Lucas Fraga
Ganhei passagem enquanto gritava isso pela janela, isso facilitou a minha chegada até a ponta do viaduto da Vergueiro que dava acesso à avenida principal que levava até o hospital, porém lá nenhum carro me dava passagem mais.
Gabriela estava com o telefone na orelha, fazendo tudo que meu irmão pedia, imaginava que era para ela respirar, pois ela estava fazendo isso, puxando o ar bem devagar e soltando aos poucos, assim como ela fazia nas aulas de sexta feira que fizemos durante um tempo. De olhos fechados e me entregou o celular. Peguei e coloquei na orelha, desrespeitando leis de trânsito.
— Não responde isso, mas a Dr. Marilia está em cirurgia, e cara, é uma cirurgia intrauterina, isso quer dizer que vai durar mais de oito horas, porque é delicada. — respirou fundo.
— E então?
— Não fala nada garoto! Então, tem outro médico aqui, ele também é muito bom.. — Rick parou de falar quando Gabriela gritou fazendo eu e ele se assustar, mais uma contração diferente dos habituais.
— Perfeito. Estou perto, mas está muito trânsito.
— É horário de pico, vocês vão ter que esperar.
Olhei para Gabriela, os cabelos desgrenhados, as mãos no interior da coxa, comecei a abanar com a mão livre.
— Vou tentar chegar mais rápido. — Desliguei o telefone e coloquei em meu colo.
Olhei novamente para Gabriela tentava respirar fundo, mas as contrações pareciam mais frequentes e mais dolorosas, coloquei a mão em seu ombro.
— Lucas , eu quero minha mãe.
— Eu vou ligar..
— Não! Dirige a porcaria desse carro! — gritou.
— Está bom, está bom. — respondi submisso andando os poucos metros livres. — MEU FILHO ESTA NASCENDO.— gritei pela janela e buzinei.
A frase que saiu da minha boca passou pela minha cabeça, caramba, agora era oficial, meu filhote estava nascendo, senti vontade de gritar também. Meu coração saltou quando começaram a me dar passagem, buzinei de novo e mais uma vez. Minhas mãos Começaram a suar frio.
— Lucas...
— Já estamos chegando. — menti.
Estávamos perto, mas o trânsito não ajudava, e não era todo mundo que dava passagem para um doido gritando pela janela. Olhei para o lado, ela tinha afastado seus joelhos e estava com as mãos em volta da barriga já baixa, aí meu deus, e se meu filho nascesse naquele carro?
Coloquei a mão na nuca dela e fiz carinho tentando acalmá-la. Subi para seu cabelo curto, ela estava de olhos fechados e a cabeça encostada na minha mão, tentava respirar fundo, mas era nítido a dor em sua expressão.
Andando de metro a metro chegamos até a esquina do hospital, estava perto, estava bem perto. Quando entrei no hospital fui para o hall de entrada, desci do carro jogando a chave para o manobrista, passando no porta-malas para pegar a bolsa com as roupas separadas para o parto que ficava pronta lá, pois foram muitos alarmes falsos, então deixamos tudo lá. Corri para o banco do passageiro e ajudei Gabriela descer e sentar na cadeira de rodas que o segurança havia trazido. Coloquei o peso da cadeira todo nas rodinhas de trás, fazendo as da frente ficar no ar, em meio a dor ouvi uma risada da minha amiga, sorri de volta empurrando a cadeira para dentro do saguão, onde Rick estava esperando com papéis na mão.
— Você não trabalha não? — perguntei pra ele.
— Não quando meu sobrinho está nascendo. E tem funcionário pra caramba trabalhando lá agora, eu só supervisiono essa etapa. — abaixou ao lado da cadeira. — Já fiz sua ficha, eles vão identificar você com uma pulseirinha e levar você para o quarto.
— Ta, ta. Vão me dar remédio pra dor? — ela falou entredente.
Ele preferiu não responder, levantou e nos levou até a ala da maternidade. As enfermeiras furaram ela, a vestiram com um avental de hospital feio, e a deixaram recebendo soro com alguma coisa em um quarto pré-parto. Outro médico veio segurando uma pasta, ele era um japonês, baixinho e até um pouco engraçado. Fui para a cabeceira da maca.
— Então chegou a hora?- ele sorriu. — Eu sou o Dr. Yuri, sou amigo da Dr. Marília que está em uma cirurgia muito delicada agora e não vai poder participar do seu parto.
— E agora? — colocou o rosto entre as mãos.
— Eu sou o médico substituto.
— Mas eu fiz todo pré-natal com ela..
— Eu trabalho com ela há anos, garanto que também sou competente e que cuidarei muito bem de você e do seu bebê.
— Está, só faz essa dor parar. Tira essa criança de mim. — ela praticamente implorou e eu ri.
— Vou checar a dilatação e a posição do bebê, eu dei uma olhada nos registros do pré-natal e estou a par de toda sua gravidez.
O médico colocou luvas e esperou Gabriela abrir o avental, ele apalpou a barriga dela, a forma com que ele apertava parecia machucar, fiquei olhando com receio para aquilo, olhei para minha amiga e ela me estendeu sua mão para que eu segurasse.
Peguei a mão dela e deixei entre as minhas, próximas aos meus lábios. Ela se contorceu de dor com uma contração.
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