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O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino romance Capítulo 2

David permanece imóvel diante da cama, como um predador que já sabe que a presa está encurralada. A respiração dele é lenta, calculada. Não há pressa. O tempo está do lado dele, e Cassandra percebe isso, o simples fato de ele não se mover já é uma forma de tortura lenta.

Ele dá um passo à frente e apoia as mãos no encosto da cama, inclinando-se para que seu rosto fique perigosamente próximo ao dela.

— Você tem duas opções, Cassandra. A voz dele é um murmúrio grave, mas cada sílaba pesa como chumbo.

— Ou me entrega o que eu quero… ou eu vou desmontar o seu mundo, pedaço por pedaço, até que nada reste.

O olhar dela treme. Ainda assim, tenta manter uma ponta de arrogância.

— Você acha que pode me ameaçar…? Tenho muitos contatos com pessoas influentes, políticos …

Ele não responde. Apenas abre um leve sorriso de quem não se dá ao trabalho de argumentar com quem está prestes a perder tudo.

— Acha mesmo que é importante o suficiente para eu precisar te ameaçar?

Pergunta, sem pressa.

— O que estou fazendo com você não é ameaça. É apenas um aviso.

Cassandra sente a espinha gelar.

David se endireita, caminha lentamente até uma pequena mesa lateral e pega algo que ela não consegue ver de imediato. Quando ele retorna, está com um pequeno bisturi cirúrgico entre os dedos. A lâmina brilha sob a luz artificial.

— Acredite… eu sei fazer com que cada segundo pareça uma eternidade, diz ele, girando o bisturi entre os dedos como quem segura um brinquedo.

— Não tenho pressa. Tenho recursos, muitos. E, acima de tudo, tenho homens dispostos a fazer o que eu mandar.

Ele pousa a lâmina sobre o lençol, bem ao alcance dos olhos dela, e se inclina outra vez.

— Sabe a diferença entre você e eu?

Pergunta, com o tom quase didático.

— Eu não me apego a nada que não esteja disposto a perder. Você, por outro lado… se apega ao seu dinheiro, à sua “reputação”, ao controle que apenas acredita ter. É por isso que vai falar. Tudo.

— Nunca… Cassandra começa dizer, mas a voz falha.

David apenas balança a cabeça, com um sorriso diabólico.

— Essa palavra… nunca… é perigosa quando dita para um homem como eu. Ele retira o bisturi do lençol, mas não a toca. Apenas corta, com precisão, uma das bandagens de seu braço, expondo mais um trecho de carne viva.

— Eu não preciso encostar um dedo em você para que queira abrir a boca. A pior dor… é aquela que nasce aqui.

Ele leva dois dedos à própria têmpora, batendo levemente.

— Na sua mente.

Ele dá um passo para trás, mas mantém o olhar fixo nela.

— E enquanto você pensa se vai falar ou não… cada minuto é um minuto que Jonathan e Marta continuam vivendo a vida deles. O filho deles… ele pausa, estudando a reação dela …pode estar vivo. Ou não. Só você pode responder isso.

Cassandra fecha o único olho com força. O nome de Jeff, mesmo não pronunciado, é como ácido em seus ouvidos.

— Você não entende… ela sussurra.

— Eu entendo mais do que você imagina.

Ele se aproxima de novo, encostando o estilete de leve na lateral do colchão, fazendo um pequeno corte no tecido.

— Entendo que você não está pronta para morrer… mas já passou do ponto de viver como antes.

O silêncio volta a tomar conta do quarto. Ela sente o peso da presença dele como se o ar fosse mais denso. Ele não levanta a voz, não faz movimentos bruscos. Não precisa.

David dá um último olhar para o rosto destruído dela e fala com frieza:

— Você tem até o próximo nascer do sol para me dar uma resposta. Caso contrário… eu vou decidir por você.

Ele se afasta, sem pressa, deixando o bisturi sobre o criado mudo. Ao alcançar a porta, lança um último olhar sobre o ombro.

— E Cassandra… o tom é quase gentil, mas carregado de veneno.

— A dor que você sentiu no carro… não é nada comparada ao que eu posso fazer sem sequer sujar as minhas mãos.

Ele sai, fechando a porta com a calma de quem sabe que o medo continuará trabalhando por ele.

— Mas o que diabos é isso em cima da cama?

O tom não é de curiosidade. É de repulsa pura. Cassandra sente um golpe invisível atravessar o peito. Ela, que sempre viveu para ser admirada, agora é olhada como algo animalesco.

O homem caminha até a parede e pega uma escada. Sem dizer nada, sobe e começa a fixar algo no teto. Cassandra acompanha o movimento com dificuldade, até que vê o que ele está fazendo, um grande espelho, posicionado de forma que ela possa se ver de qualquer ângulo enquanto estiver deitada.

Mas não é só isso. Ao lado do espelho, ele coloca duas fotos emolduradas. A primeira a faz engasgar, é uma foto dela nua, antes do acidente, impecável, com curvas perfeitas e cabelos longos. Cassandra se lembra na hora de onde aquela imagem veio, estava no notebook, guardada no seu apartamento.

E é aí que a verdade a atinge como um soco. O Don não estava blefando quando disse que tinha tudo.

A segunda foto é como um golpe fatal, ela mesma, agora, deformada. Careca. Sem nariz. Faltando um olho. Sem orelhas. Com a pele em carne viva. Um monstro que ela mal reconhece.

O enfermeiro cruza os braços e observa sua reação com um sorriso torto.

— Recomendação do Don, diz, com sarcasmo venenoso.

— Ele quer que você se veja por inteiro. O antes… e o depois.

Cassandra tenta virar o rosto, mas não consegue escapar do reflexo no teto. Está condenada a encarar o próprio inferno, cada detalhe da ruína que se tornou.

— Até o amanhecer ele volta, continua o enfermeiro, com um tom quase divertido.

— Mas por enquanto… ele vai passar a noite com a bela esposa dele.

Cassandra fecha o olho, tentando não ouvir, mas ele se inclina mais perto.

— E o tal de Jonathan… pausa para dar um sorriso perverso, também está ao lado da bela esposa dele.

Ele se afasta um passo e a olha de cima a baixo, sem esconder o desprezo.

— E você… agora é só essa desgraçça aí. Uma coisa que causa nojo.

O som da porta se fechando ecoa como um veredito. Cassandra fica sozinha com seu reflexo, o corpo em chamas de dor, e a certeza de que, até o amanhecer, terá que enfrentar não só o Don… mas a si mesma.

E ela sabe que, quando ele voltar, a noite de hoje ainda vai parecer misericórdia.

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