Júlia
Por favor, deixe-me tirá-lo dessa escuridão! Peço mentalmente e um fio de esperança percorre todo o meu ser quando percebo as suas retinas se quebrantarem, mas logo elas se congelam de novo e eu penso que é o nosso fim.
— Quando eu voltar não quero vê-la aqui. Eu sinto muito se você entendeu tudo errado, Senhorita Ricci. — Dessa vez as lágrimas inundam os meus olhos, mas não permito que elas caiam e molhem o meu rosto.
Não faça isso, Júlia. Não chore na frente dele.
Respiro fundo quando David se aproxima de uma mala que está largada em um canto de parede. Ele segura na sua alça e me dá as costas para sair da casa. Entretanto, tento só mais uma vez fazê-lo desistir de ir.
— Se eu sair da sua vida será para nunca mais voltar, David Bennett. — Faço-lhe uma promessa, mas percebo que ela sequer arranha a sua armadura. No entanto, eu sei que dar esse passo para longe dele levantará um muro entre nós que jamais poderá ser derrubado.
Não faça isso, David! Não faça isso!
Imploro internamente. Contudo, David não me responde. Ele sequer se vira para me olhar e apenas segue em frente. Sem saber o que fazer, desabo ali mesmo. Logos minutos depois, percebo os primeiros raios de sol riscar o céu nublado e trêmula, me levanto do chão, seco as minhas lágrimas e volto para o meu quarto. E movida por um furacão turbulento e devastador dentro de mim começo a arrumar as minhas coisas. Depois as do Alex e mesmo sendo ainda tão cedo, acordo o Alex e visto a primeira roupa que vejo nele para sairmos logo em seguida.
***
Alguns longos minutos…
— Júlia? — Melissa indaga atordoada assim que abre a porta da sua casa para mim. Seu olhar especulativo corre de mim para o Alex que ainda está sonolento em meus braços, e depois para as malas que estão no chão. — Que horas são?
— Desculpe, eu sei que é muito cedo ainda, mas…
— Vamos, entre! — Minha amiga me dá passagem e imediatamente ajudo o Alex a se acomodar no sofá da sala, enquanto ela puxa as pesadas malas para dentro da sua sala de visitas. — Café? — Mel ajeita o sobretudo no seu corpo e vai direto para a cozinha. Olho para o Alex e forço um sorriso de boca fechada para ele.
— Tente dormir mais um pouco, querido. Eu vou estar bem ali na cozinha da tia Mel. — Obediente, ele se vira para o lado e fecha os seus olhos, e eu vou ao encontro da minha amiga.
— E então, vai me contar o que está acontecendo? — Respiro fundo e recebo a xícara que ela me estende.
— Será que eu posso ficar aqui na sua casa por alguns dias? — Melissa arqueia as sobrancelhas e me lança um olhar perspicaz.
— Deixe-me adivinhar? O babaca do seu chefe finalmente mostrou o monstro gelado que ele realmente é, e você finalmente caiu na real, certo? — Engulo o nó em minha garganta com dificuldade e engulo o choro também.
— Mel, eu… não consigo falar sobre isso agora — digo com voz cansada. — Será que você pode cuidar um pouco do Alex para mim? Eu preciso de um tempo…
— Quanto tempo? — Dou de ombros.
— O suficiente para colar os meus cacos e me reerguer.

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