INDECENTE DESEJO romance Capítulo 31

Existe uma inconstância no humor desse homem que só Deus pode explicar, não é possível. Uma hora estamos bem e em outra ele parece querer arrancar minha cabeça fora, não dá pra lidar. Ok, tudo bem, também não sou nenhum docinho. Só que nós estávamos bem até o café da manhã, rindo e conversando como se ele não fosse inimigo declarado da minha família e aí, tudo mudou, do nada. Ele chupou minha boceta na noite passada como se fosse sua sobremesa favorita e agora está com essa cara fechada, digna de quem comeu e não gostou. Só que no caso, ele nem chegou a comer, apenas saboreou.

— O quê? — Falo, jogando os braços pra cima e o encarando de frente. Ele bufa, como se minha pergunta fosse tola e me irrita ainda mais, arrancando toda a paciência do meu corpo.

— Minha blusa fica muito bem em você. — Comenta, tentando desviar minha atenção, já que ele me ofereceu uma de suas blusas depois do comentário que fiz sobre a minha ontem.

— Cuspa o que está te incomodando, Henrico. Apenas, fale. — Digo ríspida, posicionando minhas duas mãos no quadril. O homem me olha, mas continua em silêncio, descendo seus olhos sobre meu corpo e desviando  para um ponto atrás de mim.

— Nada. — Dá de ombros, enfiando uma mão no bolso e puxando junto de um maço de cigarro um isqueiro de cor preta. Olho para o cigarro em sua mão esquerda.

— Você fuma? — Pergunto incrédula. Ele volta a dá de ombros, levando um de seu cigarros para os lábios e o acedendo.

— Apenas quando quero relaxar. — Murmura, soprando fumaça no ar.

— Fumar faz mal para a saúde. — Solto o único pensamento racional na minha cabeça, já que os outros eram sobre como ele fica sexy fumando, tragando de seu cigarro e soprando a fumaça no ar.

Ele sorrir de lado, me olhando com mais atenção.

— Eu sei, mas não é como se soubéssemos o tempo que temos na terra em todo caso. Arqueio uma sobrancelha. — Isso é sério? Este é o argumento que você vai utilizar? — Pergunto e ele rir baixo, mostrando seu divertimento com a minha cara de surpresa e chateação.

— Sim.

Bufo, acariciando minha têmpora para não começar um discurso sobre como ele está fodendo sua vida fumando e... Blá blá blá. Ah, esquece.

— Certo. — Sussurro, juntando minhas duas mãos na frente e forçando um sorriso.

O homem traga mais duas vezes do seu cigarro, andando em minha direção com passos premeditados, causando um comichão no meu corpo.

— Experiente. — Empurra a droga legalmente comercializada em meus lábios, me fazendo fechar a cara.

— Sugue como faz com o ar. — Sussurra com uma voz estrategicamente sedutora, lambendo os lábios enquanto mantém seus olhos presos na minha boca.

Eu sugo, imitando o gesto que ele fazia segundos atrás com o cigarro, enfeitiçada pela sua voz.

Eu seguro a fumaça por mais tempo que deveria e ela fica presa na minha boca, descendo pela garganta e me deixando sufocada. Tusso, toda desajeitada.

Ele rir, mas bate nas minhas costas.

Afasto suas mãos, caminhando dois passos para longe dele ainda tossindo, fechando minha expressão.

— Odeio essa coisa. — Desabafo, apontando para o cigarro com a cabeça.

Ele encara seus dedos, observando o cigarro que eu tinha na boca como se fosse uma obra de arte.

— Fumar é como jogar xadrez, você acha que está no controle, que detém o poder, mas é tudo ilusão. O jogo detém você. — Escuto atenciosamente seu discurso, sentindo que existem bem mais palavras que não estão sendo ditas.

— Então, por quê você fuma?

Ele dá de ombros, abrindo um sorriso sombrio em seus lábios.

— Fumar me ajudou na cadeia, achei que seria um bom costume aqui fora. A nicotina me mantém no eixo e me ajuda a pensar. — Confessa, se recusando a me olhar. Parecendo frágil.

Mordo meu lábio inferior, sentindo minhas mãos formigarem para tocá—lo, segurar seu rosto rente ao meu e me oferecer como substituta do seu vício.

Me beije ao invés do cigarro. Me toque.

Mas, tudo que sai da minha boca é: — Obrigado por dividir isso comigo, Henrico. Mas, eu não acho que sua vida aqui fora deva ser comparada com a que tinha lá dentro. Você está livre.

Seu olhar se ergue de encontro ao meu, ainda mais preto e intenso do que o normal e perco o fôlego. Sentindo minhas pernas bambearem.

— Ainda não, Amélia. Ainda não. — Declara, se aproximando de forma perigosa, insinuando que ainda se sente preso.

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