INDECENTE DESEJO romance Capítulo 58

Ter a certeza que o carro de Henrico está logo atrás do de Pedro, é a única coisa que me deixa sã nesse momento.

— A polícia está aqui. — Minha voz sai mais como um pensamento desconexo do que um aviso. Ele olha pelo espelho retrovisor, apertando os olhos como se o ato fosse lhe fazer enxergar melhor e então, como se fosse possível, acelera ainda mais o carro, fazendo nossos corpos serem jogados pra trás devido a alta velocidade.

—Você vai nos matar! —Grito, tendo que me agarrar na alça de teto por segurança.

— Não, seu namoradinho vai nos matar. — Fala em desdém, pisando mais uma vez no acelerador. O xingo em voz alta, olhando pra trás para checar a posição de Henrico. Suspiro aliviada ao perceber que apesar da velocidade que Pedro está se movendo, ele continua nos acompanhando.

— Eu ...— Paro, olhando para o homem que fui apaixonada durante a adolescência com lágrimas nos olhos.

— O quê? — Diz ríspido, não olhando diretamente pra mim, mas demonstrando interesse em me ouvir.

Me ajeito no banco do acompanhante, apertando o cinto de segurança com os meus dedos e o olho.

— Eu não entendo o motivo pelo qual está fazendo isso.— Admito, me sentindo uma garotinha tola assim que as palavras deixam a minha boca e ele me encara. — Aurora nunca permitiria que você fosse preso. — Falo em tom baixo.

Alguém bate na lateral do nosso carro e me sobressalto, piscando algumas vezes quando percebo que Henrico está dirigindo praticamente lado a lado conosco.

— Não estou preocupado com a polícia de Minas gerais, Amélia. —Rosna, fazendo com que nosso carro bata contra o de Henrico também.

Meu coração está acelerado, aumentando seus batimentos a cada vez que o acelerador é acionado.

Santíssima trindade, me ajude!

Ponho a mão no meu peito, a deixando descansar bem acima de onde fica meu coração e o olho, após checar que Henrico ainda nos persegue.

— O que quer dizer?

— Interpol. — É tudo o que ele diz, batendo contra o carro de Henrico novamente.

Franzo o cenho, não sei se pelo fato de conseguir visualizar minha morte com mais clareza após essa terceira batida ou por não ter certeza se compreendi o que ele falou.

—In ter pol? — Repito pausadamente.

Outra batida.

—Porra! — Ele grunhe, perdendo o controle do volante por poucos segundos.

— Interpol, tipo a polícia internacional? — Questiono, voltando a abrir os olhos após a leve derrapada que o carro deu.

Ele me olha sem paciência e volta a ter controle sobre o volante.

—Eles estão ao me encalço faz algum tempo, mas não tinham um rosto ou endereço até sua mãe começar a investigar.

—Minha mãe? — Pergunto sem entender onde ela entra nessa história.

—Eu matei Ezequiel. —Tenho certeza que meus olhos ampliam de tamanho, porque não existe a menor chance do meu cérebro lidar com essa informação sem apresentar defeito.

Ele matou o amante de mamãe, Ezequiel.

Ele ...

Por quê?

— Por quê? —Refaço a pergunta, mas dessa vez a digo em voz alta ao invés, de apenas pensar.

Ele arqueia a sobrancelha, provavelmente estranhando que essa seja minha pergunta após suas declarações.

— Achei que...—Tento me justificar, mas ele me interrompe.

— Você achou que fosse seu pai. — Esclarece pra mim e assinto, mesmo constrangida.

Meu pai, Augusto Leal, era o único com motivos reais para acabar com a vida do amante de mamãe. Envolvia sua honra e carreira política, duas coisas que ele preza ao extremo.

— Eu não entendo.

— Antes de tudo você precisa saber que a mente brilhante por trás da carreira do seu pai, sou eu.

Duas viaturas aparecem na nossa frente, nos encurralando contra o carro de Henrico e as duas outras viaturas.

— Como? — Sibilo, não sabendo ao certo se minha pergunta se referia ao que ele vai fazer agora que está sem saída ou a sua fala.

— Meu pai e o seu eram sócios, Aurora e eu crescemos juntos e sempre soube que a queria como minha mulher. Augusto sempre foi uma inspiração pra mim, já quer eu achava meu pai fraco. — Ele faz o carro andar pra trás até ter espaço suficiente e pega uma rota alternativa, entrando por uma estradinha praticamente inexistente.

—Eu queria ser como seu pai, até que descobri que era melhor do que ele. Viajei pelo mundo atrás de investidores para nossa imobiliária, mas descobri algo muito mais interessante e adentrei em um mundo obscuro sem volta.

—Pedro, eu...

— Não estou arrependido.— Fala antes que eu termine a frase, me olhando de lado quando continua dirigindo.

— Acho que esse lugar não tem saída. — Digo, observando que tanto Henrico como os policiais continuam ao nosso encalço.

— Não importa. — Não sei se foi o seu tom ou a maneira como me olhou, mas eu soube naquele momento que Pedro não estava tentando fugir, mas ganhar tempo.

Eu só não entendi o motivo, mas eu senti que precisava fazer algo.

—O que aconteceu depois que você entrou nesse mundo?—Uso sua própria história para distrai—lo, tentando avistar alguma saída pela frente.

Ele demora pra responder, mas após um longo suspiro e uma risada baixa, ele fala.

— Eu virei a porra do rei do submundo. Trafiquei drogas, armas e pessoas sem nunca ser descoberto, tornei seu pai o governador desse estado e o envolvi na parte superficial do meu mundo, garantindo que ele estaria sempre sobre o meu controle. Até...

— Até? —O incentivo a prosseguir, agarrando a maçaneta da porta de forma discreta.

Talvez essa velocidade não seja suficiente para me matar se eu pular.

Eu só preciso...

— Ele não quis me dar você. — Pisco, soltando a maçaneta para encara—lo com incredulidade.

—O quê?

— Ele me deu Aurora quando eu voltei de Dubai, me ajudou a tirar Henrico do caminho, mas não permitiu que eu ficasse com você também.

— Você armou com o meu pai contra Henrico.— Digo em voz alta, pensando o quanto isso era óbvio esse tempo todo. Papai deixou Aurora livre para Pedro.

— Eu sabia que aquele imbecil tinha síndrome de herói assim que pus os olhos nele, mas Aurora era minha desde sempre e não permitiria que um ninguém a levasse tão fácil. Augusto concordou desde que eu o ajudasse com a campanha, não foi tão difícil planejar toda a armação tendo os contatos certos.

—Aurora sabe disso? — Minha voz sai trêmula, envergonhada por nunca ter enxergado de verdade as pessoas que estavam ao meu lado.

Que a resposta seja não.

Que a resposta seja não.

Que a resposta seja não.

—Não, mas não foi tão difícil convencê—la sobre a culpa de Henrico. Ela não o amava.

Meu peito dói ao pensar tudo que Henrico teve de enfrentar na cadeia, sem ninguém para ajudá—lo, tendo sua liberdade sendo roubada de forma tão vil.

— Ezequiel descobriu sobre você?— Pergunto, chegando a conclusão de que esta era o único motivo plausível para Pedro tê—lo matado.

—Não, ele foi uma armadilha.

—Armadilha?— Pergunto confusa e ele sorrir de lado, parecendo se regozijar por dentro com alguma lembrança.

— Sua mãe iria deixar seu pai, levar você pra longe e causar um escândalo muito grande. Eu precisava, queria você perto para poder seduzi—la. — O brilho nos seus olhos entrega seu desequilíbrio, indicando que ele está além do seu normal.

A ânsia de vômito vem forte e tenho que engolir minha saliva várias vezes para manter o controle.

— Você me acha louco? — Pergunta de forma descontraída, mas não move seus lábios em um sorriso nenhum milímetro.

Olho mais uma vez para o retrovisor, agarro a maçaneta da porta e percebo que eu não tenho escolha.

Ele não está ganhando tempo, ele apenas não se importa.

— Não faça isso. — Diz, percebendo o que pretendo fazer e me puxa pelo braço com violência.

— Me larga. — Grito, batendo contra seu peito.

—Eu fiz isso por você! — Esbraveja, tentando não perder o controle da direção enquanto se defende dos meus golpes. Nossa pequena briga fazendo com que ele desacelere o carro, permitindo um dos policiais se aproveitar da curta distância para atirar em um dos pneus.

—Você está louco! —Grito, acertando seu rosto com meu punho.

— Você é minha. Você e sua irmã são minhas! — Vocifera, puxando o meu cabelo e fazendo com que nossos rostos fiquem próximos.

— Não.— Grito, tomando o controle da direção de suas mãos. Ele tenta tomar de volta, me empurrando para o lado, mas os policiais atiram novamente contra os pneus e perdemos o controle sobre o carro, fazendo ele derrapar e virar uma, duas, três vezes até que eu perca a conta e me entregue ao cansaço, sentindo meus olhos fecharem contra a minha vontade e tudo que eu posso ouvir é o grito de alguém chamando pelo meu nome.

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