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Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira) romance Capítulo 266

A próxima a tomar a palavra é Joana. Seu semblante está visivelmente abalado, ainda mais após presenciar os filhos naquela condição. A sala parece se dissolver ao seu redor. As câmeras, os repórteres, os sussurros de curiosidade. Nada disso importa naquele momento. O único pensamento que a consome é como recuperar o amor dos filhos, como corrigir os erros que a afastaram deles.

Ao se sentar, ajusta o microfone com mãos trêmulas. Ela tenta desviar os olhos de Victor, mas é inevitável. Quando finalmente cruza o olhar com o filho mais novo, o impacto é avassalador. A frieza e a decepção nos olhos dele rasgam sua alma e seu coração se enche de remorso.

O advogado de defesa, percebendo o nervosismo de sua cliente, começa com uma abordagem suave.

— Senhora Ferraz, me conte como era o seu relacionamento com o Victor antes das coisas acontecerem.

Joana respira fundo, seus olhos vagam pela sala, mas ela não consegue encarar ninguém diretamente.

— Eu sempre tive uma boa relação com meu filho. Mesmo sendo um pouco teimoso, ele estava sempre ao meu lado, sempre… — sua voz vacila, sentindo um amargor que agora parecia impossível de engolir. — Só agora consigo perceber isso plenamente — reflete, quase em um sussurro. — Sempre vi o Rodrigo, o meu filho mais velho, feliz e realizado em seu relacionamento. Ele encontrou alguém que, além de amá-lo tanto a ponto de deixar seu país para viver ao lado dele, vinha de uma família prestigiada e respeitada, tanto moral quanto financeiramente. Em resumo, tudo o que eu desejava era que Victor encontrasse a mesma felicidade e realização que o irmão encontrou.

— Por que a senhora acreditou que o seu filho não estava realizado com a Marina?

— Porque ela era o oposto de tudo o que eu desejava para ele — revela, com amargura na voz. — Além disso, sua natureza não me agradava. Ela era respondona, mal-educada e inconveniente. No início, Victor também compartilhava da minha opinião. Depois, quando o Xavier tramou aquela situação, fazendo-nos acreditar que ela era sua amante, minha antipatia por ela só cresceu. A partir daquele momento, não consegui mais enxergá-la de outra forma.

— Mesmo após ela ser inocentada das acusações?

— Sim, mesmo depois de tudo aquilo — afirma, com um tom resoluto. — O escândalo já estava feito, e aquele acontecimento não poderia ser apagado. Acreditei, com todas as minhas convicções, que a presença dela em nossa família sempre traria à tona essa lembrança dolorosa. Por isso, decidi que não a queria por perto. Não era apenas sobre proteger a imagem da família, mas também sobre preservar aquilo que eu pensava ser o equilíbrio entre nós.

Joana prossegue, detalhando os acontecimentos desde o momento em que ajudou Xavier a se esconder até o dia em que ele decidiu agir por conta própria, utilizando seu nome sem seu consentimento.

— A senhora se arrepende do que fez?

— Do fundo da minha alma — responde, com a voz embargada. — Destruí minha vida e a da minha família. Tudo o que mais desejo agora é pagar pelos meus erros e, talvez, depois… — ela faz uma pausa, olhando com esperança para Victor, já que Rodrigo ainda não havia retornado. — Tentar reconquistar a confiança dos meus filhos.

Após responder às perguntas da defesa e da acusação, Joana se retira da tribuna, visivelmente abalada. Em seguida, chega a vez de Xavier prestar seu depoimento.

Ele percebeu que o relato de sua esposa havia comovido as pessoas e, astuto, decidiu adotar o mesmo tom emocionalmente apelativo em sua fala, buscando gerar empatia e virar a situação a seu favor.

O promotor ajeita seus papéis na bancada e levanta os olhos na direção de Xavier, que permanece sentado com a postura abatida, tentando passar a imagem de alguém arrependido.

— Senhor Xavier Ferraz, vamos começar pelo plano que o senhor traçou para incriminar Marina Ferreira — começa o promotor. — Pode nos dizer como essa ideia surgiu?

Xavier levanta os olhos lentamente, ajustando sua postura na cadeira. Ele respira fundo antes de responder.

— Eu… eu estava sob muita pressão. As coisas no escritório e em casa estavam fora de controle. Quando percebi que Marina poderia descobrir sobre… sobre certos aspectos da minha vida pessoal, tomei decisões precipitadas. — Ele pausa, como se estivesse escolhendo cuidadosamente suas palavras. — Foi um erro… um grande erro.

— Quanto a isso, sou inocente — ele insiste, num tom quase convincente. — Nós só tivemos uma pequena discussão. Como eu disse a ela que iria terminar com tudo por saber que ela estava saindo com outra pessoa, ela começou a se debater e se jogar contra a parede, na intenção de me fazer passar como um agressor.

O promotor franze a testa, confuso. O tribunal fica em silêncio enquanto Xavier prossegue.

— Então saí do apartamento — continua, ajustando-se na cadeira como se tentasse demonstrar serenidade — e ela veio atrás de mim, gritando, como se eu a tivesse espancado. Como fiquei com medo de que alguém aparecesse e interpretasse tudo errado, desci pelas escadas, mas ela me seguiu. Ela se jogou de lá, armando todo o espetáculo para me incriminar. Foi por isso que saí de lá. Eu sabia que as pessoas pensariam que fui eu que fiz aquilo com ela.

— Então, senhor Ferraz, o senhor está dizendo que a senhora Andressa Souza, deliberadamente, se jogou de uma escada para “armar” contra o senhor?

— Sim, ela fez — confirma.

O promotor esboça um sorriso irônico e balança a cabeça.

— Curioso, senhor Ferraz. Porque os registros médicos apontam múltiplos hematomas, fraturas e lesões consistentes com agressões físicas. O senhor realmente quer que o júri acredite que ela causou todos esses ferimentos a si mesma para lhe incriminar?

— Vocês ouviram o depoimento dela aqui, notaram o que ela pode fazer — comenta. — Posso ter os meus erros, mas nunca toquei um dedo sequer na Andressa. Além disso, o médico que a atendeu é o mesmo com quem ela está se envolvendo. Quem me garante que ele não forjou tudo isso com ela? — questiona Xavier.

Os murmúrios se iniciam e o juiz pede que todos façam silêncio. Naquele momento, Xavier se alegra, notando que havia gerado dúvida na cabeça do júri.

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