INDECENTE DESEJO romance Capítulo 52

—O que está acontecendo aqui, porra?— A voz de papai faz Pedro se afastar de forma abrupta e eu respiro aliviada, dando graças ao santíssimo por isso. Olho agradecida na direção do meu progenitor, mas, tudo que vejo é o rosto ranzinza ainda mais fechado, sério, completamente irado.

— Pedro, venha ao meu escritório. — Meu pai fala, a voz calma contradizendo sua expressão facial. Ele passa por nós como um foguete e bate a porta do escritório. Pedro beija o filho que ainda está nos meus braços e faz o que foi pedido, não demonstrando nenhum receio em se trancar em um local fechado com Augusto Leal.

— O que falei sobre esse sujeito? — Minha mãe se aproxima, com uma carranca ainda pior que a do meu pai.

— Não fiz nada. — Me defendo, ninando o pequeno Arthur. Ele se contorce, meio agitado com o barulho das vozes e minha mãe abaixa o tom de voz.

— Eu vi, cheguei junto de seu pai e vi quando ele te beijou.

— Então, você viu que eu não correspondi.

— Não importa, esse sujeito é perigoso e a quero longe dele.

Dou uma risada sem graça e a encaro incrédula, sentindo cheiro de mentira. Com essa família nada é preto no branco, sempre tem mais.

— Perigoso? Este é Pedro, apesar das suas atitudes desagradáveis nos últimos meses, ele não é um cara mal.

— Você não o conhece como eu, agora me dê Arthurzinho e vá para seu quarto arrumar as malas, vou te mandar para o hotel. — Diz séria, tomando meu sobrinho dos meus braços.

— Não estou entendendo, quero respostas. A senhora está estranha desde que voltamos e não pense que engoli essa sua nova lua de mel com meu pai. Não cometa o erro de continuar me deixando no escuro.

Ela torce o rosto e deposita a cabecinha do meu sobrinho em seu ombro.

— Sou sua mãe e não lhe devo satisfações, estou fazendo isso para seu bem. Suba e arrume suas malas.

— Não. Estou cansada de meias explicações, sou maior de idade e se não me der uma resposta convincente, vou ficar exatamente onde estou. — Me posiciono, segurando seu olhar com o meu e cruzando os braços.

Tá na hora de crescer, não sou mais criança e exijo ser tratada como tal. Alguém vai ter que me explicar o que raios está acontecendo. Estou travando minha própria guerra fria com mamãe quando Pedro sai das catacumbas do inferno e toma Arthur dos braços da minha mãe. O homem parece alucinado, completamente fora de si.

— Você vai machucá-lo. — Reclamo, tentando tirar meu sobrinho dos braços dele, mas sou ignorada e ele sai sem dizer uma palavra. Fico sem entender nada, mas o homem sobe a escada em passos largos e rápidos sem olhar pra trás.

Que diabos.

— Ele não serve pra você. — Mamãe fala, me fazendo desviar os olhos das costas do homem para ela.

O quê? Perco a linha do pensamento e só entendo sua insinuação quando ela desvia o olhar pelo mesmo caminho que meu cunhado seguiu. Ah, isso. Ele e eu.

Certo.

— Não precisa se preocupar quanto a isto, minha adorável progenitora. Pedro e eu não temos nada. Nunca teremos. — Ressalto a última parte para que entenda.

— Não é o que ele pensa. — Persiste e começo a pensar que ela viu algo além de hoje.

— Não precisa se preocupar. Pedro e eu não temos e nem teremos nada. — Afirmo dando o primeiro passo pra longe dela em direção a escada, mas ela está dura na queda e segura minha mão, impedindo que eu avance em meus passos.

— Nós éramos amigas, Amélia. Contávamos tudo uma para outra, você confiava em mim, quando isso mudou? — Seus olhos estão tristes, ressentidos e um nó se forma no meu estômago.

— Quando você escondeu seu amante de mim. — As palavras saem sozinhas da minha boca e como facas afiadas cumprem o seu papel.6

— Eu não queria te envolver nos meus problemas. — Se defende.

Bufo, me desprendendo do seu aperto.

— Bem, você não só me envolveu como também envolveu o país inteiro. O seu caso com Ezequiel teve repercussão nacional e quando ele morreu a comoção foi ainda maior. Eu me coloquei no seu lugar, me envolvi na sua dor e sofri junto, mas agora você está vivendo um romance sórdido com meu pai como se nada tivesse acontecido. — Sua mão estala no meu rosto sem aviso, marcando minha pele e amargurando ainda mais meu coração. Cubro a pele ardida com minha palma e a encaro, ainda em choque pelo seu ataque.

— Você vai para um hotel. — Diz firme, mantendo os olhos baixos.

Nego com a cabeça, sentindo meus olhos encherem de água salgada.

— Não, eu não vou. — Digo, mantendo minha voz fria, controlada e lhe dou as costas, segurando as lágrimas até que meus pés estejam no terceiro degrau da escada.

Bato a porta atrás de mim assim que adentro meu quarto, seguindo direto para o grande espelho na parede para checar o estrago do seu tapa no meu rosto. Minha pele está vermelha e marcada, mas isso não incomoda tanta como a decepção instalada no meu peito.

Ela me bateu.

As lágrimas pesam e começam a descer e nesse momento eu me sinto completamente sozinha, sem ninguém.

Minha irmã me odeia. O homem que eu acreditava ser meu amigo quer me ter como sua amante. Meu pai é... Augusto Leal. E, Henrico não confia mais em mim. Nossas conversas não duram mais que um minuto e tudo se resume a sexo. Não tenho amigas, não posso contar com ninguém.

Me deito sobre a cama, me permitindo ter esse momento e choro por toda uma vida dirigida pelos outros. Penso em ligar para Mel e acabo sorrindo, lembrando da promessa que fizemos. Mas descarto a possibilidade quando lembro que envolvê-la no nosso drama significa expor nosso parentesco e trazer informações do seu passado que resultariam em sofrimento. Sobrinha casou e teve filhos com tio, já imagino a proporção do escândalo. Mergulhar na nossa família é ceder a Augusto e suas regras. Cada ação, desejo e realização foi administrada por ele e não por mim. Não posso mais permitir que seja assim, não posso! Sento sobre a cama e enxugo minhas lágrimas, correndo para o banheiro em seguida e lavando meu rosto.

Chega de chorar.

A partir de hoje minhas decisões, certas ou erradas, serão tomadas por mim. Começando pelas roupas que decido trocar. Vou até meu guarda-roupa e escolho uma calça jeans preta e uma camisa branca simples, sem mangas, pego uma jaqueta preta de couro que comprei em um ato de rebeldia tem um ano e coloco.

Decidida a ir para o único lugar que me traz paz e posso encontrar algum alento, passo pela porta com um sorriso no rosto já imaginando o rostinho de Vivi e Dieguinho ao me encontrarem depois de todos esses meses. Estou em dívida com eles, não fiz nenhuma visita desde que cheguei de viagem e estou coberta de saudade, mas meu sorriso morre assim que levanto os olhos e encontro Aurora desacordada nos braços de Pedro.

— O que aconteceu? — Pergunto alarmada, correndo para junto deles.

— Ela desmaiou, vou levá—la até o hospital. Você pode pegar Arthurzinho pra mim, por favor? — O olho sem ação, aturdida com tantas informações.

Preocupada com a inconsciência da minha irmã toco seu rosto.

— Vamos, Amélia. Pegue meu filho e me acompanhe. — Faço o que ele pede e entro no quarto, parando na metade do caminho já com Arthurzinho nos braços. — Não é melhor deixa—lo aos cuidados de uma babá? — Pergunto, observando que ele parece impaciente.

— Não vou deixar meu filho. Não confio em ninguém aqui, basta trazê-lo até o carro. — Fala, meio que rosnando e balanço a cabeça não quero contrariar. Nós dois seguimos até o carro, ele carregando Aurora e eu Arthur.

— Coloque na cadeirinha. — Ordena, posicionando Aurora do lado do passageiro.

A cena é estranha, meio bizarra e tenho a sensação de quem algo está errado, mas coloco meu sobrinho na cadeirinha e checo o cinto de segurança.

— Pronto. Você quer que eu ligue para o médico dela?

— Não! — Grita, me assustando. — Não precisa se preocupar, já o informei. Você pode me acompanhar? — Seu tom se torna mais suave e estranho, ele parece bipolar hoje.

— Eu...

— Por favor, preciso que olhe seu sobrinho. — Ele joga comigo, usando um argumento que sabe que não vou negar.

— Tudo bem. — Digo, dando a volta no carro para entrar pela porta livre. Ele faz o mesmo, parando na posta do motorista.

— Amélia, não entre nesse carro! — Alguém grita e estanco, procurando pelo dona da voz.

— Hen... Henrico? — Gaguejo, piscando algumas vezes para checar se não é uma miragem.

— Saia de perto dela seu desgraçado. — Henrico rosna para Pedro, praticamente pulando do carro para avançar no marido da minha irmã.

A cena toda passa em câmera lenta como em um filme.

Pedro tira uma arma não sei de onde e aponta na direção de Henrico, fazendo meu coração quase saltar pela boca.

— Não se aproxime. — Pedro rosna, mantendo a arma apontada. — Você, entre no carro. — Fala pra mim, mas não me movo. Estou assustada demais para me mexer.

— Agora, porra! — Pedro grita, me tirando do transe. Encaro os dois homens sem saber como agir. — Não estou brincando, Amélia. Entre no carro. — Sua voz sai quase irreconhecível e mexe com meu psicológico, assustando até minha alma. O homem na minha frente parece completamente do cara que conheci um dia, seus olhos carregam algo sombrio e gélido, deixando claro que ele é capaz de tudo.

Olho para dentro do carro, onde minha irmã e sobrinho estão e também sinto medo por eles.

— Não. — Henrico fala, percebendo minha indecisão. Encaro seu rosto expressivo, parecendo tão angustiado quanto o meu. Abro a porta do carro e entro dentro, não desviando meu olhar nenhum segundo do seu. Sinto muito.

Escuto ele rugir, xingando alto.  Então observo mamãe e alguns empregados deixarem a casa, sendo surpreendidos pela cena. A confusão está formada, existem gritos e uma arma sendo engatilhada, depois um disparo.

Henrico.

Abro novamente a porta e tento correr, mas Pedro me segura antes que eu tenha a oportunidade e encosta a pistola no meu pescoço, fazendo uma ameaça silenciosa. Meus olhos se enchem de lágrimas quando avisto um homem ferido, sangrando no chão, mas não posso enxergar seu rosto devido a quantidade de pessoas que o cercam, incluindo minha mãe.

As lágrimas descem e eu não me importo mais com a pistola contra meu pescoço, tento me desvincular de Pedro.

— Quieta, entre no carro ou o próximo tiro será na sua preciosa mamãe. — Sussurra no meu ouvindo, amedrontando cada célula do meu corpo.

Meus olhos caem sobre ela no mesmo instante que ela também me olha, existe sangue em suas mãos e roupas e então posso ver que ela segura um corpo.

Guilhermino.

Não foi Henrico, foi Guilhermino quem levou o tiro.

— Entra. — Pedro me empurra para dentro do carro e ocupa seu lugar no assento de motorista.

Não foi ele.

Henrico está bem. 

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