Quando é verdadeiro, a distância não separa,
o tempo não enfraquece e ninguém substitui.
Autor desconhecido
Uma semana depois...
Uma semana já havia se passado desde que cheguei à casa de vovó e nada mudou. Eu ainda continuo entristecida, chorando pelos cantos escondida de todos. A saudade de casa, da minha mãe, de Christopher, dos meus amigos — da minha antiga vida — ainda é uma ferida aberta e dolorosa demais para fingir não sentir. Mas sei que só o tempo irá curar essa dor.
Todos os dias eu tenho conversado com Ane, que ainda não se conforma de eu ter deixado para trás todos os meus planos por culpa de um amor insano. Eu sei que não é a intenção dela me magoar, mas todas as vezes que ela diz algo da relação de Christopher e mamãe eu me sinto martirizada e injustiçada.
E sempre, sempre me pergunto se partir foi a melhor opção. O silêncio da mamãe acaba com as dúvidas que eu tenho, ela não se importa e nunca se importou. Mamãe não me procurou uma vez sequer, não fez uma ligação, não enviou uma mensagem e nem mesmo um e-mail para demonstrar que sente a minha falta, que está arrependida por ter dito tão duras palavras. Saber que ela seguiu em frente esquecendo completamente que há um pedaço dela em algum lugar dói, machuca como um inferno.
Eu pensei dezenas de vezes em quebrar essa barreira que se instalou entre nós, mas meu orgulho ferido me impede de procurá-la e a minha razão me instrui a seguir o meu caminho, deixar que o tempo coloque tudo em seu devido lugar.
Christopher me ligou algumas vezes durante essa semana, mas ignorei todas as vezes. De nada adianta alimentar um sentimento que está fadado ao fracasso. O que nos resta são apenas boas lembranças de momentos que nunca deveriam ter acontecido e que eu me arrependo até o meu último fio de cabelo. Eu não consegui evitar, quando dei por mim já havia me apaixonado. Christopher está impregnado em minhas entranhas e por mais que eu tente esquecer, nem mesmo a força do tempo poderá apagar. Eu o amo muito e sei que nunca sentirei o mesmo por outra pessoa.
Para tentar suprir a falta que todos me fazem, eu me entrego aos estudos, não que eu tenha obtido grande resultado, mas estou tentando e isso é o mais importante. Mesmo que tudo pareça impossível, que muitas vezes pensamos em desistir, que o nosso corpo clame por dias isolados em um quarto escuro deitados na cama entregues à dor, nós devemos tentar com afinco, com a mesma intensidade que um dependente químico em reabilitação. Ele luta para se libertar do prazer momentâneo que a droga o submete, mas, no fundo, ele sabe o mal que ela causa, e manter distância é um grande desafio que é vencido dia após dia.
E assim eu vou sobrevivendo, prisioneira dos meus sentimentos, trancada dentro de um quarto rodeada por cadernos e livros, estudando para a prova que irei fazer com a intenção de entrar em uma boa faculdade.
Vovó tem sido a minha companheira todos os dias. Ela me ajuda a estudar para prova, dedica boa parte do seu tempo para conversar comigo em uma tentativa de que eu me sinta bem e não sofra tanto com a distância. Ela sabe o quanto a minha mãe é importante para mim, o quanto a ausência dela tem me afetado. Eu não disse nada sobre Christopher, ocultei essa parte da história, pois fiquei com medo do que ela poderia pensar a respeito. Eu disse que a gravidez foi um dos motivos que me fez decidir em vir para Vegas antes do previsto, mas esse não é o único motivo, então não menti para ela, apenas omiti parte da história.
Sua companhia me faz bem, suas palavras de consolo, seu carinho e incentivo me fazem recordar de Ada e da saudade que sinto dela. Já Lucca continua se portando como uma criança de cinco anos desde que cheguei, em alguns momentos tenho vontade de dar um tapa nele para ver se acorda, mas em outros tenho vontade abraçá-lo. Em alguns raros momentos eu consigo ver que por trás daquele homem com alma de garoto durão tem um grande coração.
Ainda perdida em pensamentos, ouço algumas batidas à porta.
— Entre — digo enquanto me sento com as costas apoiadas no travesseiro na cabeceira da cama.
Eu vejo Carol colocar a cabeça na fresta da porta com um sorriso largo em seus lábios, então fecho os livros e os empilho sobre a cama, esfregando lentamente as mãos em meus olhos exaustos pelas longas horas de estudo.
— Senhorita Thompson, o almoço será servido em alguns minutos.
— Em primeiro lugar, sem essa de senhorita, Carol, nós já falamos sobre isso — eu a repreendo e recebo um sorriso divertido em resposta.
— Está bem, desculpe-me, senho... quer dizer, Julha.
— Ótimo, assim está bem melhor — dou um sorriso amável. — Eu vou tomar um banho rápido e já desço.
— Está bem. Com licença. — Ela se vira e sai.
Tomo um banho rápido e desço. Ao entrar na sala de jantar, vejo que Lucca já começou a almoçar sozinho. Como pode ser tão mal-educado? Respiro fundo e engulo em seco os desaforos que tenho na ponta da língua para dizer ao meu primo. Tratá-lo da mesma maneira que ele me trata não é a melhor alternativa para que seja erguida uma bandeira de paz entre nós.
— Boa tarde — digo ao tomar o meu lugar à mesa.
— Você demorou muito, então pedi para servirem o almoço. — Ele dá de ombros.
Escolhendo as palavras certas para dizer, eu entreabro os lábios, mas fecho quando me dou conta que não adianta perder tempo com um moleque mimado.
Acho que alguém encontrou um concorrente à altura. Mais uma vez o meu demônio interior se manifesta.
Volto a minha atenção para Carol, que acaba de entrar na sala trazendo uma travessa com molho em suas mãos.
— Carol, poderia levar o meu almoço para o quarto, por favor? — peço.
Ela me olha com os olhos arregalados em surpresa, mas assente com a cabeça e se retira.
— Você vai me deixar almoçar sozinho? — Lucca me fita com fúria nos olhos antes de descansar o garfo sobre o prato e limpar os lindos lábios carnudos no guardanapo. — É muita falta de educação da sua parte, querida prima.
— Ah, sério? — Cruzo os braços na altura dos seios e rio com ironia. — Mas não foi isso que você pensou quando decidiu que o almoço poderia ser servido sem ao menos esperar que eu estivesse à mesa — digo entredentes.
— Você é vingativa — ele ri com desdém.
— Você ainda não viu nada — rebato. — Bom apetite — digo enquanto saio.
(...)
Desperto sob a luz do luar, então me dou conta que eu havia dormido além do que pretendia. Uma corrente fria entra pela janela do quarto, anunciando que o inverno está se aproximando. A bandeja que eu havia deixado sobre o criado-mudo já não se encontra mais, o que indica que Carol havia vindo retirá-la.
Prendo os meus cabelos num coque frouxo, visto o meu suéter, calço meus chinelos e desço para ver se vovó chegou. Assim que entro na sala de estar, sou recebida pelo calor do aquecedor. Não encontro vestígios de vovó pelo ambiente, então, ao invés de perambular pela casa, decido ir até a cozinha em busca de alguém que possa me dizer o paradeiro da minha avó.
— Licença — digo ao entrar na cozinha e encontrar as funcionárias ocupadas com seus afazeres.
Imediatamente, elas param o que estão fazendo e se viram para mim.
— Boa noite, Julha, em que podemos te ajudar? — Amy, uma das mulheres, pergunta, um largo sorriso está presente em seu rosto.
— Eu vim aqui por dois motivos. Primeiro, para agradecer a Carol por ter recolhido a bandeja do almoço em meu quarto. Eu acabei adormecendo e me esqueci de trazê-la.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O Padrasto 1
?...
Cadê os outros capítulos...
?...
??...
Libera mais...
Cadê os outros capítulos?...
Não teve ainda atualização dos capítulos...