Lucas Fraga
Aquelas palavras me atingiram mais do que deveriam. "A garota que você ama". Levantei e fui até o banheiro, lavei meu rosto e sequei minhas mãos no cabelo o jogando para trás.
Respirei fundo, puxei o ar, soltei o ar, repeti esse processo algumas vezes e tentei me acalmar.
Naquele momento Gabriela era minha cliente, depois eu pensava em tudo aquilo, talvez até ficasse doido, mas antes tinha que enfrentar aquele otário e ganhar essa causa.
Eu iria ganhar, era impossível o contrário. Respirei fundo mais uma vez, controlando meus batimentos cardíacos e assumindo o papel de advogado. Saí do banheiro e encontrei meu pai e minha amiga lado a lado sentados nos bancos. Gabriela segurava um copo de água na mão que tremia. Agachei na frente dela e segurei sua mão sobre a barriga dela.
— Está tudo bem. — sorri. — Vai dar tudo certo.
— Se você sentir qualquer mal estar durante a audiência você nos avise, pois tudo será interrompido, o juiz dirá isso para você. — seu Marcelo afagou o pouco cabelo dela.
Nervosa, ela arrumou os óculos no rosto e se levantou seguindo nós dois para a sala que aconteceria a audiência. Estava acostumado com salas daquele tipo, uma grande mesa de madeira no centro, com copos de água disposto na frente de cada lugar. Uma mesa na cabeceira, onde costumava ficar o juiz, o escrivão e um policial. Três bancos ligados no canto para uma possível plateia. E na outra cabeceira uma cadeira que era ocupada por uma testemunha.
Gabriela sentou entre eu e meu pai, na frente do homem careca que tinha um sorriso perverso no rosto. Tirei os papéis de dentro da minha pasta e organizei a minha frente, meu pai e os advogados da empresa também fizeram o mesmo. Minha amiga bebeu um pouco da água. Ela olhou para mim e notei o nervosismo nos seus belos olhos. Como ela estava linda com aquele novo visual, me lembrava uma atriz que vi em um filme, mas não sabia o nome. Ela se inclinou perto do meu ouvido.
— Cadê aquele martelo e a peruca branca do juiz? — sussurrou.
Comecei a rir um pouco alto demais. O juiz depois de organizar seus papéis pigarreou chamando toda atenção para si.
— Está aberto essa sessão de processo trabalhista no dia 15 de Julho às 14 horas e 03 minutos.— iniciou lendo o papel. — A recorrente Gabriela Gonçalves de Sá, por conta da sua gestação pode pedir um recesso a qualquer momento. Agora gostaria de ouvir o advogado de defesa da corporação LTDA Alimentos Helium.
Fomos para o lado de fora da sala e eu deixei Gabriela espairecer um pouco. Enquanto eu ia até o banheiro lavar o rosto e me recuperar também. Era nesses momentos que eu lembrava o quanto aquele pedaço de gente me fazia enfrentar qualquer coisa por ela.
Uma lembrança me veio à mente e eu sorri. Quando entramos na faculdade, sempre lado a lado, ainda que em cursos diferentes, nunca deixamos de estar um ao lado do outro. Sequei meu rosto com papel toalha e fui para o corredor, onde todos já se preparavam para adentrar na sala. Quando nos acomodamos o juiz olhou para ela e perguntou.
— Deseja continuar?
— Sim.
O juiz então começou a pedir as últimas considerações para o veredicto, eu apesar de ter feito um bom trabalho e estar confiante que a lei estava ao nosso lado, fiquei aflito, não podia decepcionar minha amiga. Porém apesar de toda aflição, eu me sentia "seguro" naquela sala, não corria riscos como correria se estivesse sozinho em uma casa com Gabriela. Enquanto o juiz analisava os papéis eu cruzei as mãos sobre a mesa.
Os minutos seguintes confirmaram o que eu já sabia, Gabriela ganhou a causa, teria que receber uma indenização pelos últimos meses, assim como FGTS corrigido, aviso prévio e o acúmulo dos salários dos últimos três meses. No total ela receberia uma quantia boa. O representante não parecia nada feliz, mas sabia que toda segurança que ele tinha no depoimento daquele otário do Diego foi desbancada pela inteligência da baixinha ao justificar cada detalhe daqueles registros. Sem contar que a fábrica perderia muito mais caso recorresse, pois seria mais tempo para pagar.
Gabriela me agradeceu muito assim com no agradeceu meu pai. E assim quando saímos do prédio, encontrei Diego prestes a entrar em seu carro. Poderia ser preso, ou seja lá o que acontecesse eu não passaria essa vontade. Ele havia prejudicado minha amiga e merecia meu punho fechado bem no meio da sua cara. Eu também sabia que apanharia depois, o cara era bem mais forte que eu, porém fiquei satisfeito quando acertei o segundo soco e só então ele revidou acertando meu lábio.
— Lucas, solta ele agora. — meu pai tentou me segurar, mas só fez foi ajudar ele a acertar outro soco em mim.
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