INDECENTE DESEJO romance Capítulo 38

Olho minha mãe ainda adormecida sem acreditar nos últimos acontecimentos. Checo se ela ainda está dormindo, beijo o topo de sua cabeça e saio do quarto com a mente pesada. Fecho os olhos e puxo um pouco de ar para meus pulmões, soltando logo em seguida. Um escape, isso é tudo do que preciso.

— Oi. — Abro os olhos, dando de cara com Pedro bem próximo, ele está sério e seu olhar está duro e irritado. Fecho minha expressão, ignorando sua presença e passando direto por ele, lhe dando as costas. 

— Precisamos conversar. — Diz, segurando meu braço para me impedir de continuar andando.

— Não temos nada o que conversar. — Digo ríspida, puxando meu braço do seu aperto. Ele não solta, pelo contrário, aperta mais forte.

— Temos, você sabe que temos. Por favor, Amélia. — Diz, usando um tom mais suave. Sua mão livre toca a minha cintura e ele me vira de frente.

Empino o nariz e prendo meu olhar no seu, não me deixando ser intimidada. — Cuspa logo o que você quer. — Rosno, odiando ainda tê-lo me tocando. Ele suspira, abaixando o olhar e afrouxa o aperto, afastando suas mãos de mim em seguida. Continuo firme, ainda o encarando de cima.

Ele fez merda, não eu. Não tenho do que me envergonhar.

— Sinto muito. — Sussurra, parecendo constrangido ao mesmo tempo que frustrado. Fico em silêncio e ele volta a me olhar.

Coça a nuca, desconcertado.

— Céus, Amélia. Eu nem sei o que deu em mim, ok? Você precisa compreender. — Bufo, ainda não falando nada.

O que ele quer? Que eu diga que está tudo bem ele ter tentado me beijar?

Que podemos agir normalmente como se nada tivesse acontecido? Não, definitivamente não.

Em outra época eu adoraria ter sua boca na minha, sentir seu toque e ter seus carinhos. Mas algo mudou, minha irmã está grávida e agora tem...

Solto um suspiro frustrada, percebendo que meu inconsciente o colocou na situação sem que eu percebesse.

Agora tem Henrico.

— Você tentou me beijar mesmo com a minha irmã grávida. — Rosno, não me compadecendo de sua expressão arrependida.

Eu gostava dele quando Aurora e ele começaram um relacionamento, todos sabiam disso. Eu era uma adolescente bobinha, mas tinha certeza dos meus sentimentos e agora, observando com mais maturidade, Pedro também sabia do que eu sentia e sempre agiu com naturalidade, nunca me deu esperanças, mas também nunca me espantou para longe, como se vê—lo com a minha irmã diariamente não me machucasse.

Eu aceitei, aprendi a lidar e conviver com o fato de que ele não era meu, então porquê diabos ele está tentando reviver isso agora?

— Eu pensei que você queria. — Diz, soando bem mais com um pensamento solto do que uma confissão.

Estalo a língua, sentindo meu sangue ferver se repente.

— Você achou que eu queria beijar o marido da minha irmã? Achou que depois de todos esses anos andando atrás de você como uma cadelinha finalmente estivesse pronta para receber meu prêmio? — Bufo, olhando com nojo pra ele.

Sua expressão muda para algo sombrio e ele me olha com deboche, descendo e subindo seu olhar pelo meu corpo.

— Não adianta fingir, nós dois somos adultos agora e eu sei que você sempre quis. — Dá um passo na minha direção, acabando com a distância entre nós, ponho uma mão entre nós, impedindo que seu peito encoste no meu.

— Eu quero que você fique longe de mim. — Um sorriso molda seus lábios e ele passa a língua pelo lábio inferior, trazendo sua mão esquerda para meu rosto.

— Não acho que você queira isso. — Diz, usando um tom sensual, aveludado, cheio de luxúria.

Meu estômago revira e minha pele queimar onde ele toca.

— Ah, você está aí. — A voz aguda da minha irmã o faz se afastar de forma abrupta.

— Seu pai chegou? — Diz, cínico. Caminhando até Aurora em passos firmes e a enlaçando pá cintura redonda pela gravidez.

Os olhos da minha meia irmã desviam do marido e seguem até mim, ela os aperta os mantém firme.

— Ele quer falar com você. — Diz, devolvendo o abraço de Pedro sem desviar os olhos dos meus.

A cena toda me faz querer vomitar, então dou as costas e deduzo que ela esteja falando com o marido.

— Com você também, irmãzinha. — O tom cortante e debochado não passa despercebido, suspiro e viro novamente para eles.

Ok, posso lidar com isso.

Passo por eles sem falar nada, embora sinta o olhar de ambos queimando em mim.

Certo, se Augusto Leal quer falar comigo significa que tem outra bomba prestes a explodir e não tem como evitar. Chego em seu escritório em poucos minutos e não bato ou espero que ele me diga para entrar, apenas abro a porta e acomodo na poltrona.

— Papai. — Digo, o observando se servir um copo de uísque.

Ele tem bebido muito ultimamente.

— Sua mãe está dormindo? — Pergunta, ainda de costas.

— Sim, ela tomou alguns calmantes. — Declaro, estranhando a tranquilidade em seu tom.

— Bom. — É tudo que diz, antes de Aurora e Pedro adentrarem o escritório de mãos dadas.

Fecho minhas mãos em punhos, sentindo minhas unhas cortarem a pele da minha palma, não por estar incomodada com os dois juntos, mas pelo asco que a presença dele me traz agora.

— Bem, reuni a família para informar das últimas notícias, já que em poucas horas seremos alvos de fofoca. Hoje, Ezequiel foi encontrado morto junto do corpo de uma mulher jovem, ao que tudo indica uma prostituta de esquina e a mãe de vocês foi a primeira a chegar no local.

— Ela não é minha mãe. — Aurora rosna em protesto.

Franzo o cenho.

— Mulher? Que mulher? Você não tinha falado em mulher hoje mais cedo. — Me exalto, tomando as dores de mamãe por instinto.

Papai me olha de forma severa e arqueia uma de sua sobrancelhas.

— Desculpe se eu não tive tempo de lhe passar um relatório, Amélia. Estava ocupando tentando livrar a sua mãe de uma cena de crime. 

— Livrando mamãe...— Pauso, analisando suas palavras. — Estou confusa. — Confesso.

— Ezequiel cometeu suicídio, mas a mulher tinha um tiro no meio do peito, indicando que foi assassinada. Ambos tinham grande quantidade de drogas no corpo, não de apenas um tipo. — Minha cabeça latejando processando as informações que Pedro, não meu pai, está me dando nesse momento.

Viro meu rosto pra ele e o olho confusa.

Como ele pode saber de tantas informações se nem eu sabia?

— Não consigo entender, ele e minha mãe... — Começo a falar, mas sou interrompida pro estrondo do punho de papai batendo contra a madeira da mesa.

— Sua mãe e ele não tinham nada, entendeu Amélia? Armaram contra ela, forjaram fotos e forçaram um envolvimento que não existia.

O quê? Não.

O encaro incrédula.

— Ela o amava, você sabe. Ela ia pedir o divórcio e ficar com ele. — Falo, lembrando da conversa que tivemos sobre Ezequiel.

— Não. A mulher que acharam morta junto dele era a mesma das fotos, alguém que sabia do passado de sua mãe com esse sujeito quis forçar uma situação para me prejudicar, acabar com nosso casamento. — Franzo o cenho, não compreendendo onde ele quer chegar.

Mamãe e Ezequiel tinham sim um caso, as fotos não foram forjadas, ela mesma admitiu.

— Este é o melhor caminho, Amélia. Não se sabe ainda quem matou a garota, pode ter sido o próprio Ezequiel ou outra pessoa, o melhor é que nem a polícia e nem a mídia saiba que sua mãe foi a primeira  no local do crime. — Pedro fala, trazendo calafrios para meu corpo.

— Eu ...

— Você precisa aceitar essa versão da história, Amélia. Sua mãe teve um passado com Ezequiel, mas acabou antes dela se casar comigo e quando a mídia descobriu, forjou todo um cenário para me afetar. Isto até mesmo pode ter sido feito por um inimigo, não acha? Você consegue pensar em alguém, hum? — A insinuação em sua voz deixa claro de quem fala e meu peito aperta.

Henrico.

— Alguém pode ter matado aquela mulher para prejudicar sua mãe e de quebra, me prejudicar. Imagine só a notícia, mulher de governador flagra amante com outra mulher e mata ambos.

— Você disse que ele se suicidou. – Sinto minha cabeça latejar.

— Você sabe como é a mídia, querida. — Dá de ombros, vindo parar ao meu lado e segurando minha mão.

— Alguém quer nos prejudicar, Amélia. Preciso da sua ajuda para convencer sua mãe a adotar essa versão da história, vamos agir como a família unida que somos, alegrarei que ela estava comigo a noite toda e tudo que ficará bem.

— Ela não vai aceitar, se alguém matou Ezequiel mamãe vai ser a primeira a querer descobrir a culpada. — Bufa, irritado e solta a minha mão.

— Você não enxerga a gravidade disso, não é? — Grita. — Nós somos pessoas públicas, a mídia é sensacionalista e faz sucesso em cima da desgraça alheia, eles vão destroçar sua mãe e acabar com minha carreira, isto é o que você quer? — Sua voz sai dura, cortante. Forço a saliva pela minha garganta e ela desce rasgando, tendo dificuldade para descer.

— Talvez, eles acreditem. Mamãe não fez nada, sempre aparece fazendo trabalhos voluntários e se Ezequiel e essa garota eram realmente um casal usuário de drogas, que assassinou a garota provavelmente foi um traficante. — Tento persuadir papai, mostrando um ponto de vista que acredito ser convincente.

— A mídia tem fotos, de um jeito ou de outro sua mãe será intimada na delegacia e virará um suspeito, mas você pode salvá—la se quiser. — Diz, voltando para o meu lado, erguendo o meu queixo para que o encare.

Crispo o cenho.

— Como? — Murmuro.

— A convença de falar exatamente o que papai lhe disser, a mande negar seu envolvimento com o tal Ezequiel. Ela não deu nenhuma resposta até agora sobre as fotos, então, a convença a desmentir o suposto envolvimento. Papai será o álibi perfeito. — Autora intervém, tomando a fala.

— Depois vou enviar vocês duas para fora do país, apenas até as coisas esfriarem. Sua mãe precisa de você, querida. Posso contar com sua ajuda? — Suas palavras saem doces, mas sinto o amargo em minha boca. Ele percebe minha indecisão, então se aproxima e beija meu cabelo em um gesto paternal.

— Nós temos muitos inimigos, eles tentarão de todas as maneiras nos atacar, princesa. Não se engane, meus inimigos são seus inimigos. — Diz, insinuando mais uma vez que Henrico está por detrás de toda essa história, que ele está me usando.

Meus olhos se enchem de lágrimas, mas luto para não deixá-las cair. Eu me sinto sozinha mais uma vez, enganada, deixada de lado.

Ele me usaria? Isso não faz sentido. Eu senti no toque, nas palavras, no olhar.

Mas alguém fez, mamãe pode ser presa e acusada por um crime que não cometeu.

— Sim. — É tudo o que consigo dizer, pensando não em mim, mas nela, na pessoa que eu mais amo na vida.

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