POV ALICE.
O rosnado que ouvi ecoar pela clínica parecia com o rosnado de lobinho. Meus pés se moveram antes que eu pudesse pensar; corri em direção à sala do doutor, o coração acelerado. Empurrei a porta com força, sem saber o que encontraria.
E então vi a cena: o doutor Henrique estava em pé sobre a mesa de exame, com o semblante pálido e os olhos arregalados, enquanto Héctor, o grande pastor belga, estava com as costas arqueadas, o pelo eriçado, rosnando com dentes à mostra. Ele parecia um lobo selvagem, e o som que saía de sua garganta era ameaçador e intenso. Um arrepio me percorreu a espinha.
— Alice! — gritou o doutor, num misto de alívio e desespero ao me ver. Ele estava tentando manter o equilíbrio, mas seus pés escorregavam sobre a mesa. — Esse cachorro está louco! — Disse desesperado. Respirei fundo e avancei devagar, mantendo o tom de voz baixo e calmo, do jeito que sabia que os animais respondem melhor.
— Héctor… — murmurei, agachando-me devagar para ficar na mesma altura dele. — Está tudo bem, rapaz. Ninguém aqui quer te machucar. Vem cá… — Chamei, eu sabia que era arriscado e ele poderia me atacar.
Por um instante, o olhar feroz de Héctor se suavizou, mas, logo em seguida, ele voltou a rosnar. Notei que havia pequenos espinhos cravados em seu focinho e nas patas, resultado de sua aventura com o porco-espinho norte-americano.
— Doutor, desça devagar. Vou tentar acalmar o Hector, mas você precisa ir com calma — sussurrei, tentando não provocar o animal. Eu conhecia Héctor desde filhote, e era um dos pacientes mais leais, mas, machucado e com dor, qualquer animal se torna imprevisível.
Com a voz calma, continuei chamando por ele, estendendo a mão devagar. Héctor me observava, com o olhar dividindo-se entre mim e o doutor ainda em cima da mesa. Finalmente, ele deu um passo hesitante em minha direção. A tensão em sua postura foi se desfazendo pouco a pouco. Quando ele estava próximo o bastante, toquei suavemente sua cabeça, e ele pareceu relaxar.
— Isso mesmo, garoto. Estou aqui. Vai ficar tudo bem — murmurei, acariciando-o com delicadeza. Héctor deu um pequeno ganido, ainda incomodado com a dor dos espinhos, mas a agressividade sumiu. Com a outra mão e usando uma pinça, comecei a remover, um por um, os espinhos que estavam machucando-o, enquanto o doutor, ainda em choque, descia cuidadosamente da mesa e saía da sala sem fazer barulho.
Héctor soltou um suspiro profundo, como se finalmente pudesse relaxar. E eu continuei falando com ele, num tom baixo e reconfortante, até que todos os espinhos fossem retirados. Ao fim, ele me lambeu a mão com gratidão. Suspirei e minha tarde estava só começando. Mais tarde, despedi-me da Abi e saí da clínica.

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