ENTRE O AMOR E O ÓDIO romance Capítulo 112

Rebecca continua imersa em seu sofrimento, e naquele momento, toda aquela dor a envolve, pois ela deseja suportar o máximo que seu corpo e mente podem aguentar. Por volta das 9h da manhã, ela é arrancada de seus pensamentos ao avistar Susan entrar no quarto. Não há palavras trocadas entre elas, apenas um abraço afetuoso que expressa mais do que palavras poderiam. Rebecca se levanta e segue para o banheiro, preparando-se para encerrar o capítulo mais sombrio de sua vida. Alex retorna ao hospital e se encaminha para o quarto dela. Ele troca olhares com Susan e avista Rebecca debruçada na janela, contemplando a paisagem lá fora.

— Susan, por favor, nos deixe a sós. — Pede Alex, e Susan sai em silêncio do quarto. Ele se aproxima de Rebecca e a abraça por trás, ela fecha os olhos, encontrando consolo naquele abraço. — Como você está hoje?

Rebecca permanece em silêncio. Seu amor por Alex é inegável, mas ela luta para aceitar que ele está sofrendo devido a suas ações. Desde que descobriu o que fez com a filha deles, seu coração se tornou mais sombrio, e ela anseia por suportar o sofrimento todos os dias, buscando pagar pelo mal que causou. Ela se vira e encara o semblante triste e cansado dele.

— Estou bem, Alex. Você poderia me deixar sozinha, por favor? Não quero que você fique comigo agora.

— Rebecca, por favor, não faça isso. Podemos enfrentar isso juntos e recomeçar. Será mais fácil compartilhar essa dor. Meu amor, por favor, não tome essa decisão, não faça isso.

— Não fazer o quê, Alex? Não te magoar ainda mais? Sei que já te causei dor. Vejo o sofrimento nos teus olhos, e espero que um dia você possa me perdoar. O que você espera de mim? Sinto que já me destruí por completo e começo a pensar que não sou digna de felicidade. Ter conhecido você parece ter despertado o pior em mim. Olha só o que fiz. Eu me sinto como um monstro, ao ponto de considerar saltar dessa janela, para que você possa se afastar de mim.

— Rebecca, por favor. Não faremos isso, por favor. Você está doente. — Diz, sua voz trêmula, segurando as lágrimas que teimam em escapar. — Podemos enfrentar…

— Eu não estou doente! — Grita, interrompendo-o com desespero. — Sou um monstro, Alex. Eu rejeitava aquela criança, você sabe disso. Fui eu quem machucou a nossa filha, e essa culpa me consome. Por que você insiste em permanecer ao meu lado? Eu te odeio, mas é a mim mesma que odeio mais ainda. — Desabafa, lágrimas inundando seus olhos. — Se nem a morte de uma criança inocente é suficiente para te fazer se afastar de mim, então eu não sei mais o que poderá. Por favor, entenda de uma vez, a felicidade não me pertence mais.

— Rebecca, por favor, não, estou implorando para que você não faça isso.

— Eu já fiz, Alex, eu já fiz. Destruí a nossa vida. E agora, não consigo olhar para você sem lembrar de toda a maldade que cometi, sem me sentir uma pessoa horrível. Se você não sair de perto de mim agora, vou te lembrar todos os dias do monstro que sou. Vou te contar em detalhes como machuquei nossa filha. — Sua voz se quebra e lágrimas incontroláveis escorrem pelo seu rosto. — Você disse que morri, então trate de me enterrar no seu coração. — Conclui com o coração dilacerado, o ar escasso enquanto suas lágrimas lavam seu rosto.

— Rebecca, você é uma pessoa horrível, por que faz isso? Enquanto estou aqui, sofrendo ao seu lado, implorando para não fazer isso, não consigo te compreender. Não posso acreditar que tenha feito isso. Se quer o meu ódio, saiba que o terá. Nunca conseguirei te perdoar por isso, e desejo que encontre toda a infelicidade que procura, que sofra até o dia da sua morte. — Diz, dominado pela dor, ódio e raiva que o consomem, saindo do quarto e batendo a porta com força.

Rebecca enxuga as lágrimas e observa Susan entrar no quarto. Susan se aproxima dela e a envolve em um abraço acolhedor.

— Sou uma pessoa horrível, Susan. Estou deliberadamente machucando o homem que amo, tentando afastá-lo de mim.

— Por que está fazendo isso, Becca?

— Mandei você parar. — Ordena, interrompendo-a, tomado pela raiva. Seus olhos caem sobre o colar que ela lhe deu no dia em que compartilharam a notícia sobre a filha, e ele o arranca de seu pescoço. Com gestos trêmulos, ele agarra seu próprio colar, juntando as duas metades do coração. Então, volta até o caixão e coloca o colar lá dentro. — Nunca vou esquecer você, minha princesinha. — Beija suavemente a testa da filha e fecha o caixão, lágrimas escorrendo por suas bochechas, enquanto o choro incessante de Rebecca ecoa ao seu redor. — Droga, Rebecca, pare de chorar agora, eu mandei. — Grita descontrolado, enquanto caminha até ela, dominado pela dor e a raiva. Mesmo que ela tente, não consegue conter as lágrimas. Ele a pega pelo braço e a conduz até uma sala próxima.

— Alex, acalme-se. — Diz Richard, intervindo.

— Fica fora disso. — Diz, batendo a porta com violência. — O que diabos você quer de mim, Rebecca? Isso não foi o suficiente? Por que você está aqui? Por que está chorando? — Ela continua chorando, incapaz de responder. — Como ousa derramar lágrimas, como? Você deu a ela essa chance? Não, você não deu. Eu nem sequer pude ouvir o choro dela. E agora você se atreve a ficar aqui na minha frente, com a coragem de chorar. — Ele a pressiona contra a parede, os olhos injetados de raiva. — Que tipo de pessoa você é? Quer me enlouquecer? Você tirou tudo de mim, entende? Não sobrou nada, Rebecca, nada. Todo o amor que um dia senti por você será cremado com ela, e meu ódio será muito maior do que todo o amor que já te dediquei. Eu nunca vou te perdoar, nunca. Farei você desejar a morte todos os dias, porque farei você sofrer mais do que estou sofrendo agora. — Ela chora tanto que começa a soluçar, suas lágrimas não conseguem conter a fúria dele naquele momento. — Juro por Deus, Rebecca, se você não parar de chorar agora, teremos três funerais hoje. O da minha filha, o seu porquê vou te matar, e o meu porquê vou me matar logo depois, para sempre te lembrar lá no inferno o monstro que você é, porque é para lá que você vai. Eu te odeio e preferiria estar sepultando você em vez dela. Você destruiu minha vida.

O único som que permeia o ambiente é o silêncio que se estende entre eles. O amor que um dia compartilharam revelou-se insuficiente para suportar a avalanche de dor que agora os separa, deixando à mostra todos os sentimentos negativos. Alex abre a porta, enfrentando os olhares julgadores de todos os presentes, que se perguntam como ele teve coragem de se comportar daquela maneira num momento tão doloroso.

— Sr. Henrique, vamos acabar com isso. — Murmura, incapaz de enfrentar a tristeza que o envolve, e sai da capela.

Richard entra na sala e abraça Rebecca, percebendo que ela está ardendo em febre. Ela chora em seu peito, até não ter mais lágrimas para derramar. Quando o padre adentra a capela, Alex retorna também, mas permanece junto à porta. Naquele momento, é realizado um discurso emocionante em homenagem à bebê, que foi batizada de Angel Jenkins Baker, seguido de uma oração.

Quando aquele momento é finalizado, Alex se aproxima e toma nos braços o caixão de sua filha. Com lágrimas escorrendo pelo rosto, ele caminha até o local da cremação, seguido por um cortejo de amigos e familiares, cujas expressões refletem a tristeza profunda que todos compartilham. No entanto, durante a cerimônia de cremação, a dor se torna insuportável para Alex, e ele decide partir, incapaz de suportar a perda. Rebecca, igualmente devastada, segue o mesmo caminho, acompanhada por Richard diretamente para o hospital. Assim se encerra o capítulo mais triste e doloroso da vida deles.