A Babá Perfeita romance Capítulo 14

No sábado, toda a neve já derreteu e o clima está muito melhor, bem menos frio.

Levanto da cama e vejo que há uma ligação perdida do meu pai. Eu retorno, um pouco preocupada, lembrando que ele tentou falar comigo, também, no dia anterior. Para o meu alívio, ele diz que está tudo bem, que apenas sente saudades. Quer saber quando eu estarei em casa para provar mais um dos seus desastres culinários. Tenho uma folga no domingo e mais uma também no decorrer da semana, então prometo que logo irei vê-lo. 

A verdade é que sinto sua falta, talvez ainda mais do que ele sente a minha. Me habituei ao café da manhã silencioso, aos almoços com cheiro de comida torrada, às suas broncas, seus abraços, suas palavras afetuosas.

Depois de desligar, eu escovo os dentes e lavo o meu rosto, encarando o reflexo sonolento no espelho.

Meu rosto queima em brasas quando recordo a conversa com Max Lancaster na última noite. Ele foi tão rude, tão arrogante, mesmo assim não consigo tirá-lo da minha cabeça. Aquela boca carnuda, aqueles olhos azuis deslumbrantes. A forma como os cílios se deitam sobre eles e como as sobrancelhas parecem emoldurá-los como uma obra de arte.

Diabos.

O homem todo é uma maldita obra de arte. Exceto pela língua afiada e pela completa incapacidade de ouvir outra pessoa.

Resolvo tomar um banho rápido e, então, visto uma das roupas compradas no dia anterior. Sorrio com aprovação ao dar uma voltinha em frente ao espelho do quarto, lembrando que essa foi uma escolha minha, mas que acabou agradando Evie e Judith. Uma blusa branca de mangas curtas, com o desenho de uma mão repleta de linhas, pontilhados e símbolos astrológicos, e uma saia longa e preta plissada.

Prendo os cabelos em um rabo de cavalo e coloco um pouquinho de maquiagem, só o suficiente para parecer um pouco mais adulta e responsável. Digo a mim mesma que nada disso tem a ver com Max Lancaster, mas sei que essa é uma mentira grande demais para carregar até o inferno.

Eu quero agradá-lo.

Melhor, quero que morra suplicando minha boca grande e tagarela, enquanto eu me nego até a morte.

Tiro da pequena penteadeira de madeira lascada, o perfume com essência de morango e baunilha que também é novo. Espirro na minha pele, o cheiro me envolvendo como uma nuvem de sonho açucarada.

Fecho os olhos, exalando um suspiro de felicidade. Adoro aromas doces! São os mais sexys, envolventes e misteriosos. Os mais femininos. De olho outra vez no espelho, mordo o lábio pintado de batom cobre, subitamente nervosa por, talvez, ter exagerado um pouquinho na produção. 

Saio do quarto depressa, antes de começar a arrancar as roupas. Ao passar no quarto das meninas, para o meu espanto, descubro que nem Maisy, nem Evie, estão mais em suas camas, mesmo sendo apenas sete da manhã.

O quarto está vazio e impecavelmente arrumado. Evie é como uma senhorinha de setenta anos presa no corpo de uma menina de nove.

Eu sorrio, dando meia volta e descendo as escadas devagar, tentando esquecer a maldita dor na maldita perna, coisa que cada vez mais me parece impossível. As recomendações médicas e os sermões do meu pai estão se mostrando mais reais do que eu gostaria de admitir.

Com o cenho franzido, vou aguentando a dor e o incômodo enquanto percorro os degraus.

Merda.

No andar de baixo, surpreendo Abigail e Judith entre caixas de papelão. O meu sorriso se alarga, enquanto ouço suas risadas altas e contagiantes.

Enquanto me aproximo, curiosa para descobrir o que estão fazendo, ouço uma música baixinha que, aos poucos, vai ganhando volume até que eu a reconheça.

É Jingle Bell Rocks.

Avisto o pinheiro de Natal, antes fora do meu campo de visão e, mesmo enfrentando dificuldades com a bota, começo a me mexer ao som da canção, movendo os quadris lentamente e entoando a melodia.

As duas mulheres me olham, assombradas. 

- Que vozeirão, guapa! - Judith exclama, abrindo um enorme sorriso, antes de me pegar pelo braço e rodopiar suavemente comigo. 

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