INDECENTE DESEJO romance Capítulo 23

Me mantive distante durante o período de um mês inteiro, esperei pacientemente a recuperação de Aurora e observei Amélia se afastar nesse ínterim como se tivesse opção. Eu pensei e pensei, abdiquei de todo meu tempo para fazer uma avaliação profunda do meu plano de vingança e percebi, com certa relutância, que me desviei do objetivo quando trouxe a caçula Leal para o jogo.

Ela não é um predador, mas uma distração perigosa. E eu preciso colocar tudo no seu devido lugar novamente.

— Capitão? — Digo, ouvindo o homem do outro lado da linha rir animado.

— Não me diga que está com saudade. — Provoca, me fazendo repuxar meus lábios em um sorriso contido.

Não, eu não estava. Sair da prisão foi como renascer e ter uma segunda chance e com certeza, sobre nenhuma sombra de dúvidas, tenho qualquer saudade daquele lugar. Porém, eu fiz contatos na cadeia que são necessários aqui fora, como o Capitão, por exemplo. Juan Fernandez é um peruano, naturalizado brasileiro e com um ótimo senso de humor para quem teve uma infância difícil e a má sorte de ter sido adotado por abusadores, hoje em dia ele é um traficante conhecido no submundo do crime, mas extremamente respeitado e é por isso, que preciso de sua ajuda.

—   Quero que descubra algo pra mim. — Falo, sem rodeios. Ouvindo ele soprar o que acredito ser a fumaça do seu charuto cubano.

— Você sabe que eu te respeito e te devo uma, basta me dizer. — Sua voz sai arrastada.

— Eu gostaria de saber qual o maior traficante de Minas gerais, quem faz a droga circular. Na verdade, eu vou te dar um nome e quero saber se ele tem algum vínculo com o tráfico no estado. — Digo, imaginando que se a minha teoria estiver certa, eu não vou só me vingar como também fazer justiça.

— Quem é o cara? — Pergunta, não lhe dou todos os detalhes, apenas um resumo de tudo que ele ainda não sabe.

— O que você vai fazer caso descubra o envolvimento dele? — Volta a perguntar, me fazendo ficar em silêncio pela primeira vez durante nossa conversa.

O que eu vou fazer?

— Reconquistar minha liberdade. — Digo sem titubear.

Para muitos liberdade significa ir e vir sempre que quiser, mas pra mim é diferente. Liberdade significa descansar na minha cama em paz, saber que o meu nome e o da minha família não está sofrendo injúria.

— Certo. — Diz, parecendo compreender minhas poucas palavras sem pedir uma explicação prolongada, afinal eu já estou fora da cadeia. Ele poderia afirmar que já estou livre, mas não, a palavra liberdade também tem outro significado pra ele. — Entrarei em contato quando descobrir o que você quer. — Afirma.

Assinto menso que ele não possa me ver.

— Obrigado. — Sussurro.

Ele bufa.

— Não peça obrigado, Henrico. Estou retribuindo sua ajuda, mas lembre—se... — Fala, pausando. — Sou um traficante e nesse meio não existem favores, apenas pagamentos de dividas. Quando eu der à você o que procura, não volte a ligar, a liberdade é mais difícil de se conquistar desse lado e você quase caiu uma vez.

Assinto mais uma vez, desprezando o fato de que ele não pode me ver concordando e desligo o telefone. Lembrando do exato momento onde quase caí.

Fazia um ano desde que eu tinha sido preso e minha esperança diminuía de acordo com que a raiva crescia, cada dia preso naquela jaula fazia minha indignação e rancor crescer. Odiava cada segundo do dia, mas em uma tarde Saul foi colocado na mesma cela que eu, um homem na faixa dos quarenta anos e com uma aparência tão deslocada daquele local, achei que ele era como eu e tinha sofrido um golpe também. Nos aproximamos e abaixei minha guarda, o deixei entrar na minha mente e manipular minhas ações, tudo porque achei que éramos iguais, injustiçados pelo sistema. Saul soube me persuadir e sem perceber, fazia tudo que ele mandava, até que um dia fui influenciado a levar Juan para sua morte, Saul queria acabar com o concorrente e estava me usando para obter seu desejo. Por sorte, percebi a armadilha à tempo e consegui evitar o pior, eu seria cúmplice de assassinato sem querer. Infelizmente ou felizmente Saul foi morto horas depois, e apesar de desconfiar quem tenha sido o mandante, foi uma morte sem culpados.

Meus dedos ganham vida própria e digitam o nome de Augusto Leal no teclado do meu notebook, levanto meus olhos e verifico se a porta está fechada com a chave, como se eu estivesse a ponto de fazer algo indevido. Sinto minha testa franzir e meu rosto se fechar em uma carranca a medida que vou lendo a notícia.

"O governador Augusto Leal, informa que a filha mais velha e seu primeiro neto gozam de boa saúde. O empresário visitou a filha várias vezes durante o curto intervalo que ela esteve internada. Ele informa que família sempre vem em primeiro lugar. "

Porra, nenhuma!

Esse velho é um mentiroso de primeira e está se aproveitando do mal estar da filha para recuperar seu prestígio, não me surpreendo, no entanto. O chefe da família Leal sempre priorizou o poder antes de qualquer coisa, como seu favoritismo tinha diminuído nas pesquisas e ele já não vinha sendo um governador tão bem falado, devido seu relacionamento com Alencar, usou Aurora para criar uma imagem de pai amoroso e prestativo, assim voltou a ser visto como um homem íntegro e querido. A população compra tudo, como se um homem fosse bom só por ser pai. Conservadores de merda, a porra de um esperma não nos faz digno, uma pensão medíocre não nos fazem melhores e certamente, uma foto sorrindo ao lado dos filhos não quer dizer nada. Fecho a tela do notebook com força, irritado, correndo o risco de quebrar o aparelho e pulo pra fora da cadeira, sentindo minha pele esquentar de raiva.Passo meus dedos pelos fios do meu cabelo, desalinhando a porra do penteado que eu nem mesmo fiz. Ando de um lado para o outro, inquieto, sabendo que meu inimigo reconquistou suas forças e está no auge.

Certo, se derrubar Alencar não foi o suficiente. Então, vamos partir para o seu calcanhar de Aquiles.

Família.

Um sorriso se forma em meu rosto e pego meu celular no bolso esquerdo, discando direto para o detetive que contratei.

— Diga tem algo pra mim. — Falo, logo após ele atender.

— Nada concreto. Apenas suspeitas. — Diz, enigmático.

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