Semanas se passaram, meu pé a cada dia melhorava mais, em menos de três semanas eu já conseguia andar normalmente, em contraponto, eu poderia caminhar até o altar sozinha. Marília usou as semanas para me ensinar coisas básicas sobre etiqueta, ela era ótima nisso, acabamos nos aproximando mais por conta do tempo que passamos juntas, porém isso não impedia que ela fosse rígida quase sempre.
Fazia dias que Sebastian não mandava notícias, Marília preferia não me dizer, pois, eu ficava ainda mais ansiosa.
— Por que devo me preparar para isso? — Pergunto à Marília.
— Noivas precisam de um vestido.
— Eu nem ao menos sou uma noiva de verdade. — Observo Marília revirar os olhos. — Sebastian manda em tudo, por que ele não escolhe o meu vestido também?
— A costureira trará os vestidos depois do almoço, sugiro que se apronte logo!
Marília sai do quarto.
Me jogo na cama fitando o teto branco, seria melhor se eu cedesse? Todas as minhas tentativas falharam, com isso, até mesmo o homem que amava morreu, Gisele não pode mais ter filhos e Marília quase morreu. Pensar em deixar o Sebastian vencer isso fazia meu peito entrar em fúria, ele já parecia ter coisas demais sob seu controle, eu faria questão de ser a única pessoa que ele não controlaria.
Mais tarde a costureira — Marisa — chegou com duas assistentes, me perguntava como essas pessoas não desconfiavam dessa situação toda, até perceber que se Sebastian tinha a mim, Marília e May em suas mãos ele também poderia facilmente ter a cidade inteira.
A mulher que vestia um vestido tubinho rosa bebê, chegou com duas araras douradas, no cabide haviam alguns vestidos embalados com um plástico grosso.
— Bem — uniu as mãos —, vamos começar!
Meus dentes rangeram um no outro.
Elas me vestiam como se eu fosse uma boneca, colocavam fitas, alfinetes enquanto me observavam pelo reflexo do espelho a minha frente. Experimentei três vestidos, no segundo eu já estava cansada daquilo, mas Marília me olhava feio a todo momento.
O primeiro vestido foi um tão colado que eu mal podia respirar, na canela haviam tule, era um belo modelo sereia com as costas nuas.
Marília balançou a cabeça com os lábios repuxados.
— Ela parece um peixe. — Reclamou ela.
— Achamos lindo. — Me perguntava de onde era aquele sotaque, ate hoje não sei onde estou.
Marília se volta para mim.
— Não vai dizer nada?
Dou de ombros.
— Não poderia me importar menos, Marília.
Olhou-me com os olhos entre-abertos.
— Sebastian deseja uma coisa mais simples, suponho que ele vá gostar da sua noiva vestida — olhou-me com uma expressão de nojo — assim.
Segurei o riso enquanto as meninas se apressaram para pegar o próximo.
O segundo era mais aceitável, tinha um belo corpete, alças e uma saia tão grande que arrastava no chão, eu parecia uma versão feia de uma princesa.
Marília parecia ainda mais assustada que eu, tentei segurar o riso, porém ela levou a mão até a testa e começou a murmurar coisas sem sentido em outro idioma me fazendo gargalhar.
— Sebastian adoraria me ver assim. — Zombo.
— Chega! — Balbuciou Marília. — Vocês são umas incompetentes.
Ela procurou dentre os diversos vestidos feios que tinha lá, observei a cena me divertindo, por fim ela tirou um. As meninas me ajudaram a vestir, era um tomara-que-caia longo e liso, estreito na parte de cima, com a saia levemente rodada, tinha uma blusa de manga longa de tule também, e não me faria tropeçar na barra.
Eu não estava confiante que seria algo agradável, mas aquele vestido com certeza seria minha escolha caso eu casasse de verdade.
Marília subiu meu cabelo em um coque alto, dessa vez sorrio, sorrio de verdade.
— O que acha? — Perguntou ela.
Senti meus olhos brilharem.
— Ele é perfeito... — Passo as mãos nos olhos e sorrio torto. — Sebastian vai achar bom.
° ° °
Sebastian contratou pessoas para cuidarem da cerimônia, eu mal sabia o que esperava por mim nos dias seguintes, me deixando ainda mais ansiosa. Marília decidira a maquiagem, penteado e todas as outras baboseiras, confiava no seu gosto refinado, ela era boa em escolher essas coisas, criada desde cedo para ser uma dama, enquanto eu... bem, tentava me virar com o que tinha. Fazia dias que eu não colocava o pé fora do quarto, Sebastian deixou claro antes de sair que não queria me ver em outra parte da casa, mas hoje eu iria jantar na sala como uma pessoa normal. Confesso que estava entusiasmada para ver outro cômodos que não fosse aquele quarto vermelho. Vesti o vestido que Marília me deu, era branco, longo do jeito que eu gostava e nenhum pouco apertado, pelo menos isso ela respeitava.
— Está pronta? — Perguntou adentrando o quarto.
— Sim.
— Vejo que está animada.
— Não me leve a mal, mas será bom ver algo além do seu rosto.
Ela solta um sorriso nasal.
— Devo avisá-la sobre as regras...
— Eu sei. Eu sei. — Reviro os olhos. — Prometo não torcer nenhum tornozelo hoje.
Marília me lança um olhar cético.
— Eu juro. — Afirmo seriamente. — Palavra de escoteiro.
Ela sai em disparada para fora do quarto, eu a sigo sorrindo. Passamos por todos os corredores, porém agora haviam mais seguranças e a porta da frente estava trancada com cadeados. Se eu fosse fugir novamente teria que ser algo certeiro, pois a cada tentativa ficava ainda mais difícil.
Marília se dirigiu até a sala de jantar, a mesa estava posta para uma pessoa apenas. Sento na cadeira, olho para a que ficava na ponta, Sebastian costumava sentar ali. Empurro meus pratos para lá e sento em seu lugar, Marília balança a cabeça.
— Ele nem está aqui, por favor...
Ela não diz mais nada, apenas ordena que os empregados começassem a servir o jantar. Comecei a comer. Apenas hoje observei a sala de jantar, era tão fechada por cortinas vermelhas que mais parecia uma prisão, a única luz no ambiente era um lustre posicionando em cima da mesa vasta, Sebastian tinha uma estranha fixação com a cor vermelha.
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Os comentários dos leitores sobre o romance: Perverso
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