O pecado original romance Capítulo 1

Trinta e tantos anos, casada desde os dezoito com o mesmo homem que namorava desde os quinze, dono do seu primeiro beijo. Na verdade, dono da única boca a qual Eva havia beijado na vida. Ela nunca se havia imaginado com outro homem. Eric era bonito, esperto e bem-sucedido. Os dois não haviam tido filhos, o que a deixava completamente livre para o marido, o trabalho e seus hobbys. Ele era o gerente comercial de uma empresa consolidada no mercado nacional. Eva nunca havia demonstrado grande interesse pelos pormenores do seu trabalho. Desde que ele fosse feliz e pagasse sua parte nas contas da casa, ela estaria satisfeita. Já ela, tinha uma pequena empresa de design de interiores. Era a chefe de dois funcionários e era realizada profissionalmente. Dinheiro nunca havia sido um problema para o casal e com o tempo que lhe restava no fim de um dia, Eva cuidava de sua saúde e seu corpo na academia local.

Possuía um corpo bonito e uma beleza singular. Dona de um belo par de olhos azuis e repletos de personalidade, Eva tinha um rosto arredondado e delicado. Sua pele era branca como leite e pintalgada de sardinhas que a conferiam um certo charme pueril. Durante seus treinos, não era incomum ter de se esquivar de convites indecentes de homens e até mesmo de rapazes mais jovens. A bem da verdade, tais convites não a chateavam. Pelo contrário, até a deixavam lisonjeada, fato que ela conseguia esconder com muita categoria. Seu casamento era o principal fator de sua vida e Eva se orgulhava por ser uma esposa fiel e carinhosa.

Seus últimos meses, no entanto, vinham sendo um tanto frustrantes, pois, depois de tantos anos ao lado da mesma pessoa, a criatividade na cama parecia lhe faltar. Eric era um homem um tanto conservador e tradicionalista, não demonstrando um maior interesse por seus fetiches mais extravagantes. Na cama, se haviam deixado escorregar, pouco a pouco, para uma rotina de cores pastel e de tonalidades neutras. Mesmo os lingeries e os brinquedos, os quais enchiam uma gaveta em seu guarda-roupas, já não pareciam mais ser capazes de esquentar as coisas.

— Não acha que está precisando de algo diferente? – Perguntou Melissa, casualmente, entre um gole e outro do cappuccino com "um tiro a mais de chantilly" que costumava pedir no Galeria Café.

— Você acha que já não tentei? Lingeries, brinquedos, posições diferentes. – Eva soou um tanto frustrada. – Cheguei até mesmo a oferecer... – Parou por um momento, baixando ainda mais o tom de voz. – Você sabe... aquilo.

— Cala a boca. Sério? – Melissa quase cuspiu o cappuccino.

— Fala baixo. – Eva pediu, levando sua mão à boca da amiga. – Ele não aceitou. Diz que não é fã desse tipo de coisa. – Suspirou. – Não sei se fiquei feliz ou frustrada por ele não ter aceitado.

— O Eric é muito bonitinho e um ótimo marido, mas é um chato de vez em quando. – Melissa pareceu ofendida pela amiga. – Meus namorados me imploram para me comer por trás.

Eva parecia chocada com a irreverência com a qual a amiga tratava de tais assuntos. Mesmo depois de tantos anos de amizade, ficou, ela mesma, corada como um pimentão diante da sentença, olhando para os lados e tentando perceber se o casal de idosos da mesa ao lado havia ouvido.

— Mas não é disso que estava falando. Quando pergunto se você não está precisando de "algo" diferente, quis dizer "alguém". — Melissa falou a última palavra tampando a lateral da boca, como quem tenta evitar leituras labiais.

O semblante de Eva mudou da curiosidade para o ultraje, demonstrando que havia ficado um tanto ofendida com a simples menção à traição. No entanto não era incomum que os conselhos de sua amiga nessa área fossem efetivos. Afinal, não haviam sido assim sobre assuntos como sexo oral ou àquela visitinha ao sex shop?

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