Lucas
Encarei o espelho, as minhas mãos apoiadas sobre a pia. Eu estava com pena de mim mesmo, porque caramba, a coisa estava feia. Minha barba por fazer estava terrível, sem formato algum. As olheiras então? Porra, que treco medonho.
Quando foi que eu me afundei tanto assim?
Olhei para o restante do meu corpo, as clavículas aparecendo mostrando que eu tinha emagrecido uns quilinhos. Também, quem sobrevive de pão e miojo? Cozinhar eu sabia, mas não tinha vontade alguma, na verdade et não tinha vontade de nada eu só ia trabalhar porque era minha obrigação.
Peguei o barbeador elétrico e liguei na tomada, só iria fazer isso também porque meu pai disse que eu seria expulso pelo juiz caso entrasse no fórum daquele jeito. E se eu deixasse a barba? Só a arrumasse? Seria uma boa ideia, aliás, agora eu tinha quer ter cara de pai. Sorri com essa ideia.
Comecei a fazer o cavanhaque como via meu irmão fazer, porém em algum momento eu tremi a mão e entrei demais. Adeus ideia de parecer mais velho.
— Droga.— xinguei e comecei a tirar tudo.
O telefone na sala começou a tocar, arranquei o barbeador da tomada e lavei a cara correndo com uma toalha até o aparelho sem fio.
Ligação on
— Alô? — falei ofegante
— Filho? Já está pronto?- meu pai tossiu do outro lado.
— Quase.
Droga, nem banho eu tomei ainda, e já passava de uma hora da tarde. Ele iria me matar, era melhor eu afogar minha cabeça na privada naquele momento mesmo.
— Estou saindo de casa agora.— tossiu de novo. — Acho que peguei uma gripe. Nossa, minha cabeça está explodindo.
— Eu estou vestindo meu terno já, melhor correr para não me atrasar.
— Certo, vou te esperar na entrada. Tchau.
Desliguei-o telefone e corri para o chuveiro, tomei um famoso banho de gato, como eu era burro, tinha calculado o tempo de fazer a barba errado. Agora eu estava feito um tonto tentando entrar naquele terno preto, dando um nó ridículo na gravata e penteando o cabelo para o lado.
Peguei o molho de chaves em cima do balcão e parei na frente para a porta, encostei minha testa no olho mágico e fiz uma pequena oração. Respirei fundo três vezes e então passei para o lado de fora, deixando meu apartamento para trás, meu apartamento completamente bagunçado.
Entrei no meu carro e dirigi rápido até o fórum. Olhei no relógio enquanto procurava uma vaga, caramba, parecia que todo mundo estava processando, ou sendo processado hoje.
Estacionei a um quarteirão. Arrumei a gravata e coloquei meu cabelo molhado mais uma vez para trás.
Em passos largos cheguei na escadaria do fórum, onde meu pai me esperava de costas, olhando para o prédio com uma pasta nas mãos. Cheguei até ele ofegante, olhei para os lados em busca de alguém.
-Ela já está lá dentro.
Assenti e nós entramos no prédio como ar condicionado forte. Meus olhos percorriam o local cheio, até eu encontrar o que tanto procurava. Meu peito deu um solavanco, pensei que fosse morrer com a força com que meu coração bateu. Fechei e abri os olhos.
Só fazia pouco mais de um mês que eu não a via, e parecia que não a via há séculos. Sabia do seu novo visual, vi uma foto no Facebook no seu chá de bebê, mas pessoalmente ela estava muito, mais muito linda. Seu pescoço e colo ficavam mais a mostra, assim como seu rosto. Abri um sorriso de canto, ela olhava para os lados a procura de alguém.
Meu pai chegou na minha frente e deu um beijo na bochecha dela, logo em seguida colocando a mão sobre a barriga dela e alisando. Ela se levantou, mostrando um lindo vestido rosa claro, mangas curtas e um decote em meia lua, deixando suas clavículas bem aparentes.
O tecido ia até uns três centímetros acima do seu joelho. Não me contive de olhá-la de cima abaixo.
— Oi! — falei.
— Oi. — Sorriu.
Minha vontade era de tomá-la em meus braços para um forte abraço, mas tínhamos conversado a respeito, sobre "contato corporal", foi uma longa conversa no telefone, na madrugada do dia que antecedeu aquele dia. Não deixamos de ser amigos, não mesmo, foram as palavras dela: "Acredito que seja melhor deixarmos tudo como sempre foi, eu não quero perder você. Não vamos nos afastar. Porém não vamos exceder os limites.".E eu tinha concordado com tudo somente para tê-la por perto novamente. Foi uma longa conversa, mas uma conversa que fez eu reagir a foça que eu estava.
Sorri ao lembrar de todas as "regras" que ela meio que impôs: "Eu vou voltar a morar com você, mas não tente me agarrar, não tente espiar, não tenha fantasias comigo. Pelo bem do nosso menino.". Claro que eu não deixaria de fantasiar com ela, aliás, foi a única coisa que eu fiz durante esse último mês longe dela.
Meu pai apontou o elevador e ela foi na minha frente, segurava uma bolsa grande e uma blusa na mão. Pensei em colocar minha mão em sua cintura, mas lembrei "sem contato desnecessário". Entrei no elevador e ela vestiu o casaco que tinha em mãos.
— Vou indo ver se já está tudo pronto. — meu pai falou quando o elevador se abriu.
Eu e Gabriela saímos também, mas ficamos no corredor. Minhas mãos no bolso, meus ombros erguidos sustentando minha pasta.
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