O Cafajeste já tem Dona romance Capítulo 37

As ligações começaram logo depois de ter comprado dois ursinhos de pelúcia em formato de golfinhos, um lilás e outro azul claro.

Quando olhei a tela do celular e vi gravado o nome de Jessica, não atendi. Mas isso não a impediu de fazer cerca de trinta ligações antes que eu desligasse o celular. Esperando que isso fizesse com que ela desistisse, mas deveria saber que não desistiria.

Quando liguei o telefone de novo, estava em uma lanchonete, almoçando. Cinco minutos depois, as ligações recomeçaram. Bloqueei seu número e apaguei o seu contato.

Quinze minutos depois, enquanto continuava olhando o centro comercial de Paris, procurando coisas para os meus filhos, meu celular voltou a tocar. Quando olhei, era um número desconhecido. Não atendi, já imaginando de quem se tratava.

Será que aquela mulher não fazia nada o dia inteiro para ficar enchendo o meu saco, ou ela contratou alguém para ficar me ligando a cada segundo?!

Sabia que bloquear o número novamente não a impediria de pegar outro chip. Pensei em aproveitar que estava em um centro comercial e mudar o meu número, mas isso seria mais idiota ainda, afinal aquele número era o que Elena tinha e os meus amigos e familiares, mesmo que não acreditasse que Elena fosse me ligar, gostaria de pensar que ligaria se acontecesse alguma coisa com Lizie ou Alex, fora que teria que repassar meu novo número para todo mundo de novo. Além disso, era naquele número que os meus clientes entravam em contato comigo. Eu precisava daquele número para trabalhar.

A outra opção seria deixar desligado, mas isso também não funcionaria. Para quê um celular se era para deixar desligado? Não fazia sentido...

Enquanto não encontrava uma solução viável, deixei no silencioso e guardei no bolso.

Quando retornei à casa de Jonathan, já era de noite e eu estava cansado e carregado de sacolas. O que era para ter sido um presente, acabaram virando vinte. Também comprei algumas coisas que achei que Elena fosse gostar. Até nesses momentos ela não saía da minha cabeça... Embora ainda não tivesse ideia de como faria para ela aceitar.

Achei estranho que Jonathan não estivesse em casa ainda, mas deixei para lá. Fui dormir.

No dia seguinte, não acreditei no que vi quando peguei o celular do bolso da calça. Mais de novecentas ligações perdidas. Ela realmente não tinha o que fazer... Vi o horário da última ligação. 5:39. Da madrugada. Então fiquei um pouco mais feliz, já que provavelmente tinha ficado acordada até aquele horário me ligando e provavelmente dormiria até tarde e não encheria o meu saco por algumas horas.

Mas assim que esse pensamento chegou à minha mente, ele voltou a tocar. E eu tive um acesso de raiva, jogando o celular pela janela.

Ainda era domingo, e nenhum cliente ligaria. Só por hoje, o celular ficaria no quintal.

Passei o dia vendo filmes na TV. A cada hora que passava e eu não tinha notícias de nenhum dos caras, principalmente de Jonathan, que morava lá, eu ficava mais frustrado. Queria conselhos para resolver meus problemas e parecia que todo mundo tinha fugido.

Quando finalmente escutei a porta da frente se abrindo, eu pulei do sofá, querendo matá-lo por ter me deixado no escuro por dois malditos dias.

Antes que pudesse dizer alguma coisa, ele apareceu na sala e falou:

- Ei, por que o seu celular estava jogado no canteiro?

- Ele ainda está tocando? – Perguntei.

- Sim. – Então ele virou o celular, para que eu visse a tela, e o mesmo número daquela fodida de merda.

- Argh!!! – Rosnei.

- Qual o problema? – Ele não entendeu.

- Onde você estava? – Mudei de assunto. – Fiquei sozinho por dois dias! – Reclamei.

- O que é isso, Thiago? Está parecendo uma esposa ciumenta reclamando que o marido passou duas noites fora de casa.

- Cale a boca! – Retruquei. – E então? Não vai me contar onde esteve?

- Você não vai me contar por que não quer atender o telefone e jogou ele pela janela? – Ele rebateu.

- Como sabe que joguei pela janela?

- O canteiro fica logo abaixo da janela do quarto em que você está. Foi fácil deduzir. – Ele fez uma pausa – Se não me contar o que está acontecendo eu vou atender.

- NÃO! – Gritei, desesperado. Então acrescentei – É Jéssica. Ficou brava porque dei um fora nela hoje quando pediu para sairmos uma última noite logo depois que perguntei a ela o que ela queria para me deixar em paz definitivamente. E eu disse que não. Então ela decidiu que me infernizaria até que eu aceitasse.

- E qual o problema em sair com ela uma última vez, se é o que ela quer em troca da sua liberdade? – Perguntou.

- O problema é que eu não sei se vai mesmo me deixar em paz depois disso, ou se é só uma saída inocente e não está tramando nada.

- Pense pelo lado bom... Se ela estiver tramando alguma coisa, vai ser a última vez. E se ela não te deixar em paz depois disso, você sempre pode fazer da vida dela um inferno também.

- Como eu faria isso?

- Ainda não cheguei nessa parte do plano, mas deixamos para pensar nisso se ela não cumprir a parte dela no acordo. Para quê perder os cabelos pensando no problema se nem sabe se vai ter um problema?

- É. Tem razão. – Ele me entregou o celular, pensando que eu ligaria para ela agora, mas eu não podia esquecer o outro assunto que me deixou dois dias frustrado – Onde você esteve?

- Na casa da sua ex-mulher. – Ele respondeu, como se não fosse nada demais.

- O quê?! – Gritei. – Como assim? Por quê?

- Foi ideia do Tyler. Ele prometeu distração a ela ou qualquer coisa assim. E acho que ela realmente precisava, estava tão abatida e cansada. Então passamos o fim de semana lá.

- Ficou lá por dois dias?!

- Sim.

- Fazendo o quê?!

- Não faça essa cara, Thiago. E não pense besteiras. Sabe, eu ainda não sei o que você tem na cabeça para ter largado ela desse jeito, mas nem por isso vamos colocar a mão no que já foi seu. Somos amigos, porra.

Fiquei pensando no que tinha me dito, e aquele “no que já foi seu” ficou martelando em minha cabeça. “Já foi”, no passado. Não era isso o que eu queria ouvir. Não era nisso que eu queria acreditar. Como se o “nós” fosse passado e já não existisse mais, como se ela já estivesse pronta para partir para outra. Mas eu sabia que, cedo ou tarde, era isso que aconteceria.

- E como ela está? – Perguntei, tentando fazer com que me desse alguma pista. Se estava bem com tudo ou tão mal quanto eu.

- Se quer mesmo saber deveria ir ver com os seus próprios olhos. – Foi tudo o que disse, e saquei a indireta de que não era da minha conta.

Então fui para meu quarto, pretendendo atender as ligações de Jéssica e marcar a merda daquele encontro, mas não conseguia tirar da mente a imagem de ela e Tyler juntos. Por algum motivo, os dois vinham ficando mais próximos a cada encontro, e eu não estava gostando nada disso. Sentia o ciúmes correr pelas minhas veias. Eu precisava ter certeza que os sentimentos de Elena por mim não haviam mudado, e foi quando a ideia surgiu.

Tantas vezes Jéssica me usou... Talvez fosse hora de fazer com que uma vez na vida ela fosse útil para mim. Retribuir o favor, pensei, e, ao mesmo tempo, conferir o que Elena sentia por mim.

Então atendi o telefone.

ELENA

- Podemos conversar, Elena? – Meu pai perguntou.

- O que você quer? – Revidei. Se ele esperava ser tratado com flores e carinhos depois da patada que me deu ao me trocar pelos negócios, ele podia esperar deitado, porque até sentado ficaria cansado. – Como me encontrou? – Perguntei.

- Por favor, Elena. Me deixe entrar. Eu não gostaria que os vizinhos escutassem o que eu tenho a dizer.

Então olhei em volta e percebi que a senhora bisbilhoteira da casa ao lado estava demorando bem mais do que o normal em colocar o lixo para fora.

- Entre – Dei passagem.

Ele entrou, observando tudo, e por um instante me lembrei de algum tempo atrás, quando outro homem do meu passado também apareceu na minha vida, e eu senti vergonha da minha própria casa. Agradeci mentalmente pela casa que Thiago tinha me dado, não conseguia imaginar Richard indo visitar a própria filha naquele buraco onde eu havia me enfiado.

- Você está bem melhor do que eu pensei que estivesse. – Richard falou – Não era isso que eu imaginava encontrar.

- O que esperava encontrar? Que eu estivesse morando nas ruas, morrendo de fome e esperando você chegar para me salvar? – Retruquei – Como se fosse um maldito herói e não o cara que me colocou nessa situação?

- Você fugiu. Eu não tive...

- Você me obrigou a fugir. – O cortei. – Pode não ter me mandado embora, mas foi por sua causa que tive que fugir. Foi por sua causa que tive que me esconder. Quando mais precisei de alguém, você não estava lá para me ajudar.

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