Felipe
— Está tudo bem com você, Felipe, mas devo mantê-lo aqui para observações, pelo menos por umas cinco horas, — o doce senhor idoso que trabalha voluntariamente no hospital me disse ajeitando os óculos sob o nariz.
O doutor acabou de me trazer os resultados dos exames que fez em mim.
Ele é um médico bem formado, que dedica a sua vida para ajudar os pobres. Eu o ajudo financeiramente para mantê-lo por perto da comunidade, mas confesso que vejo mais nele do que um doutor. E tenho certeza que o fato de eu ajudá-lo não ajuda em nada a presença dele na comunidade, ele está porque realmente quer estar.
— Será que é preciso isso mesmo, doutor? — perguntei um pouco sem jeito.
Não quero ficar aqui por cinco horas, mas por outro lado eu não quero passar por cima da palavra de médico dele. Devo respeitá-lo.
— É a minha instrução, Felipe, se você quiser ir embora a única coisa que terá que fazer é assinar alguns papéis.
— Ah, esse negócio de assinar não é comigo não, prefiro ficar aqui em observação.
O doutor riu balançando a cabeça negativamente, enquanto eu me sinto bem em não deixá-lo preocupado.
Por compensação, o vídeo da Amanda dando para aquele arrombado do caralho não sai da minha cabeça, estou me segurando muito pra ficar aqui fingindo que eu estou doente.
Peguei o celular e liguei pro sapo.
— E ai, tá com ela? — perguntei indo direto ao ponto.
— Tô, tamu chegando já, chefia.
— Os parça tão em posição?
— Tão sim, tudo pronto pra meter bala.
— Tô esperando vocês então.
— Já é.
Depois que desliguei a ligação eu fui na galeria do celular pra ver mais uma vez o maldito vídeo.
Ah. Amanda. Que ódio de você. Se eu pudesse eu...
Não acredito que esse filho da puta fez isso com você, transou, te usou até o último talo e agora está te oferecendo friamente na Internet como se a sua vida não importasse.
Bloqueio a tela do celular e o guardo debaixo do travesseiro.
Depois de alguns minutos com a mente à mil e as mãos na cabeça, ouvi conversas no corredor e abri os olhos na expectativa, a Amanda vai entrar pela porta dentro de segundos e eu não sei qual vai ser a minha reação. Estou me sentindo quente e nervoso, ao mesmo tempo gelado e anestesiado. São turbilhões de sentimentos que disputam as minhas ações.
Fiquei olhando para o teto, disfarçando descaradamente, evito no último o momento de olhar nos olhos dela depois de saber que ela esteve na cama com outro, quando eu não consigo manter uma ereção nem mesmo pra um vídeo pornô.
— Ela está aqui, mano — sapo falou pra chamar a minha atenção.
Abaixei o olhar pra eles. Ela está parada na porta, vestindo uma blusinha amarela e uma calça justa, cabelos presos e o rosto cansado.
— Valeu, mano, — respondi dando a entender que eu quero que ele saia.
Ele saiu e fechou a porta do quarto.
Quando o sapo saiu, a Amanda se aproximou um pouco de mim que continuei deitado.
— Você deve estar mal mesmo, está até tomando soro, — ela disse olhando para a agulha enfiada no meu braço.
Olhei para o meu braço também e dei um pequeno sorriso, lembrando-me do quão dramático isso pode parecer, dadas as circunstâncias em que eu estou ótimo de saúde e não possuo nenhuma lesão corporal.
— Amanda, eu... — não faço a porra da ideia de como falar pra ela.
Eu chego nela e simplesmente digo: você está à venda no mercado negro graças a trepada que você deu com um qualquer e está correndo o enorme perigo de ser sequestrada e consequentemente afastada da sua família para sempre pra viver em situações desumanas e torturantes, será abusada, espancada e estuprada diariamente.
Não. Isso vai assustá-la pra caralho e ela pode surtar, isso levantaria suspeitas e as coisas poderiam ficar bem piores pra nós todos antes mesmo que eu pudesse ter a chance de reagir.
— Você o que? — ela perguntou, tirando-me dos meus pensamentos.
— Eu tenho uma fita pra lhe desenrolar, — comecei a falar pra ganhar tempo, mas não faço ideia dp que dizer.
— O que está acontecendo com você?
Ela se aproximou ainda mais de mim, com os olhos levemente assustados, arcou-se com o corpo debruçado em cima de mim e levou a mão até a minha testa, pra ver se eu estou com febre.
Eu não estou com febre, mas estou quente. Ver os peitos dela bem na minha cara mesmo que seja só um pouquinho deles já deixa a minha piroca louca de tesão.
— Uhrg, — resmunguei sentido o perfume dela invadir o meu psicológico, me deixando completamente inebriado.
— O que foi? Está doendo? — ela questionou se afastando um pouco, olhando o meu corpo pra ver se encontra alguma ferida.
Está doendo a cabeça do meu pau, isso sim.
O que essa mina tem pra me deixar louco desse jeito?
Eu estou bravo com ela. Não quero foder com ela nunca mais na minha vida, eu sou o Felipe! Não preciso ficar louco atrás de uma mina que não me quer.
— Eu preciso de uma acompanhante e não me veio ninguém à cabeça além de você, — falei a primeira coisa que eu consegui.
Ela mordeu suavemente os lábios, preocupada, certamente com a própria vida.
— Felipe, você não tem amigos? Estou cheia de trabalho... O que aconteceu? Pode me dizer por que você está no hospital?
Caralho. Preciso bater uma punheta urgentemente. Agora não é o momento pra eu ficar com tesão. Eu sou doente?
Sou. Eu tenho merda na cabeça.
— Eu não quero morrer.
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