INDECENTE DESEJO romance Capítulo 24

Pisco uma e outra vez, tentando digerir o que mamãe acaba de falar. Seus olhos me encaram com receio e preciso tomar alguns passos de distância para lidar com toda a carga das revelações que ela acaba de fazer.

— Há quanto tempo vocês estão juntos? — Seus olhos enchem de lágrimas e sua cabeça começa a balançar de um lado para o outro em negação.

— Por favor, não me olhe assim. Eu não mereço esse olhar de julgamento, Amélia. — Suas palavras saem afetadas pelo choro, quase as tornando inaudíveis. Abaixo minha cabeça, incapaz de olhar em seus olhos por mais de três segundos. Eu não queria julgá-la. Eu a amo com todas as minhas forças, Dona Anna Maria é minha heroína e meu espelho, mas não posso negar que estou atordoado, cheia de preconceitos.

— Só me responda, por favor. — Ela soluça, não contendo mais as lágrimas e meu corpo estremece, cheio de culpa.

— Foi em uma conferência há alguns meses, você sabe o quanto estou engajada nos serviços sociais que o partido do seu pai prestam, porém, faço por amor, porque me sinto alguém melhor ao ajudar o próximo, garanto que não tenho segundas intenções. No entanto, o marketing do seu pai usa a minha imagem para passar alavancar a reeleição de Augusto e isso tem me saturado, a mídia anda fazendo especulações sobre a veracidade das minhas ações e isso tem me deixado triste, mas seu pai não se importa. — Diz. Ergo minha cabeça e encontro seus olhos vermelhos, mostrando que suas palavras são verdadeiras.

Contudo, ela está enrolando e eu preciso saber. Respiro fundo, sentando sobre minha cama e sentindo meu estômago revirar. Puxo ar para meus pulmões, me esforçando para manter o contato direto com ela.

— Por favor, mamãe. Vá direto ao ponto. — Minha voz sai fria, bem diferente do que eu gostaria de passar e ela percebe. Posso identificar a decepção em sua face.

— Eu preciso contar como tudo aconteceu, você precisa visualizar todo o contexto para entender e me perdoar. Assinto com a cabeça, desejando no fundo, não ouvir mais nada.

— Bem, resolvi ignorar tudo e todos e me afogar nessas ações humanitárias de corpo e alma.

— Por isso você vem passando tanto tempo longe de casa? — Pergunto, sentindo meus olhos arderem ao perceber que ela me incluiu em sua estatística, faço parte do tudo e todos.

Ela desvia o olhar e esfrega suas mãos em sua calça social escura, soltando um lufada ao voltar para me encarar.

— Sim.

Sinto minha boca secar quando tento engolir um pouco de saliva, dando o meu melhor para não sair do quarto. Fugir do que ela ainda tem pra falar. Ela não se importou comigo todo esse tempo também.

— Sei que não é fácil pra você ouvir isso, apesar de tudo, Augusto é seu pai e nenhum filho quer ouvir que a mãe cometeu traição.

Suas palavras se tornam facas afiadas e causam dor em todo o meu corpo.

— Por favor, mamãe... — Peço, não conseguindo me manter parada em um só lugar.

— A conferência tratava da falta de investimento na saúde pública, seu pai deveria estar lá, mas ele me enviou em seu lugar. Eu não sabia que Ezequiel tinha virado médico e nunca imaginei o encontrar depois de tantos anos.

Franzo o cenho ao perceber a maneira como ela fala de seu amante.

— Vocês já se conheciam? — Pergunto. Ela hesita por um momento, mas afirma com a cabeça quando percebe que este é o momento para me falar tudo.

— Nós éramos noivos quando eu fui trabalhar na empresa do seu pai, ele não estudava medicina na época, mas tinha um coração enorme e possuía inteligência de sobra para conquistar um futuro próspero, mas não tinha ambição, ao contrário de mim. — Sua voz sai mais baixa no fim da frase, como se ela estivesse envergonhada.

Noivos?

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