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A Redenção do Ogro romance Capítulo 90

Bernardo Thomson

O elevador abre no andar do Arthur e vejo Paulo na frente dele me olhando.

Há três dias eu me mantive ao lado de Camila na UTI. Infernizei a vida deles mais do que vocês podem imaginar.

Primeiro porque eu não tinha autorização para ficar sentado numa poltrona ao lado do leito. Ninguém tem... Mas também ninguém se atreveu a me tirar de lá. Segundo que os médicos plantonistas da UTI cardiológica começaram a se ofender por eu estar lá o tempo todo. Algo relacionado a eu não confiar nos outros médicos com ela, se não fosse eu ou Arthur.

Não confiava mesmo.

Queria ver se fosse Duda no lugar de Camila, se Arthur agiria diferente. Ou até mesmo Paulo, que era o mais equilibrado de nós três.

Não deixei mesmo ninguém chegar perto.

O que eles fariam que eu não podia fazer? Eu era um cirurgião renomado, não precisava de um acadêmico examinando minha mulher.

Olho para ele e digo.

-Qual é o BO dessa vez…

-Quero saber se você vai morar no hospital.

Pego minha mala de rodinha e me ponho a arrastar ela, até o quarto em que Arthur disse que transferiria Camila.

-Enquanto Camila estiver aqui eu fico também.

-Bernardo, você está assustando as enfermeiras.

-O quê? Só porque elas não sabem fazer um acesso direito? Não gosto de ver Camila com o braço roxo... A não ser que o roxo seja causado por mim…

-Você não deixa ninguém por a mão nela…

Me viro e olho para ele.

Será que ele não entende que eu preciso disso? De cuidar dela... Ela ficou cinco meses longe de mim, se virando sozinha, com coisas que eu não desejo a nenhum inimigo. Eu não sou médico dessa budega? Para alguma coisa isso deve servir.

Eu não vou sair daqui... Aliás, eu não saio mais do lado dela nunca mais.

-Algum problema que seja realmente "problema" japonês? Pra você ficar me cercando no elevador?

-Você ainda não conversou conosco.

-E nem vou... Não posso tocar nesse assunto na frente dela, e como eu não pretendo sair de perto, essa conversa vai ficar pra depois.

-Quero saber como você está lidando com isso…

-Você fez o que te pedi? -falo para ele trocando de assunto.

Eu tô puto com Sabrina e com Fernanda. Muito puto... Porque elas sabiam que Camila estava doente... Elas poderiam ter feito mais coisas por ela, poderiam não ter deixado ela passar por isso sozinha.

Já com eles... Eu não estou tanto, porque praticamente descobriram comigo. Eu sei que a ética médica é importante e que ela devia ser mais importante do que nossa lealdade.

Mas quando penso que ela poderia estar morta agora, a raiva aumenta bastante.

Por isso que eu quero conversar com eles apenas quando a poeira baixar.

-Sabrina está trazendo uma mala para ela. Camisolas, calcinhas e objetos pessoais, como você disse…

-Ok! Não quero ver ela andando pelo hospital com aquela camisola.

-Você se alimentou?

-Sim japonês. Tomei banho também... Agora no quarto vai ficar mais fácil... Vou poder fazer tudo lá. Podemos continuar andando?

-Espera…

Eu suspiro parando novamente.

-Tio Armando nos contou sobre o passado dela.

-Paulo eu não quero conversar sobre isso agora…

-Ok! Mas eu só quero te dizer que estamos juntos com você...

Entendemos que você não nos contou porque não podia…

-O que leva a aquele assunto, não é? Eu devia entender o lado de vocês…

-Devia…

-Eu não estou com raiva de vocês, ok? Está mais aliviado japonês?-Ele confirma com a cabeça.-Mais eu não posso dizer o mesmo de Sabrina e Fernanda.

Continuo andando.

Ele me para novamente.

-Sabrina não contou pelo mesmo motivo ... Era fiel a amizade dela…

-Ela devia ser fiel a você primeiramente.

-Sabrina não é mais uma submissa qualquer, Bernardo. Você vai aprender isso daqui por diante também. Há coisas que você não poderá exigir de sua mulher.

-Como exigir obediência total?

-Exatamente... -Eu confirmo com a cabeça. Mas isso não vai fazer ela deixar de levar um sermão de mim.-Já Fernanda... Ela disse que fez o que você mandou ela fazer…

-Como assim?

-Você mandou ela ser amiga da Camila e a manter segura.

Inferno! Pior que eu mandei mesmo. Mas Camila não estava em segurança quando a encontrei. Não contando a ninguém, Fernanda pôs a vida dela em risco.

Eu rio.

-Ela não estava em segurança, Paulo. Se eu não estivesse lá…

-Mano... Eu sei que você está se esforçando para entender as coisas... Eu sei que isso tudo parece muito fodido na sua cabeça neste momento,não houve traições no que diz respeito ao que rolou. Cada um tinha os seus motivos para esconder essa história de nós. Camila então... Agora sabendo do passado dela, eu entendo muito porque ela escondeu isso tudo. Porque se tivéssemos passado pelo o que ela passou, faríamos o mesmo... Não pense no que poderia ter acontecido se você não estivesse lá naquele dia. Deus ou Buda, como você preferir sempre prover. Nada acontece por acaso, irmão!

Eu confirmo…

Eu preciso de uma sessão de terapia... Mas isso não vai rolar enquanto ela estiver aqui.

Todos estão com medo da minha reação daqui pra frente e eu entendo. Porque eu já fiz muita merda por muito menos…

Só que dessa vez eu não quero brigar com ninguém... Eu só quero vê-la bem…

Provavelmente eu ainda vou ficar remoendo o que Fernanda e Sabrina fizeram. Principalmente Fernanda se Camila não superar essa fase difícil. Mas se ela superar, eu nem quero mais tocar nesse assunto. Eu quero paz! Pra viver com ela tudo que a gente tem direito de viver.

Eu não sei se ela vai poder ter filhos e nem se ela quer isso... Sei que a vida será cheia de obstáculos depois da operação. Eu só quero fazer ela feliz, eu não quero guardar mágoas no coração.

Então eu só vou deixar o tempo passar, e se o tempo não resolver eu vejo o que vou fazer.

-Eu só quero esquecer o que aconteceu, Paulo... E ficar com ela pra sempre... Pode ser?

Ele sorri.

-Sim pode... Estamos aqui para o que você precisar... Mas existe outra coisa que quero falar com você…

Eu começo a me estressar. Quero voltar para a Camila e ele não deixa.

-Japonês…

-Espera... A algo que você precisa saber. Arthur acha que ela vai te contar, que se você ficar sabendo por nós, você vai perder a paciência com ela. Mas depois dessa conversa que eu tive com você, eu sei que não vai fazer isso…

Olho para ele sem entender nada.

-O quê houve? Ela fez algo para provocar isso? Ela teve outro ataque de pânico?

Começo a andar rápido e ele me segura de novo.

-Nada disso... Espera homem... Ela está bem…

-Então, o que é isso que você tem pra me dizer?

-Quando ela chegou no hospital ela estava usando um cinto daqueles de ferro que é usado para penitências.

-Um cilício?

-Isso... Ele estava bem apertado, Bernardo. Na coxa dela... Eu e Arthur achamos que ela estava se punindo.

Eu suspiro. Eu queria saber como ela estava se virando com o vício da dor, não queria? Taí minha resposta…

E as dúvidas estavam sendo sanadas. O porquê de ela ter terminado comigo e agora como ela lidava com o vício da dor. Eu sabia que ela não ia ficar muito tempo longe da dor. E isso era algo que não encaixava na minha cabeça de jeito nenhum.

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