Perdição de Vizinho romance Capítulo 17

Me ame como você faz

Você é a luz, você é a noite

Você é a cor do meu sangue

Você é a cura, você é a dor

Love Me Like You Do - Ellie Goulding

(...)

Ella

Eu queria poder dizer muitas coisas, fazer muitas coisas, como por exemplo, me afastar, ser firme em minha decisões, dizer não ao Justin depois que ele me fez fazer aquele papelão no carro, mas tenho aprendido aos poucos que quando se trata dele, as coisas não serão conforme a minha própria vontade. Porque minha mente pode até dizer não, porém, todo o resto diz sim. E, isso me mata, só faz aflorar ainda mais meus medos. 

Prometi a mim mesma, após o divórcio, que jamais me entregaria tão facilmente a um homem, que dessa vez, quando finalmente eu me permitisse entrar em uma relação — se é que posso chamar assim o que tenho com o Justin — seria eu quem daria as cartas. O único problema nisso tudo, é que é impossível um ser humano sequer conseguir conciliar a razão e a emoção. Porque um sempre vai querer algo diferente do outro e é aí que está o conflito.

Ao abrir os olhos, sinto o peso. Não do corpo dele sobre o meu, mas consciência bater, é como segurar um caminhão com toneladas e mais toneladas. Com uma das mãos no colchão, sentada, viro meu rosto para olhá-lo, ele dorme de bruços, serenamente, como se nada o preocupasse ou afligisse. Solto um longo suspiro, tentando entender porque simplesmente não consigo me afastar, nem mesmo rejeitá-lo. Tenho tido tudo planejado, aliás, planejei toda a minha vida desde o rompimento com o Marcelo, o principal era jamais cair nas garras de um cafajeste como ele, que basta uma vagabunda aparecer, esquece tudo o que viveu ao lado daquela a quem jurou amor eterno, em frente a um padre, um juiz e testemunhas.

A questão agora é: será que não estou enganada a respeito do Justin? Será que ele é como eu penso ou somente mostra uma parte superficial de sua vida, para que as pessoas ao seu redor pensem que ele é realmente desse jeito? 

São tantas perguntas e todas sem respostas.

Sou tirada do meu momento reflexivo pelo som da campainha. Franzo o cenho porque não estou esperando ninguém. 

Como estou nua, visto a calcinha que está jogada no chão e coloco o robe pelo meu corpo, fechando-o com um nó e vou até a porta. Me apresso porque, quem quer que seja, toca a porcaria da campainha como se esse botão fosse um clitóris. Que inferno!

Fico tão indignada, que nem mesmo vejo quem é, através do olho mágico.

— Mas que porr… — abro a porta enfurecida, porém, não concluo minha frase, paro com os olhos arregalados ao ver meus três melhores amigos parados, diante de mim, com cara de preocupação.

Volto a olhar para dentro, procurando por alguma daqueles calendários de parede e poder conferir se confundi o dia de hoje, talvez seja segunda e, devido a noite que tive, não lembro.

— Que Droga, Ella? Você quer nos matar? — Alexia é a primeira a se pronunciar, seu semblante não é dos melhores. Está puta.

— O que estão fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa? — continuo estática e com o cenho franzido, sem entender absolutamente nada.

— Sim, aconteceu. Aconteceu que a senhorita parou de nos responder ontem a noite e não deu mais sinal de vida. Já te ligamos inúmeras vezes e só Deus sabe quantas, mandamos mensagem. — Barbara rebate.

— Puta que pariu! — bato a mão na testa, lembrando do ocorrido e contendo uma risada porque sei que eles têm razão.

— Do que está rindo, filha da puta? — Alexia pergunta, me olhando seriamente. Tenho vontade de rir ainda mais por ela estar me xingando e com razão.

— Responde, Ella Murray. Antes que eu desça do salto. — pela primeira vez, Oliver se pronuncia, cruzando os braços abaixo do peito.

— Gente, mil desculpas — dessa vez não me contenho e acabo rindo, deixando-os confusos — Eu esqueci completamente de responder vocês.

— Ok — Oliver respira fundo, fechando a mão na frente do rosto em sinal de pavio curto e comprime os lábios — E podemos saber qual a razão para o esquecimento? — seu tom de voz soa debochado, porém, não é isso que me incomoda e, sim, lembrar que se eu contar o motivo, posso me comprometer.

Droga!

— Estamos esperando… — Oliver comenta e os três me encaram com expectativa.

— É… A razão… — engulo em seco, sentindo minhas mãos gelarem.

— Atrapalho? — o olhar dos três segue o som da voz grave, rouca e sonolenta do Justin, bem atrás de mim.

Fecho os olhos, contando até dez mentalmente, esperando que isso não passe de um sonho, no entanto, ao abri-los, vejo meus amigos boquiabertos, não desviando a visão do Justin.

— Agora está explicado, sua safada! — Oliver comenta de um jeito espalhafatoso e sem o menor pudor. 

Tenho vontade de enfiar minha cara num buraco. 

— Bom dia, lembro de vocês, mas acho que ainda não nos apresentamos formalmente — ele põe a mão em minha cintura, afastando-me mais para o lado para cumprimentá-los como se fosse a coisa mais normal do mundo — Sou o Justin e você deve ser o Oliver. — estende a mão na direção do meu amigo, sorrindo.

O sorriso que ganha qualquer mulher. E um homossexual também.

— Sim, mas você pode me chamar do que quiser… — Oliver o responde cheio de malícia.

Reviro os olhos.

— Barbara. — sorrindo, ela estende a mão para cumprimentá-lo.

— Alexia. — ela faz o mesmo, sorrindo cinicamente e dividindo o olhar entre ele e eu. 

Já sei bem o que me espera…

— É um prazer conhecê-los e adoraria ficar, mas acredito que queiram conversar com a amiga de vocês a sós. 

Detesto o fato dele ser tão sedutor. Que ódio!

— Não nos importaremos se quiser ficar… — Alexia diz com um sorrisinho cínico.

— O Justin com certeza deve ter coisas mais importantes para fazer, do que ficar numa roda de amigas fofoqueiras — digo, empurrando-o pelas costas, quase o enxotando de minha casa — Vão entrando, que eu já venho.

Puxo ele pelo braço para um canto.

— O que pensa que está fazendo? — pergunto com uma expressão séria.

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