Bennett
— Para o aeroporto, Mateo! — ordeno, entrando no carro em seguida e quando o veículo entra em movimento, faço questão de erguer a tela de proteção para ficar completamente sozinho.
… Olhe para mim, Júlia.
Eu segurei a lâmina dessa vez. Não a Mara, mas eu mesmo a enfiei em minhas próprias carnes e sangrei quando proferi cada uma daquelas palavras.
… Você achou mesmo que um homem como eu teria algum interesse em você? Acreditou de verdade que conquistaria o meu coração com essa história ridícula de amor? Pois quero que saiba que eu não amo você e que você cometeu o grave erro de se apaixonar por mim!
E lá estava a dor em seus olhos. Eu a machuquei. Sabia que faria isso a qualquer momento e por isso deveria mantê-la longe de mim, mas não fiz.
… A Mara sempre soube disso. Ela sempre soube que sou a porra de homem condenado. Que sou vazio e escuro por dentro, mas você não acreditou em mim!
… VOCÊ É A DROGA DE UM COVARDE, DAVID BENNETT!
Revoltado, esmurro violentamente o estofado do banco do carro e pela primeira vez em anos me permito chorar.
… Eu te amo!
… Eu te amo, David Bennett!
— O que você fez? O que você fez, seu idiota?! — questiono a mim mesmo, enquanto me afundo em dor e tristeza.
Você precisa voltar. Você precisa dela, Bennett. Meu cérebro grita.
— Não. Eu preciso mantê-la distante de mim, ou irei machucá-la outra vez.
A culpa é sua! Você me fez assim! Você me destruiu, me fez incapaz de amar qualquer pessoa nesse mundo!
Respiro fundo para me recompor e seco as lágrimas, abaixando a tela na sequência. O olhar curioso de Mateo me fita através do retrovisor.
— Tudo bem, Senhor Bennett?
Não, nada está bem! Rosno mentalmente.
— Mudei de ideia, Mateo. — Um tom baixo e frio passa pela minha garganta e de repente não acredito no que estou prestes a fazer. — Quero que me leve para a Clínica Serenity Haven. — Meu motorista também não esconde a sua surpresa. Contudo, ele não me contesta e dá a volta no carro no mesmo instante.
A quanto tempo não a vejo? Desde que fui tirado de dentro de sua casa e isso já faz o que? Longos dezessete anos. John Bennett teve todo o cuidado de me deixar distante dos comentários curiosos e das notícias sobre a sua sanidade, mas eu sei que ao tirar-me do seu poder, Mara perdeu completamente o seu controle. Entretanto, daquele dia em diante eu fiz questão de apagá-la da minha existência. Um garoto de doze anos órfão de uma mãe viva. Contudo, escolho o pior dos meus atuais momentos para ir ao seu encontro e à medida que percebo que estamos nos aproximando da clínica, que fica bem no centro da cidade, sinto que estou morrendo por dentro.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A Proposta do Sr. Bennett