INDECENTE DESEJO romance Capítulo 12

Afasto o celular que Aurora ainda segura bem rente ao meu rosto e me proíbo de chorar na sua frente. Não sei o que passa em sua cabeça nesse exato momento, no entanto posso afirmar pelas suas expressões que não são os pensamentos mais corretos. Eu poderia explicar para minha irmã tudo desde o começo, mas não existe muito o que explicar quando nem ao menos sei o nome do cara com quem estava me relacionando e a foto no celular é bem clara. Céus, eu nem ao menos sei o que explicar. Não aconteceu nada.

Aurora parece querer avançar em minha direção e descontar toda sua raiva. As íris que geralmente espelham elegância vão de cristalinas a um tom mais escuro de azul a cada segundo e isso me apavora. O silêncio se instaura, fazendo com que suas palavras pesem ainda mais em minha consciência.

Me sinto enganada, usada da maneira mais vil no que parece ter sido um jogo sádico.

Estive poucas vezes com Henrico Zattani quando ele ainda era meu cunhado, lembro—me que minha primeira impressão sobre ele não foi a das melhores. O casamento dele com minha irmã durou tão pouco como a velocidade no qual eles se casaram, embora eu acredite até hoje que casar com um desconhecido tenha sido apenas um ato rebelde de Aurora para chamar atenção de papai, mas não sei dos sentimentos dele para com ela e até que ponto existia verdade naquele matrimônio.

Estávamos jantando quando Aurora ligou e jogou a bomba, papai ainda sonhava em ser governador na época, mas já era influente o suficiente para não querer sua filha casando com qualquer um. Houve muita comoção naquele dia, gritaria demais para algo que deveria gerar alegria e empatia, apesar de não nos darmos bem, desejei  naquele dia que Aurora fosse feliz, mas papai já parecia odiar Henrico com todas suas forças e questionei o quão horrível era o homem para ter tanto ódio sendo gerado para sua pessoa.

— Não vai falar nada? — Pergunta, sua voz evidenciando o claro deboche.

— Saia do meu quarto. — Esbravejo, cansada. Irritação e vergonha queimando todo meu corpo.

Ela rir de forma histérica, parecendo não acreditar no que ouviu. Olho com incredulidade em sua direção, estarrecida com toda a situação e querendo ficar sozinha o mais rápido possível.

— Você está brincando comigo? — Ela grita, exaltada e me preocupo novamente com efeito de todo esse estresse para meu sobrinho.

— Apenas saia do meu quarto, Aurora. —Minha cabeça lateja, sinto que estou chegando no meu limite.

Acaricio minha têmpora para amenizar a dor, enquanto observo de canto de olho minha mãe se aproximar de Aurora.

— Vamos, deixe sua irmã sozinha. Depois vocês conversam e se entendem, as duas estão muito nervosas e isso não fará bem para o neném. — A voz de mamãe é calma, apaziguadora. Sua mão esquerda descansa no ombro de minha irmã, no intuito de levar ela pra fora daqui e encerrar a discussão.

No entanto, eu sei que seu gesto por mais bem intencionado acabou de piorar as coisas.

— Me largue. — Aurora diz alterada, empurrando minha mãe para longe.

O sangue me sobe a cabeça e parto para ela com ódio inflando minhas narinas. Por um segundo, esqueço que está grávida e a peito de igual pra igual, segurando firme seu olhar.

Nenhuma das duas vai ceder.

— O que está acontecendo aqui? — A voz preocupada de Pedro me faz olhar na direção da porta, onde ele se encontra parado nos observando com as sobrancelhas juntas.

— Estou saindo. — Murmuro, olhando na direção de mamãe.

— Ele está usando você. — Aurora fala, usando seu típico tom de indiferença. Passo pelo meu cunhado ignorando seus chamados, a dor de cabeça parece aliviar a cada passada que dou rumo a saída.

Estou agindo no automático quando pego as chaves da Mercedes sobre a mesa, preciso sair dessa casa pra pensar e não cometer nenhuma loucura. Respiro fundo quando fecho a porta atrás de mim.

Eu não dirijo como uma profissional ainda, mas posso me virar bem. Ligo o carro e parto sem rumo certo.

As palavras dele começam a fazer sentido.

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