INDECENTE DESEJO romance Capítulo 17

Inspiro o ar puro, sentindo pela primeira vez desde que saí da cadeia a sensação de segurança e familiaridade. Guilhermino aponta de uma distância para outra com um sorriso estampado no rosto,  orgulhoso de finalmente ter a chance de mostrar o crescimento das lavouras pra mim. Exibido como um pavão.

— Você fez um bom trabalho. — Comento, olhando para a vasta plantação de arroz. — Obrigado por não ter me abandonado e acreditado em mim. — Sinto seu olhar perfurar minha pele, concentrado no que estou dizendo.

Bufa.

— Conheço o seu caráter, moleque. Você nunca mataria uma cobra, mesmo que ela estivesse perto de te picar. — Pego sua referência, franzindo o cenho e fechando os punhos ao lembrar daquela noite.

— Ainda não lembro tudo o que aconteceu. — Comento, vendo as imagens borradas e confusas passando pela minha mente.

Ele suspira, puxando e soltando o ar com força, quase como se algo estivesse atrapalhando sua respiração.

— O quê? — Pergunto, finalmente virando o rosto para encara-lo.

— Você saiu naquela noite para pegar Aurora, era uma noite chuvosa e você estava preocupada que ela ainda não tinha chegado do encontro que tivera com o pai.

— Mas, ela não estava lá.— Completo sua linha de pensamento.

— Exatamente, ao invés dela você encontrou Augusto Leal, atolado no meio da lama. — Um sorriso brota em seu rosto no final e eu o acompanho.

Sim, encontrei aquele velho com o carro afundado na terra.

— Só que ela te ligou. — Volta a falar, trazendo meus pensamentos de volta para o presente.

— Sim. — Afirmo.

— Mas ela não estava lá. — Conclui e ergo a sobrancelha.

— Onde quer chegar?— Pergunto.

Ele revira os olhos e bate no meu ombro, me dando seu olhar de irmão mais velho.

— Você não acha que está na hora de procurar por ela? Seja lá o que tenha acontecido naquela noite, sua ex mulher deve saber. Ao invés, de se preocupar com vingança, você deveria está tentando provar sua inocência. Foque em Aurora Leal. — Suas palavras me deixam tonto, todo esse tempo trancafiado e eu só conseguia pensar que estavam tirando minha liberdade, usurpando o meu direito de ir e vir. Foquei em fazer Augusto Leal pagar, porque sempre soube que ele era o causador do meu sofrimento, mas ignorei o fato de provar minha inocência.

Guilhermino tem razão, está na hora de visitar minha ex mulher.

[...]

Encaro o prédio elegante, vistoso e com uma arquitetura futurista, decidindo se eu espero que ela saia ou simplesmente vá até lá e exija que autorize minha entrada.

Ela faria isso? Me deixaria entrar por livre e espontânea vontade, sorriria pra mim e responderia cada uma das minhas perguntas? São muitas.

— Senhor, podemos encerrar a partida? — O homem de meia idade pergunta, me olhando através do espelho retrovisor.

— Apenas deixe o taxímetro rolar, pagarei cada minuto do seu tem com juros. — Respondo, focando na loira esbelta saindo do prédio elegante.

Sinto minha pulsação acelerar, meus olhos caem direto para o abdômen avantajado, evidenciando o desenvolvimento da gravidez.

— Aqui. — Jogo três cédulas de cem para o taxista, acreditando ser o suficiente já que a corrida não chegou a cem fechado. Pulo para fora do carro, atravessando a avenida movimentada com pressa, ignorando as buzinas.

— Amor. — Digo, a pegando de surpresa ao sussurrar perto do seu ouvido, quando ela já estava dando sinal para um carro preto. Sua mão cai para o ventre arredondado, enquanto a outra passa a apertar a alça da bolsa.

Sinto a tensão emanando de seu corpo e posso jurar que consigo ouvir as batidas do seu coração.

— Eu sabia que você viria em algum momento. — Diz, ainda de costas.

— Sentiu saudades? — Uso meu tom frio, mesmo que no fundo eu esteja fervilhando com uma mistura de sentimentos.

— Estou grávida. — Diz, como se isso fosse me deixar longe. Quase rio.

— Acredite, todo mundo consegue perceber. Vire—se. — Exijo, sentindo seu corpo tremer.

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