Quando chegamos na casa de repouso, fomos recebidos por uma enfermeira sorridente. Eu não sabia se ela era simpática demais, ou se estava animada por eu estar ali. Ela fez questão de me levar à frente, e mesmo deixando bem claro que eu era acompanhante de Annelise, a enfermeira ficou o tempo todo do meu lado.
Eu não podia fazer outra coisa senão sorrir.
A sra. Lancaster, mais conhecida como Madeleine, estava sentada na sala de jogos quando eu e Annelise nos aproximamos. A enfeenfermeira pediu para que um outro enfermeiro que estava lá saísse. Ele parecia estar cuidando de Mad, como a apelidei.
— Então é você? — Madeleine perguntou. — Ah, eu nunca me esqueço de um rosto. — Annelise sorriu de uma maneira tão compassiva e agradável que meu coração derreteu. Eu me sentia tão amado. Madeleine me tratava como se já me conhecesse, e mesmo que o trajeto de carro temha servido para Annelise me explicar sobre a doença de sua tia, eu não esperava que ela fosse tão gentil e amigável. — Você não mudou nada!
Pelo visto, eu parecia com um antigo namorado de sua irmã, Alexandra. Eu percebi, só então, que nunca tinha conversado com Annelise sobre seus pais. Ao menos não tão afundo. Ela raramente falava sobre eles, e sabendo que não tive os melhores pais do mundo, simplesmente escolhemos não conversar sobre o tema. Jackie era um amigo próximo da família. Annelise me disse que ainda tinha contato com ele, e para ser sincero, ele até que parecia comigo. Mesmo sabendo que Madeline me via como se fosse outra pessoa, eu tomei como se nossa conversa fosse somente sobre mim e Annelise:
— Quando você sente que seu coração sabe realmente que é a hora certa, nada impede. — A sala de jogos era tranquila e fresca. Estávamos sentados em uma mesa perto de uma janela alta; eu conseguia sentir o cheiro de terra e flor vindo do jardim de fora. Era tudo muito limpo e organizado. Isso fez com que eu me concentrasse no que Madeline dizia. — Às vezes, tomamos o caminho mais difícil de ser seguido, mas não quer dizer que seja uma má escolha, porque esse caminho, na verdade, vai formar quem realmente você é. E não importa quantas vezes você queira desistir. Quando é para ser, nada pode impedir. — Eu sorri. Suas palavras pareciam tocar meu coração, envolvê-lo num abraço caloroso e, ao mesmo tempo, me penetrar como uma flecha. Ao invés da dor, senti um sentimento muito parecido com amor.
Eu costumava deixar tudo isso para trás. Todos os sentimentos. Nunca me preocupei exatamente com o que as pessoas poderiam ou não pensar de mim, mas a verdade é que sempre precisei disso. Agora, ali, me perguntava por que fugia tanto disso.
Me sentir curado era algo tão bom, que minha alma reverberava paz.
Eu olhei para Annelise, que sorriu. Cobrindo sua mão, eu tinha certeza que pensava o mesmo que eu. Será que se sentia tão perdida quanto eu antes de me conhecer? E será que eu tinha feito com que se reencontrasse? Às vezes eu tinha medo de lhe causar dor, e em outras, tinha medo de que ela me causasse dor. Eu realmente a machucaria, algum dia, porque simplesmente iria querer fazer isso? Não. Mil vezes não. Ela poderia cravar uma faca em meu peito e eu simplesmente iria perdoá-la.
Eu nunca tinha pensado em ter uma família, mas achava que, como Madeline disse: "Quando você sente que seu coração sabe realmente que é a hora certa, nada impede."
Alguns minutos depois, Mad e eu tínhamos embrenhado pelo corredor meio cheio da casa de repouso. Eu lembrava de Annelise me contar que na época em que aceitou o acordo comigo, precisava do dinheiro para poder pagar as mensalidades atrasadas. O lugar não era luxuoso, mas todo mundo era receptivo e amimado. Os idosos dançavam numa sala de dança e na próxima, meditavam. Uma em especial chamou minha atenção:
Algumas mulheres instruíam idosas a tricotar. Lembrei imediatamente da minha mãe. Ela costumava fazer tricô, bordar e costurar. Tudo por causa da minha avó. Foi ela que me ensinou a como conversar com garotas, e emotivo, senti os olhos afogados em lágrimas. Que porra estava acontecendo comigo? Eu simplesmente deixei meu coração absorver toda aquela nostalgia. Minhas melhores memórias são de quando era adolescente, antes de minha mãe morrer quando eu completara dezesseis anos. Antes de morrer, eu aprendi a tricotar e costurar. Ela dizia que homens também podiam fazer coisas como aquelas.
Entrando na sala acompanhado por Mad, nos sentamos numa mesa afastada. Nós começamos a tricotar. Parecia que a cada centímetro de linha que recolhia em minha agulha um novo sentimento surgia.
— Você nunca me disse que sabia tricotar. — Annelise disse. Ela parecia abismada. Eu sorri, um pouco atordoado. — Mad parece ter gostado de você.
— Você não sabe de muitas coisas, na verdade. — Eu disse, sorrindo. Annelise retribuiu meu sorriso.
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