O Sheikh e Eu(Completo) romance Capítulo 37

Adentrei Helligkeit, o barzinho que Matheus estava, e fui procurando, no meio daquelas tantas pessoas, o meu namorado. O local era cheio e estava bem barulhento, mas o cheiro de comida era perceptível, mesmo que a cerveja fosse o mais pedido nas mesas. Demorei a encontrar Matheus que não tinha me visto ainda e segui em direção a sua mesa, parando a sua frente e cumprimentando-o:

– Oi. – Encucado de onde vinha a voz, Matheus levantou os olhos do celular e logo me avistou, lançando um olhar bem demorado para a minha roupa. Um sorriso rapidamente se estendeu nos seus lábios e ele levantou-se me puxando para ele rapidamente, dando-me um cálido beijo, que me deixou desconcertada diante da demonstração de intimidade na frente de tanta gente. Tentei não corar.

– Olá, Ag.! Você está fabulosa! – Ele disse e eu assenti envergonhada pelo elogio.

– Obrigada. – Disse e Matheus concordou com a cabeça.

– Quer beber alguma coisa? – Ele perguntou e percebi que já havia um copo gigantesco na sua mão. Devia ser a cerveja que todos tanto falavam. Contudo, as imagens de minha bebedeira em Zurique não passaram despercebidas e eu fiquei a pensar em como não queria, agora, dar esse trabalho para Matheus.

– Não, obrigada. – Respondi cortês. Matheus pareceu boquiaberto por um instante.

– Agnes. Você realmente vai vir a Munique e não vai experimentar uma das cervejas que mais se falam no mundo todo? – Ok. Matheus era muito bom em pressão psicológica. Pensando por esse lado, eu não sabia como recusar. Ele estava certo. Talvez acompanhando alguns petiscos, a minha fraqueza para bebidas não seria tão perceptível. Eu acho. Vai saber. Assim espero. Dei de ombros. – A gente pede alguns petiscos. – E dito isso, sem esperar a minha resposta, Matheus estendeu a mão pedindo, assim, que um garçom chegasse até ele.

– Ok. – Respondi corando. Que assim fosse então.

Eu não conseguia me entender. Talvez fosse anos de relacionamento com Matheus. Talvez a intimidade que tínhamos. Eu não conseguia dizer não para ele. Não conseguia me impor. No fim, só percebia que eu concordava com tudo o que ele falava e aceitava sem muita lógica. Sempre foi assim e eu não reclamava. E não conseguia. Simplesmente assim. Matheus conseguia me desconcertar com aquele sorriso que vinha até mim e com seus joguinhos de psicologia que sempre faziam o meu coração ficar apertado toda vez que ele tocava nas lembranças boas que tivemos até então. Era quase como se ele conseguisse me fazer esquecer as lembranças ruins.

– É.... – Começou Matheus e percebi que ele estava segurando um cardápio e apontando para alguma coisa. Também apontou para a cerveja que segurava e estendia o dedo em mais um. Mesmo assim, o garçom, pacientemente, tentava entender, enquanto repetia:

– Uma cerveja e batata frita? – Fiquei a pensar se me intrometia. Não lembrava que Matheus não falava Alemão. Talvez o meu costume de ter Seth respondendo para mim sem me preocupar muito. Agora era a hora de eu treinar o meu alemão enferrujado. Limpei a voz.

– Sim, por favor. É isso mesmo, Senhor. – Respondi e o garçom me olhou. Parecia mais aliviado ao perceber que eu conseguia o responder e assentiu saindo com os pedidos anotados e prontos para serem entregues. Quando voltei meus olhos para Matheus, descobri um garoto babando enquanto seus olhos brilhavam na minha direção. Não pude deixar de baixar o olhar, corando. Oras, Matheus sabia que eu estava fazendo alguns cursos de línguas.

Ele só sempre se gabou pelo seu inglês impecável não me deixando tempo para falar muito sobre mim. Era sempre como ele era bom, como ele conseguia tudo, etc, etc, etc.

– Uau. – Matheus assoviou. – Você fala alemão. – Ele comentou. Dei um sorriso tentando afastar o clima que tinha ficado. Então Matheus continuou: – Cada dia que passa, fico mais encantado por você. – E ali estava o Matheus que me deixava desconcertada.

– Ah, não é nada demais. – Comentei e Matheus negou com a cabeça.

– Claro que é! Você é a mina mais nerd e linda que conheço! Tipo quase aquela menina do Star Wars. – Ele me olhava como se esperasse que eu completasse ele. Desconcertada, demorei para respondê-lo:

– A Rey? – Perguntei timidamente. Eu não era nerd só por gostar de Star Wars, pensei com os meus botões.

– Isso! – Ele deu uma longa risada. – Você sabe tudo. – Eu já ia negar a bajulação tola de Matheus, se a minha cerveja, junto das batatas não tivesse chegado e então eu passei a bebericar e comer algumas batatas. Não queria sair dali bêbada.

– Bom. – Comecei tentando mudar de assunto. – Amanhã você tem uma entrevista? – Perguntei e Matheus levantou a cabeça subitamente animado.

– Sim. Uma entrevista de emprego para engenheiro elétrico. – Ele parecia animado com isso. – Pode ser que eu ganhe um contrato para fazer estágio. – Balancei a cabeça num aceno. – Estou tão animado, Ag. – E então Matheus tocou as minhas mãos que estavam na mesa e, embora eu tenha tido um pequeno susto com a ação, apenas fiquei encarando as suas mãos ali nas minhas, esquentando-as, sem, tampouco, mexer-me.

– E você? – Ele perguntou mudando de assunto. – Como está lá na Mansão do Sheikh? Muito trabalho? – Ele riu retirando as mãos das minhas e eu tentei ocupá-las segurando a caneca de cerveja, bebendo à medida que ele bebia a dele também.

– Sim. – Bufei. – Você nem imagina. – Tentei não rir do meu próprio comentário, porque se Matheus imaginasse, daí sim seria perigoso e complicado.

– Mas estou segurando as pontas. – Disse pôr fim e Matheus concordou.

– Você sempre dá, Ag. – Ele disse e piscou. – Lembra de quando a gente começou o nosso namoro e eu fui pedir a conta no nosso primeiro encontro e você insistiu para que pagasse? – Comecei a lembrar da cena, vagamente. Matheus continuou: – E eu insisti que não precisava e você disse que sempre segurara as próprias pontas? Você estava trabalhando naquela loja de roupas, apertada como sempre para ajudar nas contas de casa, na faculdade e comigo. Mas você não queria demonstrar que precisava de alguém. E você sempre foi assim. – Comentou Matheus como se estivesse refletindo sobre mim. Eu lembrava perfeitamente disso.

Para quem olha por fora, Matheus pode parecer um garoto extremamente grudento e falante, até um pouco apaixonante, se pensarmos assim. Ele bajula, diz que você está linda e sempre que termina de fazer uma pressão psicológica, para não ficar tão na cara, tenta sempre contar uma cena de quando te conheceu, ou alguma coisa feliz que possa se juntar ao momento e fazer-se esquecer, momentaneamente, do jogo que ele faz. Ele não é burro e, à primeira vista, as pessoas demoram a perceber qual é a dele.

Eu só fui perceber no segundo ano de namoro.

Ele parece o garoto de ouro, que quer fazer você sorrir sempre, mas ele sempre quer mais de você. E eu já estava esperando o que ele ia me pedir, até que ele apertou a minha mão que estava na mesa e me fez olhar em seus gentis olhos enquanto me perguntava:

– Ag. Você me dá uma ajuda? – O olhei esperando que ele continuasse. – Não trouxe dinheiro o suficiente para cá.... Se você puder pagar a conta de hoje... – E ali estava o jogo de Matheus. A sua carinha tristonha, o seu jogo psicológico. Ele contara uma cena de algo que eu fiz e me orgulhava muito, como uma pressãozinha para que eu fizesse novamente. E, me sentindo extremamente incomodada depois das lembranças na minha mente, eu simplesmente não conseguia dizer não para ele. E, mesmo conhecendo todo o joguinho dele e sabendo, incansavelmente, que ele fará sempre e que sempre faz, eu não consigo me desvencilhar de cair como um patinho feio. E, então, acreditar, já dentro do jogo psicológico.

– Claro. – Disse com um humor já ácido. Só porque eu não conseguia fugir, não queria dizer que eu gostava. E eu, sinceramente, não gostava nem um pouco. Sim, confesso que muitas vezes Matheus me ajudara, até mesmo nos tratamentos da minha irmã, pagando. Mas acredito que já tínhamos intimidade o suficiente para sermos sincero. Ele podia ter dito isso de cara e não criar um rodeio todo para que eu pudesse responder sim. Bufei. Mas já era tão típico dele.

Matheus alargou um sorriso enquanto pedia para que o garçom trouxesse mais duas, estendendo a caneca dele e fazendo um número dois com os dedos. O garçom pareceu entender e foi atrás dos nossos pedidos e eu voltei minha atenção para Matheus enquanto voltávamos a conversar.

Dessa vez, depois do clima que Matheus já tinha causado, a conversa fluiu mais facilmente. Afinal, ele já tinha feito o joguinho dele, não precisava de mais nada. Eu que me virasse depois engolindo seco com a fatura que viria daquele dia nosso. Mas deixei para pensar nisso depois. Comecei uma conversa com Matheus e então continuamos a nos falar, dessa vez mais com mais tranquilidade enquanto as batatas e canecas chegavam uma atrás da outra.

Falamos então sobre tudo. E, obviamente, o meu riso começou a sair mais fácil. Eu me tornava uma bêbada risonha e que não media o que falava. Estava mais calma e relaxante depois de alguns copos e então ria e conversava sobre tudo com Matheus conforme as horas iam avançando.

Falamos sobre tempo, porque, por algum motivo, Matheus decidiu comentar que ali estava bem frio. Depois falamos sobre roupas, futebol, política, falamos sobre a minha família e Matheus, inclusive, chegou a comentar sobre a sua, algo como seus pais estarem furiosos com ele e não quererem dar mais nenhum tostão para ajudá-lo. Não compreendi muito. Estava começando a rir de tudo o que ele falava e ele continuava falando... E muito....

E as horas continuavam avançando. Tocamos em assuntos de comida e depois em religião. Eu estava começando a ter os ares de bêbada, que disse a mim mesma que nunca mais teria, enquanto falava:

– Eu daria uma linda muçulmana, você não acha, Math? – E Matheus gargalhou enquanto falava no seu humor ácido:

– Acho que prefiro você menos vestida, Ag. – E eu não liguei para o que ele falava, dando de ombros.

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