Bennett
— O que será que ele tem para nos contar?
Júlia pergunta, avaliando o lindo vestido azul escuro, perfeitamente colado ao seu corpo. Algo que me faz observá-la por mais tempo do que o necessário.
Ao longo desses anos travar batalhas ao lado dessa linda mulher tem me fortalecido mais e mais. O meu passado ainda continua gravado em minha pele. Uma maneira de nunca me esquecer que um dia fui fraco, mas que agora sou indestrutível… implacável, mas não para ela. Júlia ainda tem o dom de me desafiar, de derrubar as minhas barreiras, mas ela nunca me enfraquece.
— Eu não faço ideia — respondo por fim, cedendo a tentação de abraçá-la por trás e de sentir o seu perfume direto na sua nuca, beijando a sua pele macia logo em seguida. — Mas pela empolgação na sua voz, acredito ser algo muito bom.
— Um neto?
Essa indagação me faz parar meu raciocínio e qualquer outro ato.
Um neto? Esse pensamento faz-me estremecer por dentro. Isso seria um pequeno milagre. Mais um selo de redenção. É como se fechasse um pouco mais as minhas feridas.
— Que bobagem! — Desperto com o resmungar da minha esposa. — Ainda é muito cedo.
Muito cedo, mas cheguei a sonhar com isso.
Alex é mais do que um filho para mim, ele é a minha pedra preciosa e pensar que me daria um neto seria como tocar a eternidade com as minhas próprias mãos.
— Talvez seja cedo… ou talvez não. — Beijo rapidamente a sua bochecha e ela se vira de frente para mim, para arrumar a minha gravata. Nesses poucos segundos, aproveito para admirar a sua beleza.
Sim, ela continua tão linda como sempre.
— Eu adoraria ter uma criança correndo dentro de casa.
Seu desejo me faz arquear as sobrancelhas.
— O que está me dizendo, Senhora Bennett? — A puxo bruscamente para os meus braços. — Que gostaria de fazer mais um bebezinho? — A beijo impetuoso. Faminto.
— Não se atreva, Senhor Bennett. Nós temos um jantar na casa do nosso filho em poucas horas.
Atrevido, inclino-me um pouco na direção da sua orelha e sussurro:
— Eu posso ser rápido.
— David! — Júlia me repreende, mas deu para sentir um leve resfolegar em suas palavras.
— O que foi? — Dou uma de inocente. As maçãs do seu rosto coram lindamente. Contudo, mantenho uma postura inabalável.
— Vamos, ou chegaremos atrasados. — Júlia resmunga, tentando disfarçar o quanto ainda mexo com ela, mas é perceptível a sua respiração levemente descompassada, além daquele brilho em seu olhar que me diz: que por trás de toda essa sua pose firme, ainda sou o seu maior desejo… a sua fraqueza.
Mas ela não faz ideia de é ela a minha maior fraqueza.
Não demora muito e o nosso carro adentra o perímetro da mansão Ricci. Um casarão antigo, de aspecto rústico e que precisa de alguns mínimos cuidados. E logo após sairmos do veículo, as portas largas de madeira maciça se abrem, revelando uma governanta com seus quarenta anos.
— Boa noite, Senhor e Senhora Bennett! E, Senhorita Bennett!
— Boa noite! — dizemos praticamente em uníssono.

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