INDECENTE DESEJO romance Capítulo 34

Contrariando o sol de hoje mais cedo o tempo fechou e o céu está carregado de nuvens pesadas, escuras e prontas para liberarem litros e litros de água. A chuva sempre me enfeitiçou, quando eu era pequena os dias chuvosos eram os melhores pra mim, simplesmente porque eu fazia manha até não precisava ir a escola e lidar com todas as piadas infantis sobre ser a filha da amante, uma bastarda que não merecia está no mesmo lugar que eles, os filhos legítimos de suas boas e dignas famílias.  Fecho a expressão com a lembrança e desvio meu olhar para o porta retrato que mantenho na mesa junto com meu notebook, uma foto minha e de Dona Anna Maria, quando eu tinha apenas cinco anos e estava começando a perder os dentes. Ella está sorrindo como se estivesse muito feliz, completamente oposta da mulher que vi hoje. A deixei no seu quarto quando subimos hoje mais cedo e até agora não voltei a vê-la, ela me dispensou com poucas palavras, dizendo que precisava ficar sozinha e bateu a porta na minha cara. Eu também não a questionei e fiquei no meu quarto desde então, precisando ficar sozinha também. Pedi para que Rosária, nossa chefe preparasse algo leve para o almoço e enviasse direto para os quartos.

A primeira gota de chuva cai e bate contra a minha janela, descendo pelo vidro de forma vagarosa, como se esperasse pelas outras. A segunda cai,depois a terceira até que eu perca a conta e passe a observar apenas a chuva forte em toda a sua magnitude. Perco a noção do tempo, tentando não pensar nos últimos acontecimentos, meu ressentimento por mamãe ter omitido seu relacionamento com outro homem ainda está forte, mas não é maior do que o amor e a admiração que sinto por ela e por isso, eu me coloquei em seu lugar e apenas joguei toda essa droga para o esquecimento.  Só que papai não vai esquecer uma traição e tenho medo da retaliação que virá. Se tem uma coisa que aprendi com papai durante todos esses é que honra é algo precioso para ele e sua reação hoje mais cedo foi além de estranha, ele parecia fora de si em certos momentos e extremamente controlado em outros, como se estivesse travando uma batalha consigo mesmo e isso me deixou em alerta. Mas com o passar do tempo, eu entendi, ele foi traído e não sabia como lidar. O grande Senhor Leal levou uma rasteira e isso o deixou desestabilizado. Inspiro, puxando o ar para meus pulmões, ainda olhando para a chuva através da janela, afastando as imagens do homem que divulgou informações tão privadas e trocou a minha confiança pela sua ideia de vingança. Balanço a cabeça, afastando sua imagem da minha mente.

Foque no real, Amélia. Você tem assuntos mais importantes para lidar. Esqueça o maldito bastardo.

Encaro o celular, percebendo que já passa das 18:00 e meu estômago ronca, reclamando da falta de comida. Saio de perto da janela e calço meus chinelos, pegando um moletom verde musgo e o vestindo sobre o vestido simples que estou usando. Não consigo conter o gemido de desgosto quando passo de frente o espelho e visualizo a marca roxa no meu pescoço. Maldito. Essa mancha esteve aqui esse tempo todo? Inspeciono meu pescoço, procurando por mais marcas e encontro dois outros pequenos pontos roxos. Rosno, querendo me estapear por ter sido tão burra e caído no seu jogo de manipulação.

Ele me usou, roubou informações privelegiadas e não pensou duas vezes antes de vazá—las pra mídia.

Cretino.

Eu só não consigo entender como ele obteve aquelas fotos tão rápido. Bufo.

Ele realmente já deveria saber do caso extraconjugal que minha mãe estava tendo e encenou pra mim.

Cretino.

Cretino.

Cretino.

Mas, chupa tão bem.

O quê? Droga, não. O que estou pensando.

Foco, Amélia.

Torço o rosto pra meu reflexo no espelho, desgostosa por ter suas marcas no meu corpo. Dane—se, ele não me importa mais.

Deixo o quarto e sigo rumo as escadas, ponderando quando cinco passos e vejo a porta do quarto de mamãe. Talvez eu deva bater na porta e perguntar se ela quer algo pra comer, ou... Se está bem.

Vamos lá, Amélia. Pergunte a sua progenitora se ela está bem. Vá e fale com ela. — Grito em meus pensamentos, incentivando a mim mesma a tomar o primeiro passo, já que não tivemos uma conversa real desde a nossa última briga.

— Certo, eu posso fazer isso. — Murmuro em tom baixo, apenas pra mim mesma e sigo para sua porta, decidida a bater e chamar por ela.

— Ela saiu. — Alguém fala e viro meu rosto para identificar Pedro à poucos passos de mim.

Arqueio uma sobrancelha.

— O que você está fazendo aqui ? — Questiono e ele rir, divertido.

Ele dá de ombros quando percebe que é o único sorrindo.

Céus, eu nem sei o motivo dele está sorrindo diante de tanta tensão.

— Aurora resolveu ficar e apoiar o pai de vocês. — Diz como se fosse óbvio e assinto, percebendo que isso é bem a cara dela.

— Certo. — Digo, ainda não entendendo o motivo dele está nesse corredor, já que o quarto de Aurora fica antes desse.

Sua expressão é indecifrável enquanto nos olhamos em silêncio e me sinto desconfortável com sua presença, algo que nunca pensei que pudesse acontecer. Mas algo mudou desde o hospital, temos nos falado bem menos e um muro parece ter sido construído entre a gente.

— Vou comer algo. — Digo, usando a minha fome como desculpa.

— Espera. — Diz, segurando minha mão quando passo por ele.

Meu corpo gela e a sensação incomoda aumenta agora que tenho seu toque sobre mim. Tento me soltar de forma discreta, dando um passo para longe dele sem parecer proposital e o encaro, dando—lhe a deixa para que fale.

— Não gosto desse clima estranho entre nós. — Estica a mão e acaricia minha bochecha, pondo uma mecha de meu cabelo que estava solta para trás.

Franzo o cenho, estranhando seu gesto.

O que há com ele?

— Nós estamos bem. — Declaro, mesmo não sendo verdade.

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