos para tirá-lo de você.

Ela balança a cabeça, ofegante.

—Você não mudou nada Rashid...

—Mudei, Khadija. Eu entendo seu ódio. Mas não posso ficar longe de você. —Digo emocionado com o coração apertado.

—Não pode? – Sorri com ironia. —Não foi isso que você demonstrou.

Eu a puxo para mim, enfio os dedos em seus cabelos e a beijo como se isso dependesse minha vida. Ela se assusta e me empurra. Mas eu consigo puxá-la mais para mim e enfio minha língua entre seus lábios, buscando a língua dela. Minha boca sugando a dela sem controle, desesperadamente. Ela cede e sua boca se abre sôfrega sob a minha numa explosão de sentimentos presos por tanto tempo. Logo estamos nos beijando, arrebatados e intensos, como se o mundo e o tempo parassem naquele momento.

Quando por fim nos afastamos, eu a encaro, esperançoso. Seu olhar endurece.

—Eu me arrependo por tudo e não vou desistir de você, Khadija. Só isso. E por favor, não me prive desse momento. Quero acompanhar sua gravidez, quero poder acompanhá-la nas idas ao médico. E ser participativo em tudo. Juntos planejarmos o futuro dessa criança.

Eu me agacho e beijo sua barriga, ela se afasta com um empurrão e eu quase caio no chão. Eu me levanto. Meu coração bate furioso em meu peito.

—Agora quer acompanhar minha vida? Eu nem podia falar do meu passado, da minha vida e não tinha nada de você. Futuro? Só presente. Lembra? —Ela diz ofegante.

Suas palavras cruéis atingem o alvo, ela me faz me sentir um crápula. A dor dilacerou meu peito. Por minha culpa ela me tratava assim. Se foi a minha doce Khadija.

Eu me ajoelho.

— Quero provar que te amo. Khadija. Acredite em mim! Pelo menos me dê uma chance de provar.

Ela respira fundo, e cruza os braços.

— Agora vá, Rashid. Melhor colocar seus sentimentos numa balança. Nosso filho mexeu com você, só isso.

—É um menino? —Eu pergunto, emocionado.

—É um menino. —Ela diz a contragosto.

Meus olhos se enchem de lágrimas, sem me importar que ela me veja assim, tão fragilizado.

—Eu amo você, com filho ou sem filho ... – Sussurro e saio me sentindo arrasado.

Saio da casa de Khadija me sentindo perdido, sem rumo. Ramon quando me vê se aproxima de mim. Acho que ele acha que terei outro treco, sei que estou pálido, o semblante caído, arrasado.

—O senhor está bem?

—Não! —Digo, e ando com passos incertos até o carro.

Ele corre e abre a porta para mim. Eu entro e me afundo no banco. Quando ele assume o volante me pergunta:

—E agora?

—Para casa.

Esfregando meus olhos, me esforcei a pensar em algo que eu pudesse provar para Khadija que eu mudei.

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