Gabriela de Sá
— Você tem certeza disso? — vi uma expressão assustada de Joice pelo espelho.
— Tenho. — falei bufando
— Mas não vai ficar muito curto? O seu cabelo é muito lindo, não corta assim meu vai amiga...
— Vai logo, Joice! Eu tenho certeza eu estou em uma nova fase da minha vida.
Me obedecendo ela começou a passar a tesoura entre meus fios de cabelo. Encarei
o espelho, até agora não parecia muito
diferente, ainda na altura do ombro. Ela
estava com muita dó de cortar, revirei os
olhos e estendi a mão para pegar a tesoura.
— Nem pensar, você vai picotar seu cabelo
sua louca. — Ela falou e riu.
— Então corte sem dó, cabelo crescer.
Respirando fundo Joice obedeceu, começou fazendo um corte que tínhamos visto em um vídeo da internet, deixando a parte da frente maior e reduzindo a de trás. Os fios loiros iam escorrendo pelo chão, e isso me trazia a esperança não só de uma mudança exterior como também interior.
Eu poderia ter ido a uma cabeleira com mais experiência do que aparar cabelos masculinos, mas até que minha amiga deu conta do recado. Atrás parecia um pouco torto, mas o cabelo estava um pouco abaixo
da minha nuca, na frente eu mesmo arrumei, a franja maior me dando um ar naquelas garotas rebeldes que se vê em filmes, sorri com a comparação.
— Agora tenho que ir trabalhar. — Joice falou correndo para tomar um banho.
Fui até a cozinha com quem eu já me sentia familiarizada, por conta da semana que já havia passado ali, e peguei uma vassoura e uma pá. Recolhi todo cabelo do chão e joguei fora.
Fui para frente do espelho novamente e mexi no meu cabelo. Até que eu gostei do meu novo visual, mas gostei mais ainda da força que eu sentia dentro de mim. Não deixaria mais ninguém me humilhar, me bater ou dizer coisas sobre meu filho. Eu ainda era muito nova, mas tinha que crescer de uma hora para outra. Eu estava esperando um filho, não era uma boneca que poderia ficar no meio de tanta briga e acusação. Eu ainda estava muito chateada com tudo, mas não podia parar de pensar naquele serumaninho que crescia dentro de mim.
Joice estava apoiando minha mudança, porém queria que eu tomasse uma atitude em relação ao Lucas, mas não tinha porque eu arriscar tantos anos de amizade, ou até mesmo a convivência do meu filho com o pai, por conta de algo incerto.
Meus sentimentos estavam um caos, mas isso não deveria influenciar de forma alguma minhas atitudes. Eu voltaria a morar com ele, daqui a duas semanas talvez, porém não daria brechas para que um quase beijo acontecesse novamente. Suspirei.
Fui para a cozinha preparar algo para minha amiga comer antes de sair. Ela estava sendo mega gentil em me deixar ficar por ali enquanto não resolvia meu impasse com o pai do meu filho. Era uma grande amiga e eu sabia que poderia contar com ela.
Meu pai tinha marcado de ir me visitar hoje pela tarde, eu estava morrendo de medo do que ele viria me dizer, pois sabia que seriam verdades que me atingiriam e poderiam fazer com que eu me abalasse novamente. Passei a mão em minha barriga e sorri, parecia que o medo passava quando eu lembrava do meu filho.
Meia hora depois Joice estava usando seu terninho habitual e devorando uma bela panqueca, que não sei por qual milagre, eu, Gabriela, consegui fazer. Ela se levantou se despediu de mim e passou a mão na minha barriga, se despedindo do bebê.
— Estamos parecendo um casal de lésbicas.— brinquei e ouvi a gargalhada dela enquanto ultrapassava a porta.
— Até que você é bonitinha, mas tenho preferência por coisas maiores, se é que me entende.
Dei risada e acenei enquanto ela partia para a fazenda em que trabalhava. Arrumei toda cozinha e foi minha vez de ir tomar banho, lavei o cabelo e molhado tinha ficado até mais bonito, porém ainda sentia a necessidade de aparar.
Peguei o celular, cheio de mensagens, e fui fazer uma pesquisa no Google: atrizes de cabelo curto. Entre Sophia Charlotte, Emma Watson e Anne Hathaway, escolhi a da última, bem mais curto, com a franja maior.
Liguei para o meu pai para perguntar a que horas ele viria e obtive a resposta de que apenas pela noite, perfeito. Peguei as chaves do meu gol vermelho, que meu irmão tinha trago no dia anterior e dirigi pela pequena cidade que eu mal conhecia.
Estacionei com dificuldade em uma vaga apertada nas ruas de paralelepípedo. Sentir o cheiro da pequena cidade, gostava dali, acho que moraria facilmente em um lugar tão tranquilo como aquele. Caminhei pelas calçadas largas em busca de um salão de beleza, encontrei um a uns cinco metros de onde deixei meu carro.
Adentrei no local que tinha cheiro de chiclete, esfumaçado e aconchegante. Apoiei os braços no balcão para falar com a mulher que digitava em um pequeno computador, dedos ágeis, ela olhou para mim e sorriu.
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