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A Redenção do Ogro romance Capítulo 93

Camila Coelho

-Amanhã?

-Sim Camila, não dá para esperar mais. Você já sentiu que as coisas estão piores.

Arthur fala com uma ternura no olhar. E eu agradeço... Então chegou a hora? A tão aguardada hora... Não que eu esteja gostando das férias forçadas num quarto da ala de cardiologia, mas eu achava que eu ainda tinha tempo…

Tempo para ficar agarrada ao Bernardo…

Pra ver minha afilhada chutando mais vezes na barriga de Sabrina…

Para ver as conversas divertidas desses três…

Apenas tempo…

Eu não tenho mais…

Amanhã estarei entrando na faca. Meu peito será aberto, meu coração será parado para que uma nova válvula seja instalada. Eu serei como um robô, em que tira uma peça ruim para ser substituída por uma peça nova.

E isso me assusta pra caralho!

Eu estou consciente e preparada para o que vier, apesar de estar assustada. Conviver com um coração defeituoso não é o pior dos meus problemas.

O problema maior é querer realizar tudo que quero realizar com esse cara que aperta as minhas mãos neste momento, sendo portadora desse coração defeituoso. Antes eu não tinha por que viver... Agora tenho…

Eu nunca quis casar, mas agora eu quero…

Eu nunca quis ser mãe, sempre achei que eu seria péssima, já que eu não tive um bom exemplo dentro de casa, mas agora eu sou madrinha. Eu já amo Clara como se fosse minha! Porque não ser mãe?

E por que vou pôr uma criança nesse mundo, sem garantias de que eu viverei tempo o bastante para ver ela crescer?

Eu só tenho 24 anos, mas sinto como se tivesse com 80. Pelo menos o cansaço está igual.

Olho para as mãos de Bernardo, apertando as minhas. Será que ele aguentaria a pressão de viver ao meu lado depois de tudo? Mesmo sendo uma mulher limitada?

Ele diz que sim, está decidido. Mas dizer uma coisa é completamente diferente de fazer.

"Isso você só vai descobrir com o tempo. " -falo para mim mesmo.

É... Eu sei...

Nessa semana que passamos juntos aqui no hospital ele fez planos de nos casarmos e termos filhos. Eu não questionei ele, apenas o ouvi. Mas será que ele falou sério? Será que ele achará ruim não termos filhos? Porque pode acontecer de eu não poder ter filhos.

Saio dos meus pensamentos e volto para a realidade. Não vai adiantar nada eu ficar fazendo planos, se eu não sobreviver a operação.

Eu suspiro e digo:

-Ok! Me conte tudo…

-Tudo?

-Isso…

-Seu problema foi ocasionado por uma febre reumática. Já suspeitava, mas o último eco foi definitivo. Isso é importante para que eu escolha a melhor válvula que ficará no lugar da antiga. Não tenho garantias de como será a operação, pois cada paciente é diferente e os exames também não podem me dar essa garantia. Será uma operação difícil, de muitas horas... Seu organismo vai sentir…

-Quanto de chance eu tenho?

-Camila... -Bernardo começa a querer me parar ... Eu entendo que ele só não quer provocar uma arritmia. Mas eu preciso saber.-Eu quero saber... Sei que a cada momento que passei neste hospital essa semana, meu problema foi aumentando. Eu tive uma parada cardíaca. -sorrio não sentindo graça nenhuma. -Então eu sei que meu problema é grave.

-Atingiu seu pulmão, mas a sua parte renal está funcionando muito bem. Sua idade também contribui para que dê tudo certo. Eu não gosto de números, pois essas variáveis não tem valor nenhum, diante de Deus. - Eu concordo muito. Tudo sempre é no tempo de Deus. E eu confio que a melhor parte da minha vida acontecerá depois dessa operação. Ele reservou momentos maravilhosos para mim. Arthur se aproxima e pega a minha outra mão e me olha com carinho. -Posso te dizer que eu já realizei mais de 100 cirurgias iguais a essa, e já vi muitos pacientes que estavam muito mais comprometidos que você, e conseguiram. A minha taxa de mortalidade é mínima. Eu sou bom no que faço! -Ele faz uma pausa e continua. - Me disseram que você era otimista.

Eu sorrio.

-A maior parte do tempo, sim.

-Então eu preciso que você continue sendo otimista! Se apegue no que acabei de dizer... Eles te darão a esperança de que você precisa.

Eu concordo com a cabeça.

-E a recuperação? -pergunto.

-Se tudo correr bem você sai do hospital em quinze dias. Vai demorar para voltar ao seu normal. Terá uns dois meses de repouso e restabelecimento.Depois vida normal... Claro, tomando sempre seus remédios regularmente, mantendo sua dieta e não se arriscando em aventuras.

-E filhos doutor... Eu posso ter filhos?

Ele sorri...

-Se quiser, sim.

-Sério?! -Fico surpresa.

-Se tudo correr bem, não vejo porque...

Paulo se anima e fala.

-Terá que tomar um cuidado maior com a pressão arterial e o pré natal será diferenciado. No seu caso então não terá problemas nenhum. Você tem uma equipe médica na família. Quer mais perfeição que isso?

Sabrina gargalha. Pois é... Estou bem servida de médicos.

-Amiga... Você querendo ter filhos?

Bernardo quer, porque eu não haveria de querer? E quando eu e Bê conversamos sobre isso eu fiquei animada com a empolgação dele. Bom, eu queria dar isso a ele.

Confesso que nunca pensei nisso, antes da Clara. Talvez tenha sido ela que aflorou meu lado maternal ou está a beira da morte me fez querer coisas que nunca quis. Vai saber!

-Pois é... Acho que estar à beira da morte me fez querer coisas que eu não queria antes…

-Nós queremos filhos sim, mas se não der podemos adotar... Não vejo problema nenhum.

A voz dele sai rouca. Ele não falou muito desde que Arthur, começou a falar sobre a operação. Só ficou ao meu lado segurando a minha mão.

Mas o que ele disse me surpreende e só me faz amar mais ainda ele. Será que seu pai concordaria com isso? Em ser avô de uma criança adotada?

Como se ele desse pitaco na vida dele. Bê só faz o que quer.

O que me surpreende é ele dar uma solução para o meu dilema de uma forma tão rápida e precisa. Bom... conversamos sobre filhos, mas a ideia de adoção não foi falada.

-Você adotaria uma criança?

Pergunto para confirmar que ele é a pessoa mais especial do mundo.

-Você não? Tiraríamos um órfão das ruas. Além disso, não estressamos o seu coração com uma gravidez só porque queremos filhos com seus olhos. Eu quero filhos com seus olhos, mas a sua saúde é mais importante que tudo! Quero que essa válvula fique aí intacta por muitos anos e que você não precise fazer outra operação como esta.

Que ogro mais fofo que eu fui arrumar.

-E eu achando que você com o tempo, fosse me pressionar se caso eu não quisesse filhos.

-Eu disse que estou disposto a viver tudo com você, passarinho. Se não quiser ter filhos, não teremos... Se quiser engravidar, estou com você. Se quiser adotar, adotaremos. Só faremos o que te faz feliz! Essa será minha nova resolução daqui por diante.

-E assim vemos o que nunca imaginei... um ogro domesticado!

Fala Paulo com um sorriso que parece um coringa.

-É impressionante! -diz Arthur divertido.

-Vão se foder vocês dois…

-Nem tão domesticado assim...

-Resmunga Paulo.

Eu sorrio.

-Então teremos um casamento?

-pergunta Sabrina.

Faço uma careta... Não quero um casamento igual ao dela. Isso não tem nada a ver comigo, mas como convencer a minha sogra a não fazer isso? Eu quero viver com ele, mas sem essa papagaiada toda que vem na bagagem deles.

Ele vê minha careta e gargalha.

-Está pra nascer quem vai convencer Camila a usar um vestido de noiva.

-Não mesmo…

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