Perdição de Vizinho romance Capítulo 31

Fria como pedra, fria como pedra

Você me vê de pé, mas eu estou morrendo no chão

Fria como pedra, fria como pedra

Talvez se eu não chorar, eu não vou sentir nada

Stone Cold - Demi Lovato

(...)

Ella

Tudo que eu consigo fazer é sorrir, sinto-me estonteante. Nem mesmo o ocorrido fatídico de ontem foi capaz de acabar com minha alegria. Nunca pensei que realmente houvesse um céu azul após uma tempestade, mas sim, existe e está bem a minha frente. 

Meu coração está tão aquecido, que o dia passou voando e, por incrível que pareça, consegui esquecer de todos os meus problemas e aflições. Durante todo o dia, eu só pensava no Justin, queria vê-lo, ansiosa demais por estar com ele. Dirigindo e, sentindo a brisa leve do vento bater em meu rosto, estico o braço, deslizando o dedo em meu celular que está no suporte para carros. Clico no número dele, sorrindo como uma boba.

Aguardo que ele atenda, mas apenas chama insistentemente. A chamada cai na caixa postal e eu ligo novamente. Estranhando a situação, franzo o cenho, porém, desisto de persistir, apenas deixo um recado no whatsapp, gravando um áudio rápido.

À minha frente logo vejo o condomínio onde moro, reduzo a velocidade e adentro o lugar. Assim que estaciono e desço do carro, olho na direção da janela do Justin e penso em ir até o apartamento dele, mas logo desisto dessa ideia. Talvez ele não tenha me atendido por ter tido alguma emergência no hospital e precisou ficar mais tempo. Então, travo o carro e sigo para o meu apê.

Ao entrar em casa, sou recebida pelo Tom, miando em um som constante e se enroscando em minhas pernas.

— Oi, meu amor. Como foi o seu dia? — me agacho para acariciar seus pelos macios.

Ele mia em resposta.

— Tenho uma novidade, mas você vai ter que esperar eu tomar banho primeiro para poder te contar, ok? — comento em meio a um sorriso.

Tom ergue a cabeça, me olhando como se estivesse curioso. Às vezes, me acho meio doida por pensar que um animalzinho pode entender o que digo, mas, ao mesmo tempo, sinto que sim, ele entende minhas palavras. Sei lá, penso que os animais são sensiveis e, quando essa bola de pelos me olha desse jeitinho único, é como se me dissesse: "estou sempre aqui para você."

— Ok, não precisa ficar me encarando desse jeito, senhor curioso — pego-o em meu colo e ando até o sofá, sentando-me — Olha, eu realmente não sei como você vai receber essa notícia, mas isso com certeza mudará nossas vidas — enquanto falo, ele parece atento às minhas palavras, por vezes, miando — Justin e eu decidimos morar juntos, ainda não sei se ele virá para cá ou nós iremos para lá, porém, essa é uma decisão definitiva. Então, o que me diz? Gostou da novidade? 

Deixo-o de pé em meu colo, sorrindo e ele mia em resposta, roçando a cabecinha em meu queixo. Lhe dou um beijinho.

— Tenho certeza que será bom, meu anjo. As coisas estão começando a dar certo para nós. Agora preciso urgentemente de um banho. — solto-o no chão e levanto.

Vou até o quarto, deixo minha bolsa sobre a cama e tiro os sapatos, despindo-me em seguida. Entro no box do banheiro e ligo o chuveiro, tomando um banho relaxante. Meus pensamentos vão até o Justin, em todos os nossos momentos juntos, todas as vezes em que transamos deliciosamente em todos os cômodos da casa, inclusive, comigo encostada na parede fria do banheiro, enquanto suas mãos seguravam minha bunda para não me deixar cair.

Sorrio com todas as lembranças, em saber o quanto que ele tem me feito bem. Após alguns minutos, desligo o chuveiro e me enrolo numa toalha, retornando ao quarto. Antes de me vestir, pego o celular na bolsa e verifico se ele me respondeu ou retornou minhas ligações, mas não há nada, além de umas notificações do grupo dos meus amigos. Eles estão eufóricos com a notícia de que Justin e eu iremos morar juntos.

Pego uma roupa casual, mas que seja adequada para sair — já que essa noite ficaremos no apartamento dele. Já vestida, vou organizando algumas coisas em casa, inclusive, limpar o cocô do Tom e repor a ração. Aproveito para comer qualquer bobagem que, pelo menos, tapeie meu estômago. Quando finalmente termino tudo que tinha para fazer, olho novamente o meu celular e começo a ficar preocupada, sem ter notícias do Justin. 

Já se passaram mais ou menos uma hora, desde que cheguei em casa, ele nunca deixa de me ligar ou enviar mensagem durante o dia inteiro, ainda que esteja muito atarefado, por isso estou tão aflita e, como se não bastasse, começo a sentir um aperto no peito, como se fosse uma espécie de pressentimento ruim. Tento expulsar essa sensação de mim, porém, não suportando mais ficar parada, tenho a ideia de ir até o Nando, saber se ele tem alguma notícia do Justin.

Pego minha chave e caminho para fora de casa. Parada em frente a porta do apartamento do Nando, toco a campainha e aguardo ser atendida. O que não demora a acontecer.

— Oi, vizinha. — Nando me recebe com seu jeito divertido de sempre. 

Está usando somente uma calça de moletom. Fico sem graça, então evito encará-lo, ele é bonito, diria até que poderia ser ator de novela ou modelo de cueca, com seus cabelos de galã e uma mecha levemente caída sobre a testa e olhos azuis, mas nunca consegui sentir por ele o que sinto pelo Justin. Apesar de que, logo que me mudei para cá e nos conhecemos, ele jogou algumas cantadas baratas para mim, mas nunca passou disso, especialmente depois de saber que o amigo estava atraído por mim.

— Oi, Nando. Desculpa o incômodo, mas é que estou tentando falar com o Justin e não consigo de jeito nenhum. Sabe dizer se ele ainda está no hospital? — minha voz soa meio preocupada.

— Bobagem, não é incômodo algum — ele sorri — A única coisa que eu sei, é que ele disse que ficaria até um pouco mais tarde lá, porque precisava revisar alguns resultados de exames. Mas quer saber? Achei ele meio estranho, não sei dizer como… Pela manhã ele estava todo sorridente, conversamos e tal, no entanto, lá pela tarde eu acho, parecia… Diferente.

Suspiro frustrada, ficando ainda mais preocupada.

— Acha que aconteceu alguma coisa que o chateou? Será que fiz algo errado? — ele ri nasalmente com a minha pergunta, que com certeza soou bem insegura.

— Ella, meu amigo pode ser cabeça dura na maior parte do tempo, mas de uma coisa nunca duvide, ele te ama. Acho que o Justin te amou desde que a viu pela primeira vez, apenas não se permitia e você sabe a razão. Dificilmente se chatearia com algo que você fez.

Sinto meu coração aquecido com suas palavras. Desde o nosso momento juntos na chácara dos pais dele, ali eu soube, tive certeza que Justin não queria brincar com meus sentimentos. Isso aconteceu antes mesmo de desabafarmos um com o outro. Apesar de que aquele momento foi crucial para nós dois, senti nossos corações em sintonia.

— obrigada, Nando. É muito importante para mim ouvir isso.

— Entra — ele meneia a cabeça, fazendo menção para eu entrar — Vou tentar ligar para ele.

— Não está acompanhado, né? — varro rapidamente o lugar com meus olhos.

— Relaxa, tô sozinho. Vem — responde sorrindo de canto — Espera só um minuto, vou buscar meu celular.

Faço o que pediu e o vejo indo na direção dos quartos e retornar não somente com o celular, mas também, devidamente vestido. Isso mostra o quanto ele respeita a mim e seu amigo, um sinal de lealdade. Fico feliz com tal atitude.

— Senta aí. — aponta para o sofá e senta.

Faço o mesmo, sentando-me ao seu lado, a uma certa distância. Ele põe o celular no ouvido e eu espero por uma resposta.

— Então? — pergunto com as sobrancelhas arqueadas, após vê-lo tentar outra vez.

— Nada, não sei o que está acontecendo. Só cai na caixa postal. — responde com os lábios comprimidos.

— Droga! Será que aconteceu algo, Nando? — direciono um olhar aflito a ele.

— Sabe de uma? Vamos até o apê dele, ver se já chegou em casa. Vai ver só está dormindo e não viu as ligações. — ele propõe, decidido.

— Tem certeza? Eu até pensei em ir, mas…

— Mas nada, Ella. Vamos lá. — ele levanta, me deixando sem opções.

Saímos do apartamento, entramos no elevador e logo chegamos ao térreo, nos direcionando ao prédio em frente.

(...)

Tocamos a campainha e esperamos por um sinal de vida do Justin, porém, não obtemos resposta. Começo a roer as unhas, preocupada e ansiosa por notícias dele.

Nando intercala entre tocar a campainha e bater na porta. Quando percebe que não tem jeito, decide tentar ligar novamente.

— Esquece, Nando. Ele ainda deve estar no hospital. — bufo frustrada, torcendo os lábios.

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