Perdição de Vizinho romance Capítulo 15

Cale a boca, querido, e mostre a que veio

Mãos santas, elas me tornarão uma pecadora?

Como um rio, como um rio

Cale a boca e me percorra como um rio

River - Bishop Briggs

(...)

Ella

Se eu disser que estar com o Justin foi ruim, estarei mentindo descaradamente. Porque foi exatamente o oposto. Até queria me manter distante, assim como ele afirmou ser sua vontade também, mas tem algo, não sei dizer, que parece querer nos aproximar. 

No carro, quando ele citou sobre eu saber apenas o que fosse importante, suas palavras me deixaram bastante intrigada. Não exatamente pelo que disse, mas pela impressão que o semblante dele passava. Costumo ser bastante observadora e consigo traduzir as pessoas apenas com o olhar — algo que não deu muito certo com o Marcelo — pois, caí feito um patinho nas garras dele, não consegui perceber as intenções daquele cretino.

Confesso que todo dia trabalho minha mente para esquecer o que aconteceu, mas é difícil. Já até me indicaram consultar uma psicóloga, porém, não sei… Não consigo falar sobre esse assunto nem mesmo com quem conheço, que dirá com um desconhecido. É como se eu travasse uma batalha, um conflito comigo mesma sempre que alguém me faz lembrar disso. Já faz mais de um ano, contudo, para mim, é como se tivesse sido ontem.

E aquele abraço que dei no Justin, em um momento de euforia? Parecia tão certo estar ali, naquele lugar, naquele momento, com ele. Pela primeira vez, em tempos, não me assustei ao ser tocada por um homem. Pela primeira vez, me senti bem, protegida… É loucura, eu sei! Mas minha mente diz exatamente o contrário. Diz que posso me entregar, que posso me permitir, que posso viver outra vez. 

Me afastei, porque sei que se eu não mantiver uma certa distância, isso poderá me causar problemas futuros.

— É… Desculpa, não deveria ter feito isso. — digo envergonhada, após sair do abraço.

— Porque está se desculpando? "Fazer o que tiver vontade" — faz aspas com os dedos — Lembra? — arqueia as sobrancelhas.

Ele está me fazendo lembrar do que conversamos na primeira vez em que esteve em meu apartamento, quando citou que as pessoas complicam demais a vida.

— Somos amigos e amigos se abraçam. Não há nada demais nisso. — dá de ombros.

É, queria que minha mente entendesse isso…

— Claro, tem razão. 

— O que a senhorita vai querer de prêmio? — o senhor de meia-idade, que está no comando da barraca de tiros, nos tira da nossa bolha de tensão.

— Anh… — comprimo os lábios, mirando as opções.

— Escolha o que quiser.

Vejo um urso gigante, marrom, com um laço razoavelmente grande e vermelho, no pescoço. Sorrio somente em imaginar minha cabeça repousada nele ou, eu dormindo com ele esparramados na cama.

— Aquele ali. — aponto.

— Excelente escolha, acho até que ele estava te encarando. — sorrindo gentilmente e sendo bastante simpático, o senhor pega o urso e vem até mim.

Fico meio desajeitada para segurá-lo e ouço uma risadinha do Justin.

— Não é mais fácil pedir ajuda? — me faz olhá-lo.

— Não sou boa em pedir favores, principalmente se tratando de homens, geralmente sempre querem algo em troca.

Ele solta uma lufada de ar.

— Mulheres… — pega o urso em minhas mãos e o coloca entre seu braço e a costela — Vamos comer alguma coisa.

Nem espera por resposta, pega minha mão e me guia pelo parque. Paramos em frente a uma barraquinha de churros. Meus olhos brilham e chego a salivar, vendo a mulher colocar o recheio de doce de leite. A fila está imensa, mas nem isso me desanima para o que está por vir. 

— Se quiser, podemos ir comer em outro lugar. 

— O que disse? — pergunto com as sobrancelhas arqueadas, após ser tirada do transe por ele. Só então, percebo que está olhando para mim.

— A fila, tem muita gente esperando. — me analisa e rio sem graça.

— Você acaba de descobrir que sou apaixonada por churros. Sendo assim, sou capaz de enfrentar toda essa gente para comer essa iguaria. — ele sorri, me olhando tão intensamente, que parece despir minha alma. Como se quisesse me desvendar.

Após uma infinidade de pessoas serem atendidas, finalmente chega a nossa vez. Peço o recheio de doce de leite e ele me acompanha.

— Ella? — chama minha atenção assim que sentamos num banco para comer.

— Sim. — respondo ao dar uma mordida.

— Não quero que as coisas fiquem estranhas entre nós, porque transamos. 

— Não estão. 

— Então, porque ficou sem graça quando me abraçou?

— Não fiquei. — desvio o olhar para ele não notar a verdade em meus olhos.

— Para com isso, Ella. Seja honesta comigo, por favor… — toca em meu braço, quase suplicando.

Suspiro pesadamente.

— Olha, Justin… Não vou negar que é uma situação estranha tudo isso. Eu quero curtir essa coisa entre nós, porque apesar de tudo, gosto da sua companhia e faz tempo que o único homem que deixo se aproximar de mim é o Oliver. 

— Oliver? — pergunta franzindo o cenho.

— Meu melhor amigo. 

— Aquele que estava na boate com você? — meneio a cabeça em afirmação.

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