As ligações começaram logo depois de ter comprado dois ursinhos de pelúcia em formato de golfinhos, um lilás e outro azul claro.
Quando olhei a tela do celular e vi gravado o nome de Jessica, não atendi. Mas isso não a impediu de fazer cerca de trinta ligações antes que eu desligasse o celular. Esperando que isso fizesse com que ela desistisse, mas deveria saber que não desistiria.
Quando liguei o telefone de novo, estava em uma lanchonete, almoçando. Cinco minutos depois, as ligações recomeçaram. Bloqueei seu número e apaguei o seu contato.
Quinze minutos depois, enquanto continuava olhando o centro comercial de Paris, procurando coisas para os meus filhos, meu celular voltou a tocar. Quando olhei, era um número desconhecido. Não atendi, já imaginando de quem se tratava.
Será que aquela mulher não fazia nada o dia inteiro para ficar enchendo o meu saco, ou ela contratou alguém para ficar me ligando a cada segundo?!
Sabia que bloquear o número novamente não a impediria de pegar outro chip. Pensei em aproveitar que estava em um centro comercial e mudar o meu número, mas isso seria mais idiota ainda, afinal aquele número era o que Elena tinha e os meus amigos e familiares, mesmo que não acreditasse que Elena fosse me ligar, gostaria de pensar que ligaria se acontecesse alguma coisa com Lizie ou Alex, fora que teria que repassar meu novo número para todo mundo de novo. Além disso, era naquele número que os meus clientes entravam em contato comigo. Eu precisava daquele número para trabalhar.
A outra opção seria deixar desligado, mas isso também não funcionaria. Para quê um celular se era para deixar desligado? Não fazia sentido...
Enquanto não encontrava uma solução viável, deixei no silencioso e guardei no bolso.
Quando retornei à casa de Jonathan, já era de noite e eu estava cansado e carregado de sacolas. O que era para ter sido um presente, acabaram virando vinte. Também comprei algumas coisas que achei que Elena fosse gostar. Até nesses momentos ela não saía da minha cabeça... Embora ainda não tivesse ideia de como faria para ela aceitar.
Achei estranho que Jonathan não estivesse em casa ainda, mas deixei para lá. Fui dormir.
No dia seguinte, não acreditei no que vi quando peguei o celular do bolso da calça. Mais de novecentas ligações perdidas. Ela realmente não tinha o que fazer... Vi o horário da última ligação. 5:39. Da madrugada. Então fiquei um pouco mais feliz, já que provavelmente tinha ficado acordada até aquele horário me ligando e provavelmente dormiria até tarde e não encheria o meu saco por algumas horas.
Mas assim que esse pensamento chegou à minha mente, ele voltou a tocar. E eu tive um acesso de raiva, jogando o celular pela janela.
Ainda era domingo, e nenhum cliente ligaria. Só por hoje, o celular ficaria no quintal.
Passei o dia vendo filmes na TV. A cada hora que passava e eu não tinha notícias de nenhum dos caras, principalmente de Jonathan, que morava lá, eu ficava mais frustrado. Queria conselhos para resolver meus problemas e parecia que todo mundo tinha fugido.
Quando finalmente escutei a porta da frente se abrindo, eu pulei do sofá, querendo matá-lo por ter me deixado no escuro por dois malditos dias.
Antes que pudesse dizer alguma coisa, ele apareceu na sala e falou:
- Ei, por que o seu celular estava jogado no canteiro?
- Ele ainda está tocando? – Perguntei.
- Sim. – Então ele virou o celular, para que eu visse a tela, e o mesmo número daquela fodida de merda.
- Argh!!! – Rosnei.
- Qual o problema? – Ele não entendeu.
- Onde você estava? – Mudei de assunto. – Fiquei sozinho por dois dias! – Reclamei.
- O que é isso, Thiago? Está parecendo uma esposa ciumenta reclamando que o marido passou duas noites fora de casa.
- Cale a boca! – Retruquei. – E então? Não vai me contar onde esteve?
- Você não vai me contar por que não quer atender o telefone e jogou ele pela janela? – Ele rebateu.
- Como sabe que joguei pela janela?
- O canteiro fica logo abaixo da janela do quarto em que você está. Foi fácil deduzir. – Ele fez uma pausa – Se não me contar o que está acontecendo eu vou atender.
- NÃO! – Gritei, desesperado. Então acrescentei – É Jéssica. Ficou brava porque dei um fora nela hoje quando pediu para sairmos uma última noite logo depois que perguntei a ela o que ela queria para me deixar em paz definitivamente. E eu disse que não. Então ela decidiu que me infernizaria até que eu aceitasse.
- E qual o problema em sair com ela uma última vez, se é o que ela quer em troca da sua liberdade? – Perguntou.
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