Elena
… Filha, eu preciso que cumpra o meu último desejo.
… Preciso que esteja segura, Elena.
— Tudo bem — concordo vencida. Cansada.
— Ótimo! — O advogado sorri. — Podemos ir para uma sala reservada aqui mesmo na capela.
— Aqui? — inquiro atordoada.
— Por favor, Senhorita! — Petrus leva uma mão para as minhas costas e me guia para uma direção. — Senhorita Stanford. — Segundos depois, ele puxa uma cadeira para me acomodar. — Senhor Ricci. — Ele aponta uma cadeira de frente para mim.
Nossos olhos se encontram. Os dele sempre varrendo o meu rosto, como se analisasse as minhas emoções. Entretanto, mantenho uma postura ereta, o olhar altivo e o queixo elevado. O advogado solta um pigarro despertando-nos e ambos desviamos os olhos para fitá-lo.
— Senhorita Stanford. E, Senhor Ricci. — Ele inclina levemente a cabeça em cumprimento. — Agradeço por estarem presentes nesse momento. Sei que não é fácil, mas preciso seguir os passos da Senhora Ricci. Conforme instruções expressas da Senhora Nora Ricci, iniciarei agora a leitura do testamento.
O silêncio caiu como um manto pesado dentro da sala.
— “Eu, Nora Antonietta Ricci, em pleno gozo das minhas faculdades mentais, declaro este o meu último testamento. À data da minha morte, deixo registrado o destino de todo o meu patrimônio empresarial e pessoal.” — Ele faz uma pausa apenas para virar a página. — “Declaro que metade de todas as ações e bens pertencentes ao Grupo Ricci será herdada por meu neto biológico, Alex Ricci, a quem a vida e as escolhas nos afastaram, mas cujo sangue e capacidade herdadas não podem ser ignoradas.”
Alex cruzou os braços. Nenhuma emoção aparente.
— “A outra metade das empresas, ações e bens associados serão deixados para Aurora, uma garota linda e fascinante que o destino colocou no meu caminho e que com ela trouxe a luz que me permitiu ver com mais clareza.
— Aurora? — Alex interrompe a leitura. — Quem é Aurora?
Essa pergunta me faz empalidecer. Petrus ergue os seus olhos.
— Tudo que posso dizer é que a Senhorita Stanford assumirá a parte em questão. — Alex me encara interrogativo.
Engulo em seco de modo sutil.
— E por que ela faria isso? Como ela faria isso?
— “Dado o histórico pessoal conturbado e considerando o valor da união e da responsabilidade compartilhada que sempre prezei. — Pietro volta a ler. — “Estabeleço como condição irrevogável para a efetivação do direito à herança e ao controle das empresas, que Alex Ricci e Elena Stanford contraiam matrimônio dentro do prazo máximo de sessenta dias após a leitura deste testamento.”
Um silêncio gélido caiu sobre a sala. Meu coração para uma batida brusca.
— Isso só pode ser uma piada! — murmuro com a voz tensa.
— Infelizmente, não é, Senhorita Stanford — responde o advogado. — Caso um ou ambos se recusem a cumprir esta cláusula, os bens serão integralmente doados à Fundação Ricci, voltada à educação e saúde infantil, conforme cláusula de contingência estabelecida por Dona Nora.
Alex passou a mão pelos cabelos.
— Eu não posso — digo com dificuldade. — Não vou me casar com esse homem.
— Por mim tudo bem! — Alex se levanta sem qualquer consideração e sai da sala.
— Senhorita Stanford, percebe que está tirando o futuro das mãos de uma criança? — Petrus resmunga, olhando-me com veemência. — Após a morte da Senhora Ricci, você ficará desamparada outra vez.
— Ela não podia ter feito isso comigo!
— Escute, você não precisa ficar casada com o Senhor Ricci por muito tempo. — Ergo os meus olhos para fitá-lo. — Faça um acordo por escrito com suas exigências e termos. Tudo será exatamente como você quiser. — Franzo a testa.
— Eu posso fazer isso?
— Você pode. Mas o casamento precisa durar pelo menos um ano.
— Um… ano?! — exaspero e fico de pé.
— Eu conheço a sua história e sei de tudo que você passou. A Senhora Ricci foi um anjo em sua vida. A acolheu e cuidou de você. Mas agora a Aurora precisa que faça o mesmo por ela.
— Ain! — Esfrego o meu rosto com as mãos.
— Você pode pensar, Senhorita Stanford. Pense com calma e quando resolver o que quer fazer, pode me procurar. Eu terei todo prazer em ajudá-la.
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