INDECENTE DESEJO romance Capítulo 32

— Você não viu as fotos nos sites de fofoca? — A voz debochada de Aurora repercute pelo amplo espaço da sala e chega até mim, fazendo com que eu vire meu rosto em sua direção, percebendo pela primeira vez, desde que entrei na casa a sua presença junto da de seu marido.

— Aurora...— Pedro intervém, segurando no braço da mulher, mas olhando pra mim. Olho entre um e outro, confusa pelas palavras da minha meia irmã e pela cena estranha que ainda está acontecendo.

— O que eu deveria ter visto? — Falo, não direcionando minha fala para ninguém em específico, mas desejando uma resposta plausível.

— Ah, por favor.— Aurora diz, se soltando do aperto do marido e jogando os dois braços pra cima em um gesto dramático e teatral, adotando em seguida sua típica expressão de superior. — A puta da sua mãe traiu meu pai e agora o planeta inteiro, sabe. Isto aconteceu. — Rosna, olhando na direção onde meus pais estão.

Meu cérebro demora para processar as informações, mas tudo vai se encaixando quando passo a observa-los melhor. Augusto Leal está ajoelhado aos pés de mamãe, como em um desses filmes estrangeiros cheios de drama que costumo assistir vez ou outra e é a situação mais bizarra que já presenciei em toda minha vida, primeiro porque o grande Sr. Leal não é de se desculpar, segundo, ele está ajoelhado e implorando. Meus olhos aumentam e tudo faz sentido. Ele descobriu.

— Levante-se, Augusto. Pare com essa encenação. — Mamãe esbraveja, parecendo constrangida e irritada ao mesmo tempo.

— Amo você, Anna. Podemos recomeçar, nos dê essa chance. — Papai pede, parecendo sincero em sua palavras. Estou hipnotizada pela cena, evitando até piscar.

— Não posso acreditar nisso. — Autora murmura, olhando na mesma direção que eu. Seu rosto está torcido em uma carranca de incredulidade e chateação, mas também noto a confusão nas íris claras.

— É melhor eu ir, Augusto. Não vou dar nenhuma entrevista, fique tranquila. Só preciso de um tempo.

— Não! Você vai se encontrar com aquele sujeito e não posso aceitar isso, ainda estamos casados e tenho uma imagem para preservar. Se você sair de casa após esses boatos, meus rivais virão com tudo para cima de mim. — Se levanta, mudando sua expressão para algo selvagem, irado.

Mamãe recua, tão surpresa e assustada pela mudança no comportamento de papai quanto eu.

— Que fotos são essas? — Encaro Aurora. Ela bufa, caminhando de um lado para o outro em saltos baixos e um vestido colado que destaca sua barriga de grávida que está maior do que da última vez que nos vimos, a sua forma ganhou mais curvas também e seu rosto está arredondado, a deixando ainda mais bonita.

— Quais fotos, Aurora? — Refaço a pergunta, segurando os olhos azuis da minha meia irmã.

Pedro se põe ao lado dela, tentando fazer com que ela cesse seus passos e se acalme, percebo a faísca de preocupação nos olhos dele todo vez que fita sua mulher e sei que está lembrando dela em uma cama de hospital, correndo o risco de perder seu filho, assim como aconteceu na última vez que ela participou de uma discussão nessa casa. Não o culpo, estou pensando o mesmo.

— Essas fotos. — Papai segura o celular rente com meu rosto e uma foto de mamãe com um homem aparece, junto com um texto e título sensacionalista.

Mamãe está de costas, sendo beijada e acariciada por um homem de cabelos castanhos e cumpridos, o rosto dela está escondido devido a sua posição, mas é possível visualizar o perfil do homem. Desço meus olhos para o texto e leio vagarosamente a manchete, palavras cheias de insinuações e ofensivas compõem o texto, fecho minhas mãos em punhos e certo meu maxilar.

Abutres.

Aves de rapinas.

Como eles conseguiram essas fotos?

— Meu nome está na lama, Amélia. Eu sou a porra do governador desse estado e estou servindo de piada para meus eleitores. — Papai explode, rugindo as palavras e demonstrando uma raiva que estava escondida até então. Desvio meus olhos para Dona Anna Maria, ela está com os ombros caídos e uma expressão derrotada que me dói na alma, lembro da nossa discussão de ontem e a sensação de culpa me atinge, ela é minha mãe no fim das contas.

— Mamãe. — Digo, caminhando até ela. Seus olhos encontram os meus e existe pesar neles, vergonha e algo mais que não consigo identificar.

— Sinto muito, filha. — Diz, tocando meu rosto. Balanço com a cabeça, negando seu pedido de desculpas.

— Você não deve pedir desculpas, eles que te devem isso. — Falo, me referindo aos jornalistas do site de fofoca.

Ela me abraça e retribuo o gesto, a apertando forte junto à mim.

— Onde você estava? — Pergunta baixinho e franzo o cenho, estranhando sua pergunta.

— Na fazenda, você ligou para fazenda pedindo para que eu viesse. — Digo, afastando meu rosto do seu ombro para encará—la.

Ela parece confusa com a minha fala, juntando as sobrancelhas.

— Eu não liguei pra lá, passei a noite tentando rastrear meu carro e não consegui. Você deixou o celular em casa também, estava prestes a chamar a polícia quando meu telefone enlouqueceu com tantas chamadas de jornalistas, foi quando vi as fotos e a confusão já estava estabelecida. — Fala.

Ela não ligou?

Agora eu é quem estou confusa.

— Se a senhora não ligou, então... — Penso em voz alta, parando para olhar cada membro da minha família, percebendo finalmente o que aconteceu.

Foi uma armação.

Idiota.

Idiota.

Idiota.

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