Meu CEO Mandão romance Capítulo 58

Quando cheguei ao apartamento de Kathryn, fui atendido por Paul, que vestia apenas uma toalha. Ele me tratou como um velho amigo que há muito tempo não via. Franzindo a testa, deixei que me acompanhasse até a sala de estar onde Kathryn estava. 

Eu vinha fingindo que ela não existia. Eu simplesmente não conseguia acreditar que ela era tão burra a ponto de se entregar a um cara que bateu nela, que a tratava como lixo! A fúria que eu vinha remoendo desde aquele dia, quando meu pai acordou, despertou numa rajada silenciosa, mas que me atingia com força. 

Paul se afastou, eu vi Kathryn e percebi sua barriga, seu corpo, o jeito como sorria. 

Merda. 

— Chase — ela começou. Eu bufei, as mãos enfiadas nos bolsos. — Eu tive que ligar para contar que… — ela olhou para a barriga já um pouco saliente. — Estou grávida. 

Eu parei do lado do sofá. De súbito fui atingido por um cansaço que me deixou exausto. Era como se um peso grande demais estivesse sobre meus ombros. 

— Quando? — Perguntei. — E por que não disse antes? — Inclinei o rosto, de modo que encarasse o dela. Fitei a barriga. — Foi por isso que voltou com ele? Por que ele engravidou você? 

Eu sorri. 

— Você é muito burra. 

Paul reapareceu, vestindo calças jeans e uma camisa polo. Com os braços cruzados, se recostou numa estante de livros.  

— Deveria ficar feliz por ela. — Ele disse. — Ela é a sua irmã. 

— Eu ficaria se você não a impedisse de ser feliz. Eu ficaria se você não fosse uma pedra no meu sapato. Eu tenho problemas demais para ter que lidar com mais um. — desviei os olhos dela e o encarei. — Você não tem o direito de falar, Paul. Você bateu nela! Você… ah, meu Deus… — eu olhei de novo para Kathryn, que passou a me olhar com uma expressão triste. — Você acha mesmo que ele te ama? Acha que ele se importa o bastante? Acredite, não se importa. Você não passa de um par de peitos e uma boceta que ele pode foder, ou de uma barriga para carregar o filho dele. — Berrei. 

Kathryn me encarou, como se eu fosse um monstro. Percebi que seus olhos estavam afogados em lágrimas, mas já estava tão cansado dessa visão que dei de ombros. 

— Já disse o que tinha para me dizer? — Perguntei. 

— Você é um babaca, Chase. — Disse Paul. Ele balançou a cabeça e sumiu, entrando numa sala perto de onde estava. 

Kathryn continuou me fitando. 

Eu segurei o ponto entre os olhos e os fechei, de modo que deixasse minha respiração fluir pesadamente. 

— Eu me pergunto como se tornou desse jeito — ela disse. — Olha para você… deve ser por isso que não tem ninguém do seu lado. 

— Eu não preciso do seu sermão. — Gritei, a fúria explodindo. — Você não passa de mulherzinha confusa e fraca que procura o apoio de qualquer um quando se sente fragilizada demais. Você não tem opinião própria. Vive para agradar os outros, Kathryn!  Se eu não tenho ninguém, deve ser por que não preciso. E não preciso, na verdade, de alguém que me veja como um brinquedo e depois jogue fora como se não valesse nada. — Desabafei. Ela pareceu tão destruída… tão desolada. E então… acertou um tapa estalado no meu rosto. 

Minha bochecha ardia, e estarrecido, não conseguia ao menos encará-la. 

— Você não vê? — Ela sussurrou. — Está desesperado, Chase. — E riu, como se achasse muito engraçado. Eu engoli em seco, me recusando a olhar para Kathryn. Senti vergonha. Algo tão angustiante e frustrante, que parecia me enterrar numa cova funda da qual eu não conseguia me tirar. — Você age como se não importasse, mas olha para você… está… o que aconteceu? Você nem parece mais ligar para si mesmo. Você não é assim, Chase. Não ataca simplesmente por que é um idiota… eu sei o que sente. 

Olhei para baixo, deixando o ar dos meus pulmões ir embora, a boca entreaberta. 

— Você não sabe de nada. — Rosnei. 

— Sei mais do que imagina. 

Foi impossível não encarar seus olhos. 

— Durante vinte e sete anos eu o vejo, Chase. Eu sei exatamente do que gosta, o que o irrita, o motivo pelo que ri e como se sente frustrado quando perde algo, seja o que for. Sei, também, que mesmo que negue, é bom demais para todo mundo, mas acha que não merece receber carinho e atenção, porque está magoado demais para se entregar. Mas quer saber? É idiotice. Se manteve trancado em seu mundo por tanto tempo, que esqueceu que devia sentir tudo isso, mesmo que doesse demais. 

— Cala a boca. — Mandei. 

Ela se aproximou, colocou as mãos em seu rosto e me obrigou a fitá-la. 

— Não está cansado? — Perguntou. — Não se sente exausto por afastar todo mundo por que acha que pode magoá-los? — Eu fechei os olhos, resmungando qualquer coisa que afastasse sua voz de meus ouvidos. — Não precisa fingir, Chase. Não precisa mais ser desse jeito. Você não teve culpa! Você deve seguir em frente! 

— Foi um erro eu ter vindo. — Declarei. — Não tenho que escutar isso… — tirei suas mãos do meu rosto e virei-me para ir embora. 

— Não foi culpa dele. — Ela disse. Eu virei novamente para ela, tomado pela curiosidade. — Não foi o papai que matou a Brenda, Chase. 

O chão sumiu sob os meus pés. 

Fiquei tonto. 

Vacilando o peso do corpo de um pé para outro, virei na direção de Kathryn mais uma vez, a encarando. Ela se manteve imóvel, talvez esperando minha reação. Mas eu simplesmente me sentia estarrecido. Abri a boca, mas as palavras fugiram. 

— Não foi o papai. — Ela fungou o nariz. — Foi… 

Eu franzi a testa, o peito disparava, uma dor tão tremenda, que achei que fosse morrer. 

— Paul. Foi o Paul. — Ela disse. 

Um soco no estômago. 

Foi o que senti no momento em que disse. 

Eu não queria acreditar. Não podia. Eu passei esse tempo todo odiando a pessoa errada? Eu… eu não tinha reação, na verdade, não sabia se continuava vivo. Era como se o mundo à minha volta tivesse simplesmente desaparecido, como num passe de mágica e eu estava absorto em algo que não fazia sentido. Eu não podia sentir, tocar… não podia me sentir. Era como se tivessem tirado as partes do meu corpo. 

— Eu descobri que ele estava me traindo e, quando o Paul finalmente iria terminar com a Brenda… 

— Não.  — Sussurrei. 

— Ele descobriu que… 

— Não! — Berrei. Kathryn cobriu o rosto com as mãos. Uma rajada de tiros no peito me acertou em cheio. — Cala a boca! Você está mentindo! — Continuei berrando. 

— Chase… me perdoa… 

— Não… não… não… você está mentindo. 

Ela fez que não. 

— Ele descobriu que ela estava grávida e… para que eu não descobrisse nada… 

— Por favor, para — meus lábios tremiam. Todo o meu corpo tremia. A minha alma se reduziu a estilhaços. — Não… não pode ser! 

— Quando você chegou… era tarde demais. Eu descobri um mês depois. 

Minha mente estava pesada, tão pesada que pensei que o cérebro fosse explodir. Minha respiração se tornara tão lenta, que os pulmões ardiam em sofreguidão por urgência. O coração não dava mais sinais. Apenas doía. 

Eu me perdi completamente. Virei na direção da porta e cambaleei sem nenhum rumo. Eu só queria sair dali. Eu queria estar em qualquer lugar… eu… eu não sabia o que devia fazer ou pensar. Eu simplesmente não conseguia. 

Corri na direção da porta, desorientado, e segui na direção do elevador, onde apertei dezenas de vezes o botão. Quando as portas finalmente abriram, entrei e encostei-me contra a parede. 

Eu não sabia o que fazer. 

Não sabia como agir. 

Não sabia o que pensar. 

E então, lembrei de Annelise. 

Mais uma vez. 

Eu precisava dela. 

Precisava como nunca precisei antes. 

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