— Eu não esperava isso de você, Vitória. De qualquer outra pessoa, mas não de você.
— Do que você está falando, Theo?
Meu marido dirige a mim um olhar de repulsa como eu nunca tinha visto antes.
— Não tenha o atrevimento de dirigir a palavra a mim outra vez.
— Eu não estou entendendo... por favor, você pode...?
Ele avança alguns passos e eu recuo, assustada.
Tenho a impressão de que vou desmaiar.
Os olhos disparam agressividade. Olhos que costumavam se dirigir a mim com carinho, ternura e paixão. Mas que, agora, estão desprovidos de vida.
Vazios.
São os olhos de um estranho, não os do homem com quem me casei há três anos.
Flashes da cerimônia do nosso casamento disparam na minha cabeça, enquanto ele ergue o dedo bem na frente do meu rosto, espumando de ódio.
— Você vai embora dessa casa, hoje mesmo. E não pense que vai levar o nosso filho – Theo torce a boca para baixo. — Heitor fica.
O ar desaparece dos meus pulmões como se eu tivesse levado um soco.
De surpresa e confusa passei para atônita e desesperada em questão de segundos.
— Você não pode fazer isso comigo, Theo... Não, pelo amor de Deus. Heitor é tudo o que tenho! Você não pode me impedir de ficar com o meu filho, Theo!
— Ah, eu posso sim. A partir de hoje, você não é mais bem vinda nessa casa, Vitória. Leve todas as suas coisas. Leve o que quiser, eu já não me importo – o seu sorriso é diabólico, mas a expressão torturada em seu rosto desmente que está se divertindo. — Menos o meu filho, claro. Heitor fica.
Minha cabeça lateja. Já não posso respirar.
Do que é que ele está falando?
Há menos de uma hora, estávamos em uma festa na casa de amigos. Então ele veio calado durante toda a viagem de volta no carro. E agora... agora...
— Você me deve uma explicação, Theo. Volta aqui — eu berro a plenos pulmões, mas ele já deu meia volta e despareceu da sala em direção ao escritório.
Alarmada, eu olho ao meu redor.
Nunca me senti tão atordoada assim antes. Tão... sem chão. A casa enorme que compartilhamos naqueles três anos parece prestes a me engolir. A me devorar.
Respiro fundo em busca de ar, mas ele não chega.
Meus olhos vagam pelos retratos na parede que contam uma história feliz. A nossa história feliz. Eu amo fotografias. Por isso, faço questão de registrar cada momento significativo nas nossas vidas. E, por mais que alguns pareçam fragmentos simples e banais, para mim todos eles têm uma enorme importância.
Contemplo as cortinas e a tapeçaria que Theo e eu escolhemos juntos em nossa lua de mel em Barcelona. As esculturas que trouxemos de Paris nas férias passadas. E, por fim, miro o meu reflexo no espelho da parede. Cabelos longos e castanhos caindo em mechas pesadas até a cintura. Uma boca volumosa, um nariz pequeno, mas imperioso.
Olhos verdes grandes, agora, repletos de lágrimas.
Mal percebo os criados se aproximarem carregando três malas pesadas. Eles passam por mim com seus olhares de pena, abrem a porta da frente e saem sem dizer uma única palavra.
Há quanto tempo estou ali daquele jeito? Apenas olhando o meu reflexo?
Nem sei dizer.
Meu filho...
Eu preciso ir ver Heitor.
Corro na direção das escadas e braços fortes me impedem. Eu me viro na direção do seu dono, mas não se trata de Theo, como eu imaginava.
É apenas um dos criados.
O chefe da segurança.
Theo disse que não queria me ver. Nunca mais. E está cumprindo a promessa.
Eu me debato, histérica, gritando o nome de Heitor. Suplico pelo meu filho, enquanto saio da casa, arrastada pelo homem de olhos frios.
***
UM ANO DEPOIS
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