Perdição de Vizinho romance Capítulo 32

Vamos falar da noite passada, você foi dormir

Nem sequer falou comigo

Você me deixou com perguntas, angustiante

Você traz o pior de mim

Problem with You - Sabrina Cláudio 

(...)

Ella

Acordo lentamente, sentindo carícias em meu rosto, mas ainda permaneço de olhos fechados. Sinto-me muito bem em estar nos braços dele, poder sentir seu cheiro delicioso. Queria que o tempo parasse, para que pudéssemos permanecer assim, só nós dois.

— Ella? — sua voz rouca me chama.

Me sinto na obrigação de abrir os olhos, ainda que contra a minha vontade. O faço, sorrindo.

— Bom dia, meu amor — lhe desejo — Continua, estava tão bom… — me refiro ao carinho.

Ele está deitado de lado, com a cabeça apoiada sobre a mão. Seu semblante é sério, não consigo ver o brilho em seus olhos, aquele que sempre direciona a mim.

— Bom dia. O que está fazendo aqui? — seu tom de voz soa seco.

Estranho, pois, esse não parece ser o homem pelo qual me apaixonei.

— Você não estava bem ontem, decidi ficar para o caso de você precisar. O que está havendo, Justin? Aliás, porque está estranho? Porque não atendeu as inúmeras ligações que fiz ontem a noite? — me ajeito na cama, ficando de frente para ele.

O encaro seriamente, tentando compreendê-lo.

— Ella… Sinto muito, mas não podemos ficar juntos… — esbugalho meus olhos com suas palavras.

Entreabro meus lábios sem acreditar no que acabo de ouvir.

— Como assim, Justin? Pelo amor de Deus! O que houve para te fazer mudar de ideia sobre mim tão rapidamente, ou melhor, sobre nós? — percebo que minha voz está meio exaltada.

Em um ímpeto, me sento na cama, completamente confusa.

— Eu apenas vi a verdade diante dos meus olhos… Mas isso não importa, Ella. Tudo o que você precisa saber é que não podemos ficar juntos, você merece alguém melhor que eu, alguém que possa te proteger, cuidar de você, não um fodido como eu.

Mesmo ouvindo tudo que está me dizendo, posso sentir sua dor, como se estivesse se matando por fazer isso.

— Justin, para de falar besteira, por favor… — ajoelho no colchão e seguro seu rosto entre minhas mãos, já sentindo as lágrimas pesarem meus olhos — Nos amamos, lembra? 

— Sim, Ella… Eu aprendi a te amar — ele suspira pesadamente e engasga — Mas isso não é o suficiente. Então, é melhor pararmos por aqui, antes que seja tarde demais para você perceber que não sou bom para você… 

— Justin, por favor, me escuta… Você é o cara mais maravilhoso e perfeito que já tive o prazer de conhecer. — as lágrimas começam a inundar o meu rosto.

— Perfeito? Como perfeito, Ella? Me diz! — seus olhos estão lacrimejando, vejo dor neles — Eu a matei, droga! Será que você não entende isso? — senta na cama, tentando tirar minhas mãos de seu rosto.

— Nunca mais repita uma atrocidade dessas, ouviu? Nunca mais! Eu vi a porcaria daqueles papéis no chão ontem a noite… Porque estava olhando aquilo? Porque se martirizar dessa forma? O que passou, passou, Justin. Você não é Deus! — grito a última parte, como se assim pudesse fazê-lo entender — A hora dela havia chegado, você mesmo disse que não havia mais o que ser feito.

Ele abaixa a cabeça, balançando para os lados.

— E porque não consigo? Porque não consigo me livrar desses pensamentos que insistem em me atormentar? Eu te amo, Ella. Mas não posso ficar com você sabendo que posso te causar qualquer tipo de mal, eu não suportaria — levanta a cabeça, olhando em meus olhos e chorando copiosamente — Não posso te perder… 

— Se não pode me perder, então porque está me tirando de sua vida? — sinto meu coração pesado.

— Você não entende… — solta um longo suspiro, seguido de um soluço.

— Não, eu não entendo! Cansou de mim, é isso? Não me quer mais, exatamente como fez o meu ex? — ralho e me arrependo do que digo, no instante em que me calo.

— Jamais me compare com aquele… Aquele filho da puta! Eu jamais faria algo assim com você, estou fazendo isso por amor. 

— Então, desiste dessa ideia maluca, vamos ser felizes e nos curar juntos, Justin…

Ele fecha os olhos, passa a mão na cabeça e balança para os lados.

— Desculpa, eu não posso… 

O encaro, sentindo-me destroçada pela segunda vez nessa vida. 

— Se é isso que quer, não irei mais insistir, espero que encontre o que está procurando. — assinto, cansada de lutar.

Levanto, secando minhas lágrimas e lhe dou uma última olhada. 

— Seja feliz, Ella. Nunca esqueça que eu te amo… — ele diz quando já estou passando pela porta do quarto.

Mordo o lábio inferior o mais forte que consigo, tentando conter as lágrimas e me direciono a saída do apartamento.

Enquanto sigo meu caminho, lembranças de tudo o que vivemos desde que nos conhecemos, passam como um filme em minha mente, me torturando. Eu só queria entender porque a vida apronta essas coisas com a gente, porque insiste em nos fazer sofrer. 

Estávamos tão bem, tão felizes, porque isso justamente agora? Eu queria ajudá-lo, estar ao lado dele para o que fosse possível, mas infelizmente, não posso ajudar quem não quer ser ajudado. 

Com esse turbilhão de pensamentos, nem percebo que já estou em frente à porta do meu apartamento. Meu coração está em pedaços, não sei o que fazer ou pensar.

Entro em casa, fecho a porta, meio aérea, tentando processar tudo o que acabou de acontecer. Vou até o sofá, sentando-me e, após alguns minutos, me derramo em lágrimas. Um choro doloroso, copioso, parece que minha alma está doendo, como se estivessem fincado uma faca em meu peito. Nem mesmo quando Marcelo me deixou, me senti assim.

Deito e ouço o miado do Tom, seguido pelo pulo dele no sofá. Ainda chorando, o aconchego em meus braços. 

Acabou.

Voltamos a ser só nós dois.

Não tem mais Justin e Ella.

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