ENTRE O AMOR E O ÓDIO romance Capítulo 156

Na manhã seguinte, Alex é acordado por uma enxaqueca pulsante, um lembrete implacável da noite anterior, uma noite vazia e dolorosa onde a bebida apenas ampliou sua solidão. Ele se levanta do sofá, senta-se e encara mais uma vez a pequena caixa sobre a mesa. As mãos encontram seu rosto e ele solta suspiros profundos, encarando a dura realidade que o envolve.

Determinado a não perder mais tempo, Alex reúne seus pertences entregues pelo advogado e coloca o celular para carregar. Ao se aproximar da mesa, seus olhos são atraídos mais uma vez para os sapatinhos brancos, uma visão que o oprime com uma tristeza dilacerante. Com as mãos trêmulas, ele pega o envelope que descansa ao lado da caixa e se acomoda no chão, recostado no sofá, pronto para mergulhar na leitura da carta. A tristeza o envolve de maneira intransigente, como uma sombra que não o deixa escapar, uma presença angustiante em sua vida solitária.

“Oi, papai, estávamos te esperando para te contar que na mamãe agora batem três corações apaixonados por você. Estamos ansiosos para te conhecer.

Alex, meu amor,

Tudo que anseio é o teu amor, por ser o mais valioso presente que você pode me oferecer. Descobrir que ainda nutre esse amor por mim preenche meu coração de alegria. Depois de tantas mágoas e tanto tempo perdido, estou pronta para recomeçar, pronta para retornar ao lugar ao qual pertenço, ao teu lado. Mesmo que continue vivendo a vida, ela não tem o mesmo brilho que tinha quando compartilhava cada momento contigo. Sei que podemos recomeçar, abandonar as mágoas e dores do passado e abraçar a nova chance que estamos recebendo.

Reconheço que nossos erros nos levaram a um caminho tortuoso, onde ambos nos machucamos. Ainda que o nosso amor tenha vacilado naquele momento doloroso das nossas vidas, ele sobreviveu nos nossos corações. Nunca amarei outro homem, por ser a tua presença que completa o meu coração.

Sei que durante muito tempo desejaste que eu compartilhasse o que aconteceu naquele dia trágico. Porém, não consigo fazê-lo. Aceitar a gravidade do que fiz é algo que se mostra impossível para mim, por isso jamais conversei abertamente contigo a respeito. Continuar vivendo na incerteza e na escuridão me parece uma forma de tortura menos cruel. Mesmo após inúmeras sessões de terapia, um vazio persiste em minha mente. Pode parecer egoísmo, mas prefiro que permaneça assim, para enganar o meu coração e me convencer de que não causei danos à nossa Angel. — Alex nota uma marca de lágrima na carta. — Recordar cada pensamento sombrio que tive durante sua gravidez me consome. Entretanto, a lembrança do amor incondicional que sentia por ela arde em meu peito. Me perdoe por não a ter protegido de mim mesma.

Peço desculpas por permitir que você acreditasse que não fosse o pai do bebê. Naquele momento, o medo e o pavor me dominavam, e meu comportamento foi imprudente, como muitas vezes foi. Sempre te vi como o homem mais extraordinário que já conheci, e o fato de ter amado esse bebê como se fosse teu, mesmo acreditando que não era, apenas realça a nobreza do teu coração.

Meu amor por ti segue inabalável, Alex. Continuo te amando, e mal posso esperar para ver o brilho emocionado em teu olhar, ao encarar meu ventre que carrega nossos dois filhos. Hoje sou grata por receber o perdão divino e uma nova oportunidade de ser feliz.

Sou tua, para sempre tua! Te amo, meu amor.

Rebecca Baker.”

A mistura de sentimentos em Alex transborda, inundando-o de emoções contraditórias: a felicidade pela declaração de amor de Rebecca e a dor dilacerante da perda de seus filhos. Ele se encontra imerso em uma realidade dolorosa da qual desejaria fugir. Alex relê a carta repetidas vezes, procurando certificar-se de que compreendeu todas as palavras corretamente. A incerteza atormenta sua mente, e seus olhos, que parecem ter estado fechados por anos, agora se abrem para a verdade.

— Como pude ser tão cego? — Murmura, levantando-se e caminhando até seu celular. Alex faz uma ligação para sua psicóloga, percebendo que precisa buscar ajuda e esclarecimentos. — Dra. Gerber, peço desculpas por ligar assim. — Diz ao ser atendido.

— Sr. Baker, não é nenhum incômodo. Eu já imaginava que você me procuraria, especialmente após todas as notícias que tenho acompanhado. — Responde com empatia na voz.

— Hoje não é sobre mim, Dra. Gerber, mas preciso que você me confirme algo que já suspeito. É comum bloquearmos memórias de traumas que nos causaram dor, correto?

— Sim, isso acontece com frequência.

— E a terapia, pode auxiliar na recuperação dessas memórias?

— Sr. Baker, costumamos tratar esses assuntos como repressão de memórias, onde uma pessoa suprime ou bloqueia conscientemente as lembranças de um evento traumático, muitas vezes como uma forma de autodefesa. No entanto, com o tempo e com a ajuda de um terapeuta treinado, algumas pessoas podem começar a recuperar gradualmente essas memórias reprimidas. É fundamental que a terapia seja conduzida por um profissional de saúde mental treinado em terapia de trauma, como a Terapia de Processamento de Trauma ou a Terapia Cognitivo Comportamental, que possua experiência no tratamento de transtornos de estresse pós-traumático e repressão de memórias. Essa terapia é realizada cuidadosamente e com foco na segurança do paciente. É importante observar que a recuperação de memórias reprimidas não é garantida.