Não era mesmo como eu imaginava encontrar Agnes.
Ainda tinha a imagem nítida na cabeça, das belas curvas de seu corpo curvilíneo dentro do roupão, a sensação trépida de que eu cometeria um pecado naquele momento e acabaria agarrando-a, mesmo tendo começado a seguir a minha religião, nos últimos tempos, com mais fervor. Ainda assim, vê-la com vestes tão poucas parecia deixar o meu corpo um pouco.... Alterado.
Agnes entrou num outro cômodo para se trocar e eu aproveitei para olhar ao redor. Sabia que meus guarda-costas estavam escondidos pelo prédio, para cuidar da nossa segurança, e agora eu podia olhar com mais calma de onde Agnes tinha vindo e como era, afinal, o seu mundo.
A sala era simples e pequena. Acho que do tamanho do meu banheiro, para falar a verdade. Havia apenas um sofá de cor marrom escuro e uma estante onde encontrava-se uma televisão velha e muitos porta-retratos. Havia também um tapete no qual eu já tinha quase desgastado por inteiro, mas preferi me focar nos retratos e me aproximei lentamente.
Numa das fotos estava Agnes mais nova. Ela era bem gordinha e os cabelos caíam como cachos graciosos enquanto ela sorria muito, um sorriso delicioso de se ver. Noutro, acho que vi a irmã dela, ainda que eu não tivesse muita certeza. Não conhecia a irmã de Agnes. Ainda assim, conseguia ver a imagem de uma jovem de cabelos negros também, só que mais lisos, e os olhos amêndoas enquanto ela sorria também para a foto. Um sorriso cálido e calmo.
De alguma forma as fotos me tocaram. Éramos uma família feliz, eu e meus pais, mas a simplicidade daquelas fotos me pegou de jeito. Não lembrava de ter fotos minhas espalhadas pela casa. Para falar a verdade, não conseguia nem me lembrar de ter visto uma foto minha. Assim, isso me tocava de uma maneira sem igual. Era tão bonito e tão aconchegante que eu quase podia me sentir em casa também.
— Pronto, estou aqui. — Disse Agnes. Ela estava com uma calça jeans e uma blusa de meia manga bege. Os cabelos molhados estavam jogados de qualquer jeito nas costas, contudo, não menos bonitos e instigantes. Na verdade, eu não conseguia deixar de pensar em agarrar os cabelos dela, apertá-la na parede e...
Foco, Seth! Foco!
— Agnes, eu preciso falar uma coisa para Você. — Okay. Tinha chego o momento que eu teria que encarar a verdade e falar a verdade e agir com as consequências que meus atos tornariam a trazer. E o pior de tudo é que eu não sabia mesmo qual seria a resposta de Agnes no fim das contas depois de tudo e isso, ah, isso sim me deixava com medo.
— Não, Você precisa me responder como entrou aqui! — Ela disse com a voz aguda e as bochechas já vermelhas. Era tão lindo quando ela ficava com vergonha que eu não conseguia deixar de encarar a beleza dela.
— Fácil. A porta estava aberta. — Menti, porque, na verdade, a porta estava fechada e foi Alfred que abriu com uma chave mestra. Mas acho que Agnes não entenderia isso. Só que eu estaria mentindo... E acho que não era certo eu começar nosso relacionamento com mentiras. — Okay. Eu abri. — Disse revirando os olhos. Agnes arregalou os olhos dela, ainda sem acreditar na verdade.
— Você o que? — Ela perguntou ainda sem acreditar.
— Abri. — Sorri languidamente. Era engraçado ver como Agnes do nada poderia se tornar uma pessoa estressadinha e aos poucos explodir, por que isso fazia parte da personalidade dela.
— Por que? — Ela perguntou ainda sem compreender a gravidade do que eu tinha dito. Acho que era ilegal abrir portas que não eram suas no Brasil.
— Por que eu precisava falar com Você. Posso falar com Você agora? — Tentei já ficando sem paciência.
— Como Você me achou? — Ela realmente estava afim de fazer um questionário sobre minha aparição.
— Eu procurei. Agnes, vamos parar com essa, okay? Com dinheiro a gente acha o que quiser. Agora eu posso falar o que vim fazer aqui? — Agnes ficou severamente quieta, me olhando, como se ainda estivesse se decidindo se deixaria eu falar o que tanto estava esperando para falar, ou se fugia.
— Não. — Ela deu um passo para trás. Parecia... Com medo? Com medo de mim? Mas que diabos eu tinha feito para ela ficar com medo de mim? Dei um passo para frente, fazendo-a dar outro passo para trás, encolhida.
Percebi, nesse exato segundo que os olhos dela estavam cheios de lágrimas, então parei de andar em sua direção, ainda com medo do que eu poderia ter feito.
— Você não pertence ao meu mundo, Seth. Só... Me deixe, okay? — Ela disse já deixando as lágrimas escorrerem pelo rosto e eu senti como se meu coração estivesse se quebrando nesse exato momento. Céus, do que Agnes estava falando? Eu ainda não tinha dito nada e já estava a machucando.
— Do que Você está falando, Ag? — Perguntei ainda confuso.
— Olhe. — Ela disse espalmando as mãos e apontando para todas as direções da sala. — Isso é muito diferente da mansão onde Você morava. A minha sala é do tamanho do seu banheiro. — E dito isso Agnes deu uma leve risada achando graça nisso também. Mas logo continuou. — Você não deveria estar aqui, Seth. Eu não sou árabe, não sou da sua religião... E, bem... Eu não vou voltar para Omã. — Ela disse jogando a bomba como se estivesse jogando rosas no ar. Senti como se estivesse caindo ali mesmo, dentro de um desfiladeiro assassino.
Agnes era o meu abismo sem fim.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um Sheikh no Brasil
Maravilhoso, amei a história. Parabéns a autora, soube prender minha atenção com comedia, ação, drama e romance na medida certa....