A luz dourada do fim da tarde atravessa os vitrais da Igreja de Santa Marta e se espalha em feixes coloridos pelo salão da recepção, tingindo de esperança cada rosto presente. O ar parece carregado de algo sagrado, como se a fé, a alegria e as lágrimas de todos se misturassem em uma única oração silenciosa. As velas acesas lançam um brilho cálido, e o som distante de uma música suave completa o cenário de devoção e ternura. É nesse instante que Jonathan volta a falar, erguendo-se diante da família e dos amigos, ainda com a emoção evidente na voz.
— Muitos de vocês sabem... começa ele, a voz embargada.
— Jeff e Lua nasceram juntos, mas não cresceram lado a lado nos primeiros meses de vida.
O silêncio toma o salão. Até as crianças, antes agitadas, parecem compreender a gravidade do que está sendo dito. Os olhares se voltam para o casal que, mais do que ninguém, conheceu o peso da dor e da espera.
Jonathan inspira fundo, as palavras tremendo em seus lábios.
— Foi uma dor que não desejo a ninguém. Segurar minha filha nos braços e sentir a ausência do meu filho... foi como carregar metade da alma ferida. Como se a cada amanhecer me faltasse o ar.
Um murmúrio de comoção percorre os convidados, mas todos se calam para ouvi-lo. Marta aperta a mão do marido, dando-lhe forças.
— Foram meses de angústia, continua ele, noites em claro, lágrimas que tentamos esconder um do outro, mas que nos consumiam por dentro. Buscamos Jeff com todas as nossas forças, e muitas vezes o desespero tentou roubar nossa fé. Mas... seus olhos se erguem ao alto.
— Deus nunca nos abandonou. Ele colocou anjos em nosso caminho.
Jonathan faz uma pausa. Quando volta a falar, seu tom é firme e doce ao mesmo tempo.
— E um desses anjos teve nome e coração, a Vivian.
O nome ecoa pelo salão, provocando um arrepio coletivo. Vivian, sentada entre os convidados, baixa discretamente os olhos, emocionada.
— Enquanto chorávamos pela ausência, prossegue Jonathan, ela cuidava do nosso filho com amor verdadeiro. Não era sua obrigação. Não havia laços de sangue. Mas ainda assim, ela o protegeu, o amou e o alimentou como se fosse seu. Por isso, ao olhar para o meu menino dormindo em paz hoje, eu não sinto apenas alegria. Sinto gratidão. Gratidão a Deus e gratidão a ela.
Jonathan se recompõe e busca o olhar de Don David Lambertini.
— Também não posso deixar de reconhecer aqueles que não descansaram até que nosso menino voltasse para casa. Don David Lambertini, com sua força e determinação, foi um pilar nessa busca. Ao seu lado, Ravi, Derick, Rui... tantos que arriscaram, que perderam noites, que lutaram com uma única missão, trazer Jeff de volta.
Ele ergue a mão, como se quisesse alcançar cada um.
— Vocês foram a esperança quando a dor nos consumia. Vocês foram coragem quando o medo nos paralisava. Por isso, este batizado não é apenas uma celebração de fé. É também a celebração da amizade, da lealdade e do amor que nos une.
As palavras ressoam fundo. Marta, em prantos, é envolvida por ele num gesto protetor. Mas logo, tomada por sua própria força, ela também se ergue. O silêncio retorna quando sua voz suave, mas firme, se espalha pelo salão.
— Quando nos tornamos pais, acreditamos que tudo será pleno, que segurar nossos filhos é a maior das certezas. Mas comigo... não foi assim.
Ela leva a mão ao peito. Seu olhar se perde no vazio por um instante, antes de retomar:
Os convidados aplaudiram de pé, e muitos se emocionaram. Marta voltou para junto de Jonathan.
Então ela continua:
— Também não posso deixar de agradecer àqueles que lutaram por nós. Don David, Ravi, Derick, Rui... cada um que nos deu esperança quando tudo parecia perdido.
Ela se inclina sobre os berços e beija as testas adormecidas de Jeff e Lua.
— Hoje, vendo-os juntos, sinto que nossa família foi devolvida por completo. A dor se transformou em gratidão. E essa gratidão viverá em mim para sempre.
Jonathan ergue novamente a taça de espumante, agora com a voz firme e o olhar confiante.
— Que Jeff e Lua cresçam cercados de amor, guiados pela fé. Que eles se lembrem sempre: a vida pode separar, mas Deus une de novo o que nasceu para ser eterno.
Os aplausos ecoam como uma oração. Marta o abraça com força, e juntos se inclinam para beijar as testas dos filhos. É um momento de amor, de fé e de promessas eternas.
Mas, enquanto a música volta a soar e os convidados retomam seus lugares para a celebração, uma sensação de expectativa paira no ar. Como se o destino ainda tivesse mais capítulos guardados para aquela noite. O batizado termina em aplausos e lágrimas de emoção... mas quando a festa terminar, hora da despedida, os amigos voltam para suas casas, inclusive endereços em Buenos Aires…
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