Um chefe irritante e irresistível romance Capítulo 200

No quarto, Joana desperta com um peso opressor no corpo, como se as emoções das últimas horas tivessem se materializado e repousado sobre ela. Ela olha ao redor, esperando ver algum movimento, mas encontra apenas o vazio. Nenhum dos filhos está ali. Nem mesmo Valentina, que tantas vezes fazia questão de estender a mão. A solidão a invade, deixando um gosto amargo na boca.

Com um suspiro longo, ela se levanta, ajustando o roupão que estava jogado na cadeira próxima. Seus passos ecoam no silêncio enquanto se aproxima do espelho. Ao olhar para o reflexo, a visão de seus olhos inchados, com marcas profundas de cansaço, a faz desviar o olhar por um instante. Ela toca suavemente o rosto, tentando compreender o que vê: uma mulher cansada, desgastada pelas escolhas e pelas palavras ditas e ouvidas.

Lembranças da conversa acalorada com Victor doem como feridas abertas. As acusações dele, as verdades que ela tenta ignorar, tudo agora pesa sobre seus ombros. Joana fecha os olhos por um momento, mas as palavras do filho ecoam em sua mente: “Se você voltar para ele, pode esquecer que eu sou seu filho.”

— Ele não faria isso — murmura, com a voz fraca, quase inaudível, enquanto encara o próprio reflexo. Apesar da dor nas palavras do filho e das verdades cortantes que ele jogou em seu rosto, ela sabia da personalidade forte dele. Sempre soube.

“Ele sempre me apoiou em tudo”, pensa, tentando encontrar consolo no passado. Victor, com toda sua teimosia e franqueza, sempre foi o filho que estava lá, mesmo quando ela se recusava a ouvir. Ele discutia, argumentava, mas nunca a deixou sozinha.

Prendendo os cabelos num coque desajeitado, se levanta e sai do quarto. Seus passos ecoam pelo corredor silencioso enquanto ela caminha, os olhos atentos vão em busca de alguém. Mas a casa está estranhamente vazia. Um vazio que ela não consegue ignorar. Ao chegar na sala, sua inquietação cresce e ela chama por uma das empregadas. Sua voz carrega uma impaciência.

— Onde estão os meus filhos? — pergunta, num tom mais alto do que pretendia.

A empregada, que acabava de surgir do corredor, se apressa em responder, com as mãos entrelaçadas na frente do avental.

— O senhor Victor saiu já faz um tempo, senhora. Já o senhor Rodrigo saiu há pouco com a senhorita Valentina.

Joana franze o cenho, irritada.

— E quando ele volta? — questiona, num tom cheio de altivez.

A empregada hesita por um instante, mas mantém a compostura.

— Ele pediu que eu a avisasse de que não irão retornar hoje, senhora. O senhor Rodrigo disse que gostaria de passar um tempo a sós com a senhorita Valentina.

Por um momento, Joana fica imóvel, encarando a empregada. A resposta era simples, mas carregava um peso que ela não esperava. Rodrigo, sempre o conciliador, havia tomado sua própria decisão. Aquilo não lhe cheirava nada bem.

— Entendi… pode ir — murmura, tentando manter a pose.

A empregada se afasta discretamente, deixando-a sozinha na sala. Ela respira fundo, mas um aperto no peito surge. “Será que eles realmente estão se afastando de mim?” A ideia era insuportável, mas, ao mesmo tempo, parecia cada vez mais real.

Caminhando até a janela, olha para o jardim vazio lá fora. Pela primeira vez, o silêncio da casa parecia não ser apenas a ausência de sons, mas a ausência de algo muito maior.

De repente, ela vê os portões se abrirem e o carro de Xavier adentrar a propriedade. A visão do marido ali a deixa em alerta, o coração acelera com uma mistura de raiva e apreensão. Sem hesitar, ela caminha até a porta principal, decidida a confrontá-lo. Quando Xavier desce do carro, seus olhares se cruzam. Joana está parada em frente ao jardim principal, com os braços cruzados e a postura rígida. Ele percebe a tensão nela e, embora sua expressão endureça ligeiramente, tenta demonstrar uma aparência cansada, quase abatida.

— O que está fazendo aqui? — Joana pergunta, assim que ele se aproxima, num tom firme e incisivo.

— Essa é a minha casa — Xavier responde, agora parado bem em frente a ela, sua postura indica uma tentativa de controle.

Ela dá uma risada curta e amarga, balançando a cabeça em descrença.