Entre quatro paredes(Completo) romance Capítulo 52

O barraco formou, Eleanor – a responsável pela sala inteira estar me olhando como quisesse me matar — sorria vitoriosa mesmo com o Dante quase chorando de raiva na frente de todos.

Eu pisquei duas vezes antes das lágrimas descerem pelo meu rosto. Ele me olhava com tanta decepção, eu só queria encontrar o buraco mais próximo e me enfiar de cabeça para baixo.

— Me responde, como pôde? — Dante repente com a voz fraca.

— Muito bem — Edith fala batendo palmas —, vamos acabar com esse jogo. Eleanor, faça o favor de se retirar, a discórdia que você queria já foi formada. Enquanto a vocês, Alice e Dante, vão lavar as roupas sujas em outro lugar.

Dante saiu em disparada para fora da sala de estar. Todos me encaravam agora em completo silêncio, olhei para Anne que não tinha expressão.

Saí logo em seguida atrás dele.

Ele parou já no andar de cima, em um corredor que a única saída era uma sacada.

— Me desculpa, eu...

— Você sabe quanto tempo eu passei me culpando pelo nosso relacionamento ter acabado daquele jeito? — Ele vira para mim completamente transtornado. — Me culpando por você ter ido embora, por tudo!

— Dante...

— Fica calada — fala quase em um sussurro. — Eu me odiei por todos esses anos. Fiquei no meu quarto imaginando como seria a nossa vida em família, como seria um filho nosso. E você por mero capricho escondeu de mim que eu já era pai há quatro anos!

— Capricho... Isso depois de você ter transando com a Nicole na sua sala?

— Ah, isso depois de você me negar por quatro meses, Alice? Eu tentei, tentei muito me acertar com você, mas nem isso você quis. Não deixou nem eu me explicar, ao invés disso levou o meu filho para longe de mim. — Ele sopra o punho — e se esse casamento não tivesse acontecido? Eu nunca nem saberia que ele existe.

Passo minhas mãos trêmulas pelos cabelos, não tinha o que dizer além de me desculpar.

— Eu fiz isso para proteger ele, não queria que a sua vida de play boy acabasse.

— Quem é você para decidir isso por mim? — Ele se aproxima — queria protegê-lo de mim? Eu sinceramente preferia protegê-lo de você, uma pessoa egoísta. Graças a você eu perdi fases importantes da vida dele.

— Eu fiz isso porque estava machucada, minha mãe tinha acabado de morrer e...

— Para de colocar a culpa dos seus erros encima dos outros, pelo menos uma vez, assuma. — Ele solta um sorriso nasal — no começo, pode até ter sido, mas depois de todo esse tempo foi por puro egoísmo, achismo, bobagem! Eu posso ser o pior homem do mundo, mas não deixaria de cuidar do meu filho.

Tento encostar minha mão nele porem ele se afasta bruscamente. Levo as mãos até os lábios e me desfaço em lágrimas.

— Você não sabe o inferno que foi a minha vida. A verdade é que mesmo que eu contasse a você tudo sobre mim, ainda assim duvidaria e não me conheceria. — Ele volta o olhar em mim — eles sabiam, não é? Todo mundo me fazendo de palhaço durante todos esses anos.

Assinto devagar.

Dante dá um soco na parede e grunhi. Eu estremeci.

— Por que as pessoas sempre fazem isso comigo? Talvez eu deveria me tornar aquilo que todos pensam sobre mim. — Indagou calmamente e saiu fechando os punhos.

Minhas pernas ficaram fracas, eu caí no chão assim como as minhas lágrimas. O sentimento de culpa se intensificou, eu o fiz sofrer mais do que ele fez a mim.

Minha boca tremia enquanto eu tentava reorganizar meus pensamentos, as palavras dele talvez nunca mais sairão da minha cabeça.

Ouço passos de alguém vindo na minha direção mas não olho quem era, Beatriz se agacha e segura minha mandíbula com cuidado.

— Eu ferrei com tudo — digo.

Ela se senta ao meu lado e me abraça.

— O Dante me odeia, arruinei o casamento da Anne. Sou uma bomba relógio, em qualquer lugar que eu passe, eu ferro com tudo!

— Calma — ela passa as mãos pelos meus cabelos —, a Anne entendeu a situação. Estão todos no jardim, provavelmente nem estão pensando nisso mais.

— E quanto a ele? Beatriz, durante todos esses anos ele sofreu mais que eu. — Suspiro — eu odeio machucar as pessoas que amo.

Ela olha para mim preocupada.

— Acho que vocês dois precisam de espaço, tudo o que tinha de ser dito já foi. — Ela umedece os lábios — agora devem dar tempo ao tempo.

— Como vou consertar quatro anos em uma semana? — Aperto os olhos com força — eu fui tão burra!

— Filho? — Minha mãe adentra o escritório olhando a bagunça ao redor. — Eu sinto muito por tudo.

— Ela me privou do meu filho, você tem noção disso? — Mordo o lábio inferior com força tentando conter a raiva.

— Eu sei, foi uma decisão imatura.

— Imatura foi pouco! Enquanto eu sofria aqui ela se gabava por lá. Me sinto um idiota.

Minha mãe coloca mão encima do meu ombro e aperta.

— Eu entendo a sua raiva, mas se deseja causar uma boa impressão para o seu filho, sugiro que mude essa cara — ela olha para o escritório detonado. — Daniel está mais assustado que vocês dois.

— Ele é lindo — falo com o primeiro sorriso verdadeiro em meus lábios depois de muito tempo. — A coisa mais bonita que eu já fiz.

Ela sorri.

— Sim, muito. — Sua expressão ameniza — Mas agora deve pensar somente nele. Depois vocês dois se acertam. Eu também não quero que o casamento do seu irmão seja arruinado por conta disso.

— Eu sei, Ryan escondeu muito bem de mim tudo isso, mas ele e Anne merecem um momento bonito.

Ela senta de frente para mim e segura minhas mãos.

— Ver o Daniel lembrou-me de você na infância, na nossa casa em Moscazzano — minha mãe parece pensar longe — éramos felizes antes do seu pai decidir morar aqui.

— Meu pai era um psicopata, só pensava nele mesmo.

— Faça diferente, bambino. Seu pai, Dario, nunca mereceu você. — Os olhos dela parecem marejados — faça Daniel lhe ver como um exemplo a se seguir. Não deixe essas intrigas atrapalharem o amor que você vai sentir por ele.

— Eu nem o conheço e já o amo mais que a minha própria vida, mamma.

Dou dois beijos em sua bochecha, um em cada lado.

— Eu serei para ele o pai que nunca tive.