INDECENTE DESEJO romance Capítulo 43

No dia seguinte a conversa com mamãe, fui até a casa de Melissa para contar da novidade, mas voltei ao presenciar a cena traumática dela e do marido sem roupas no chão da sala. Eu não sabia que grávidas poderiam ser tão flexíveis. Na tarde daquele mesmo dia, recebi uma ligação sua para ir até o médico responsável pelo seu parto, mesmo sem graça aceitei o convite e Lorenzo nos deixou lá. Fiquei emotiva ao ouvir o coração da pequena Sol batendo, meus olhos encheram de lágrimas e Mel me olhou com carinho, nenhuma de nós fez qualquer comentário, porém, era nítido no meu semblante no que eu estava pensando. Meu sobrinho.

Foi uma tarde agradável até voltar pra casa e não encontrar minha mãe em qualquer lugar, por um momento achei que ela tivesse ido embora e me deixado pra trás. Não seria um choque, de qualquer maneira. Faz algum tempo que minhas expectativas pelos membros dessa família estão baixas. Uma irmã que me odeia, um pai que escolheria sua carreira em primeiro lugar e uma mãe mentirosa.

Não é atoa que cedi ao álcool antes de enlouquecer.

— Leal não significa lealdade na nossa família, Melissa, mas, não se deixe levar pelas minhas confissões. Aurora também passou por muito e precisou ser forte. — Falo, virando o sexto copo de tequila. Seu rosto está torcido em uma careta quando me sirvo de um pouco mais do líquido quente, porém, ela não me para.

— Sua relação com Aurora é tão ruim, assim? — Indaga, demonstrando um verdadeiro interesse na resposta. Dou de ombros, tentando me lembrar de algum momento que as coisas não tenham sido ruins com minha meia irmã.

— Ela me odeia. — Explico, após refletir por longos segundos.

— Sempre quis ter uma família grande, mas perdi meus pais ainda menina e fui criada por uma tia. Ela era casada, mas nunca quis filhos. — Explica.

— Onde ela está? Sua tia. Não me lembro de ninguém aqui além de você, Vicenzo e Lorenzo.

— Ela está morta. — Confessa e me arrependo de ter feito a pergunta.

— Sinto muito.

— Tudo bem, já faz alguns anos e como te falei, sei lidar com a perda melhor do que a maioria das pessoas. — Assinto, a olhando sobre uma nova perspectiva.

Um silêncio se instaura e quando confesso do meu romance proibido com Henrico e falo que ele é ex de Aurora, coloco a mão na boca e prometo nunca mais beber na vida.

— Você está apaixonada por ele? —Questiona e resolvo que não quero falar sobre meus sentimentos.

— Henrico e eu não vai funcionar. — Falo.

— Ele era o marido dela, sabe. Lorenzo. — Encaro o líquido transparente e descarto na grama.

— Marido de quem?

—Minha tia. Lorenzo era marido dela, nos envolvemos depois de sua morte quando eu ainda tinha dezessete. — Fico tensa, não tendo certeza se estou fantasiando a história. É surreal demais pra ser verdade.

— Você está dizendo que seu marido é... seu tio? — Me atrapalho nas palavras, sentindo o álcool fazer efeito.

— Não e sim. — Fala e junto a sobrancelhas, me inclinado pra frente. Só bebo água daqui pra frente.

Melissa tenta relaxar na cadeira de balanço, mas o assunto e a barriga não permitem, então, ela só toma um pouco de coragem e começa a falar. No início, não consigo esconder minha incredulidade para suas artimanhas, se relacionar com homens mais velhos está e tornando banal nas últimas décadas, mas muitas visam apenas o dinheiro e esse não é o caso dela. Melissa se apaixonou pelo tio quando passaram a conviver sobre o mesmo teto, Lorenzo se tornou possessivo, mas resistiu no começo. A história arrepiou cada pelo do corpo, apesar, de ter certeza de que fui poupada dos momentos sórdidos. Eles não possuem o mesmo sangue e ela assegurou de que houve consentimento em todos os ato.

— Eu quase o enlouqueci, tadinho. O perseguia como um gato persegue o rato. — Fala contemplativa, não escondendo o sorriso malicioso no rosto quando se perde nas memórias. Minha pele esquenta e culpo o álcool por isso.

— Por qual motivo me contou? — Questiono, sentindo o peso do sono em meu corpo e pálpebras.

Ela passa a língua entre os lábios, ganhado tempo ou saboreando os últimos resquícios do suco de espinafre que tomou.

— Falei porque achei que devia falar, você me contou sobre Henrico e achei justo dividir esse segredo. Nós viemos pra cá para começar uma vida do zero, não tínhamos nada nos prendendo no Brasil. — Dou um sorriso preguiçoso, encantada com seu rosto arredondado e sua consideração. Ela não precisava me falar, é a vida dela, mas estou feliz de ser digna de sua confiança.

— Obrigado por dividir isso comigo, Mel. Seria incrível de ter como irmã. — Balbucio, quase fechando os olhos.

— Quer passar a noite aqui? — Pergunta e nego com a cabeça, esfregando meus olhos com os dedos.

— Preciso checar minha mãe.

— Amélia? — Chama quando fico de pé.

— O quê? — Minha voz sai arrastada pelo sono, pelo álcool, pelo cansaço.

— A verdade é que tenho outro motivo por ter te contato essa história. — Diz e fico curiosa.

— Mesmo?

Bocejo.

— Depois que minha tia morreu, descobri que meu pai não era meu pai biológico e que eu possuía família. Um tio e duas primas, para ser exata.

— Um tio e duas primas? — Repito.

Ela afirma com a cabeça.

Minha têmpora lateja.

— Onde eles estão?

— Eles não sabem da minha existência.

— Por quê?

— Tenho medo de não ser aceita. — Acabo sorrindo, porque é exatamente o que sinto cada vez que acordo pela manhã.

— Nunca vai saber se não tentar. O quão ruim eles são?

— Meu tio é supostamente envolvido com política. — Meu sorriso aumenta, visivelmente compreensivo.

— Entendi seu ponto, essa espécie é complicada mesmo, mas eu sobrevivi e você ainda suas primas.

— Amélia, tenho que te falar algo que talvez você nem se lembre ao amanhecer, mas tenho fama de ser impulsiva e preciso falar antes que a chama da coragem se apague. — Decoro a letra da canção que está tocando baixinho no rádio da cozinha e tento não me perder na melodia. — O nome do meu pai era Daniel Leal.

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