Resumo do capítulo Capítulo 14 do livro Perdição de Vizinho de Alê Santos
Descubra os acontecimentos mais importantes de Capítulo 14, um capítulo repleto de surpresas no consagrado romance Perdição de Vizinho. Com a escrita envolvente de Alê Santos, esta obra-prima do gênero Romance continua a emocionar e surpreender a cada página.
Cale a boca, querido, e mostre a que veio
Mãos santas, elas me tornarão uma pecadora?
Como um rio, como um rio
Cale a boca e me percorra como um rio
River - Bishop Briggs
(...)
Ella
Se eu disser que estar com o Justin foi ruim, estarei mentindo descaradamente. Porque foi exatamente o oposto. Até queria me manter distante, assim como ele afirmou ser sua vontade também, mas tem algo, não sei dizer, que parece querer nos aproximar.
No carro, quando ele citou sobre eu saber apenas o que fosse importante, suas palavras me deixaram bastante intrigada. Não exatamente pelo que disse, mas pela impressão que o semblante dele passava. Costumo ser bastante observadora e consigo traduzir as pessoas apenas com o olhar — algo que não deu muito certo com o Marcelo — pois, caí feito um patinho nas garras dele, não consegui perceber as intenções daquele cretino.
Confesso que todo dia trabalho minha mente para esquecer o que aconteceu, mas é difícil. Já até me indicaram consultar uma psicóloga, porém, não sei… Não consigo falar sobre esse assunto nem mesmo com quem conheço, que dirá com um desconhecido. É como se eu travasse uma batalha, um conflito comigo mesma sempre que alguém me faz lembrar disso. Já faz mais de um ano, contudo, para mim, é como se tivesse sido ontem.
E aquele abraço que dei no Justin, em um momento de euforia? Parecia tão certo estar ali, naquele lugar, naquele momento, com ele. Pela primeira vez, em tempos, não me assustei ao ser tocada por um homem. Pela primeira vez, me senti bem, protegida… É loucura, eu sei! Mas minha mente diz exatamente o contrário. Diz que posso me entregar, que posso me permitir, que posso viver outra vez.
Me afastei, porque sei que se eu não mantiver uma certa distância, isso poderá me causar problemas futuros.
— É… Desculpa, não deveria ter feito isso. — digo envergonhada, após sair do abraço.
— Porque está se desculpando? "Fazer o que tiver vontade" — faz aspas com os dedos — Lembra? — arqueia as sobrancelhas.
Ele está me fazendo lembrar do que conversamos na primeira vez em que esteve em meu apartamento, quando citou que as pessoas complicam demais a vida.
— Somos amigos e amigos se abraçam. Não há nada demais nisso. — dá de ombros.
É, queria que minha mente entendesse isso…
— Claro, tem razão.
— O que a senhorita vai querer de prêmio? — o senhor de meia-idade, que está no comando da barraca de tiros, nos tira da nossa bolha de tensão.
— Anh… — comprimo os lábios, mirando as opções.
— Escolha o que quiser.
Vejo um urso gigante, marrom, com um laço razoavelmente grande e vermelho, no pescoço. Sorrio somente em imaginar minha cabeça repousada nele ou, eu dormindo com ele esparramados na cama.
— Aquele ali. — aponto.
— Excelente escolha, acho até que ele estava te encarando. — sorrindo gentilmente e sendo bastante simpático, o senhor pega o urso e vem até mim.
Fico meio desajeitada para segurá-lo e ouço uma risadinha do Justin.
— Não é mais fácil pedir ajuda? — me faz olhá-lo.
— Não sou boa em pedir favores, principalmente se tratando de homens, geralmente sempre querem algo em troca.
Ele solta uma lufada de ar.
— Mulheres… — pega o urso em minhas mãos e o coloca entre seu braço e a costela — Vamos comer alguma coisa.
Nem espera por resposta, pega minha mão e me guia pelo parque. Paramos em frente a uma barraquinha de churros. Meus olhos brilham e chego a salivar, vendo a mulher colocar o recheio de doce de leite. A fila está imensa, mas nem isso me desanima para o que está por vir.
— Se quiser, podemos ir comer em outro lugar.
— O que disse? — pergunto com as sobrancelhas arqueadas, após ser tirada do transe por ele. Só então, percebo que está olhando para mim.
— A fila, tem muita gente esperando. — me analisa e rio sem graça.
— Você acaba de descobrir que sou apaixonada por churros. Sendo assim, sou capaz de enfrentar toda essa gente para comer essa iguaria. — ele sorri, me olhando tão intensamente, que parece despir minha alma. Como se quisesse me desvendar.
Após uma infinidade de pessoas serem atendidas, finalmente chega a nossa vez. Peço o recheio de doce de leite e ele me acompanha.
— Ella? — chama minha atenção assim que sentamos num banco para comer.
— Sim. — respondo ao dar uma mordida.
— Não quero que as coisas fiquem estranhas entre nós, porque transamos.
— Não estão.
— Então, porque ficou sem graça quando me abraçou?
— Não fiquei. — desvio o olhar para ele não notar a verdade em meus olhos.
— Para com isso, Ella. Seja honesta comigo, por favor… — toca em meu braço, quase suplicando.
Suspiro pesadamente.
— Olha, Justin… Não vou negar que é uma situação estranha tudo isso. Eu quero curtir essa coisa entre nós, porque apesar de tudo, gosto da sua companhia e faz tempo que o único homem que deixo se aproximar de mim é o Oliver.
— Oliver? — pergunta franzindo o cenho.
— Meu melhor amigo.
— Aquele que estava na boate com você? — meneio a cabeça em afirmação.
Se forma um redemoinho em minha mente. Mil e um pensamentos se passam e, em todos eles, quero mandá-lo para a puta que o pariu.
Sem saber o que dizer, apenas saio de seu colo, me recomponho e desço do carro, batendo a porta com força. Entro no prédio pisando duro. Irritada, estressada e indignada com sua atitude de merda.
Ai que ódio! Porque me deixei levar? Porque fiquei tão vulnerável a ele?
— Aaaaaah! — grito assim que entro em meu apartamento e encosto na porta fechada.
Um grito rasgado, repleto de sentimentos frustrados. Quero matá-lo e jogar sua carcaça aos cães.
Com as luzes apagadas, levanto um pé por vez e retiro os sapatos e a roupa — já que as janelas estão fechadas — sigo para o quarto e entro no banheiro. É tudo que quero fazer agora, permitir que a água caindo sobre meu corpo leve embora tudo que estou sentindo. Meu sexo ainda pulsa em desejo, posso senti-lo sem ao menos tocar. Um desejo reprimido.
Saio do banho, após alguns minutos, me seco e visto um pijama qualquer. Sinto algo roçar em minhas pernas, seguido de um miado constante.
— Oi, meu amorzinho — falo com mansidão — Como foi sua noite? — me abaixo para carregá-lo.
Ele mia outra vez.
— Espero que tenha sido melhor que a minha. Vamos, vou colocar sua ração. — como se entendesse o que acabo de dizer, pula apressado para o chão, correndo para fora do quarto.
Ele para em frente ao pote de ração e mia novamente.
— Você é um esfomeado, sabia? Espero ter bastante cliente para poder te alimentar pelo resto da vida. — comento, enquanto encho o pote dele com ração.
Imediatamente ele come. Por um instante ele me olha como o gato de botas do filme Shrek, que se torna impossível não me sentir bem somente em tê-lo por perto. Eu amo essa coisinha fofa, não posso negar.
Aliso seu pelo macio e vou para a sala, deixando-o comer em paz.
Ligo a luz que ainda estava desligada e sento no sofá. Ligo a tv, porque sei que mesmo tentando, não irei conseguir dormir agora. Com o controle em mãos, mudo de canal impacientemente, sem conseguir escolher algo que me agrade. Verdade seja dita: nada irá agradar nesse momento, além de sexo. E se possível, sexo selvagem.
Até penso em aliviar minha tensão com meu amigo vibrador, no entanto, dessa vez, nem pensar nele me anima. Não depois de sentir o Justin dentro de mim, dizendo tantas sacanagens quanto podia, me fazendo sentir uma mulher desejada depois de tanto tempo. Me fazendo sentir mulher, como há muito não acontecia.
Eu: Alguém acordado?
Quando dou por mim, já enviei a porcaria da mensagem. Em instantes, Oliver responde, seguido pela Babi e Lexi.
Oliver: Diga, minha deusa.
Barbara: Lembrou dos pobres, amada?
Vejo que Alexia enviou apenas um emoji de dois olhos, tipicamente curiosa, o que me faz rir brevemente. Quando iria respondê-los, me assusto com o som da campainha. Franzo o cenho porque não estou esperando ninguém. Largo o celular no sofá, sabendo que pagarei caro por isso depois, pois, certamente, eles ficarão putos comigo. Aproximo meus olhos do olho mágico na porta e sou surpreendida com a imagem do Justin.
Mas que porra ele está fazendo aqui?
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Perdição de Vizinho
Lindo, estou chorando 😢 😢 até agora...