A noite caía sobre a cidade como uma cortina de aço. No alto do edifício espelhado, onde tudo parecia tão distante do caos terreno, o silêncio reinava.
Ethan Carter caminhava sozinho dentro da cobertura. Estava descalço, com o copo de uísque intacto nas mãos. A bebida não lhe interessava. O que lhe queimava era a ausência de Helen. Ela havia viajado dois dias antes, e desde então, tudo parecia fora de lugar. Os travesseiros estavam no lugar de sempre, mas faltava o perfume dela. Os armários estavam cheios, mas vazios do que realmente importava.
O apartamento que antes era lar, agora era um santuário de saudade.
A campainha tocou, abrupta, cortando o silêncio. Ethan franziu a testa, não esperava ninguém e não tinha feito nenhum pedido. Olhou para o relógio de pulso e viu que já era tarde, caminhou até a porta verificando pelo olho mágico quem seria.
— Merda… — murmurou, cansado.
Era Miranda.
Ela estava de cabeça baixa, olhos inchados e rosto molhado de lágrimas. Por um momento Ethan hesitou, mas ao ouvir a voz dela veio fraca como uma sombra de algo que um dia havia sido familiar.
— Ethan… por favor… me ouve. Só um minuto…
O bom senso disse “não”, mas a compaixão, ou a necessidade de encerrar de vez aquele ciclo, o fez destrancar a porta.
Ela entrou, com a aparência de alguém derrotada. Roupas desalinhadas, jaqueta pendurada nos ombros, mãos trêmulas.
— Eu… — ela começou, e a voz falhou. — Eu sei que você não quer me ver. Eu sei. E tem todo o direito. Mas eu… eu tô destruída, Ethan. Eu não consigo mais viver assim…
Ele cruzou os braços encarando em seus olhos.
— O que você quer, Miranda?
Ela se aproximou devagar, sem ousar tocá-lo.
— Eu só queria… te ver. Te pedir perdão. Me humilhar, se for preciso. Eu fiz tantas coisas erradas… Mas nunca por maldade. Foi por amor, Ethan. Eu te amei tanto… eu ainda amo.
— Miranda… — ele disse, com um suspiro pesado.
— Eu sei que você está com outra pessoa. Sei que ama outra mulher. Mas eu… eu não sei mais quem sou sem você. Eu acordo todos os dias tentando entender o que eu fiz de errado. Onde foi que eu te perdi.
Ela caiu de joelhos no chão, ali mesmo, no meio da sala. As lágrimas caíam como uma tempestade silenciosa.
— Eu só queria um olhar seu. Uma chance. Qualquer coisa. Me esmurra, me xinga, me odeia… mas, por Deus, me olha como antes. Me diz que não me esqueceu completamente…
Ethan se aproximou devagar.Aquilo o dilacerava, não por amor, mas por memória. Por compaixão por uma história que, um dia, havia existido.
— Levanta, Miranda.
— Me diz que não me odeia… — ela sussurrou.
— Eu não te odeio.
Ela o encarou, com os olhos vermelhos e úmidos como de uma criança perdida.
— Então… ainda há esperança?
Ethan hesitou. E aquele silêncio foi mais cruel que qualquer resposta. Ele se sentou na poltrona à frente, segurando o copo de uísque com força.
— Não. — respondeu com gentileza firme. — Miranda… eu sinto muito, de verdade. Sei que você me amou. E, por um tempo, eu te amei também.
Ela abriu um sorriso frágil, um lampejo de alegria, mas ele continuou:
— Mas não te amo mais. Meu coração não está comigo, Miranda. Ele agora pertence a outra pessoa, a outra mulher.
— Eu posso fazer você lembrar. — ela se levantou de joelhos, engatinhando até ele, tocando seu joelho com as mãos. — Eu posso ser a mulher que você quiser. Me dá um mês. Uma semana. Uma noite…
— Isso só vai te machucar mais. — ele afastou a mão dela com cuidado. — O que eu quero… sinceramente… é que você encontre alguém que te veja, que te escolha, que te ame por quem você é. Alguém que te mereça e que te faça feliz.
Miranda mordeu os lábios, sentindo as palavras como agulhas.
— E você não me ama… nem um pouco?
— Eu sinto carinho por você, mas não é amor. Não vou mentir para você, durante muito tempo eu pensei que amava você suficiente por nós dois. Mas hoje — ele sorriu — eu percebo que talvez eu nunca tenha amado você de verdade, porque amar é algo simples, algo que não é forçado, é como respirar… e isso eu sinto com a Helen.
Ela abaixou o olhar. O rosto era o retrato da humilhação.
Colocou uma música ambiente suave, as taças de champanhe sobre a mesa da sala, a garrafa aberta pela metade. O cenário havia sido meticulosamente montado. E o toque final: uma mensagem anônima enviada para Helen.
“Saudade de você.”
Miranda olhou para o relógio. 23h42.
Algum contato do evento que Helen havia participado avisara que ela voltaria naquela noite. Sem avisar, queria fazer uma surpresa para o marido.
— Patética você Helen, espero que goste do espetáculo.
Miranda sorriu sozinha ao ver o relógio marcar 23h42.
Champanhe, roupas,música, corpos nus e a esposa prestes a testemunhar a suposta traição.
Ela fechou os olhos, fingindo dormir. Mas, por dentro, vibrava. Deitou a cabeça no peito de Ethan, o rosto calmo. As lágrimas que antes eram de dor agora pareciam de expectativa.
— Eu tentei, Ethan… — sussurrou. — Mas se você não me deu um final feliz… vai me dar, pelo menos, uma lembrança pra chamar de nossa.
O som da porta se abrindo fez o coração de Miranda acelerar. Ela sabia que era chegado o momento de sua vingança. Ficou imóvel sob o peitoral de Ethan que dormia apagado inerte a tudo que acontecia ao seu redor.
Sorriu ao ouvir passos pela casa e o som do impacto de algo caindo no chão.
— Helen…
Miranda percebeu que Helen não estava sozinha, conhecia a voz da Zoe mesmo de olhos fechados. Por um segundo o silêncio foi ensurdecedor, mas logo se ouviu, som de passos rápidos e vacilantes acompanhada de uma respiração entrecortada.
— Helen! Espera!
E, finalmente… o som da porta se fechando bruscamente.
Miranda não se mexeu, apenas sorriu. Vingança servida em lençóis com gosto de champanhe e o corpo do homem que nunca foi dela… mas que ela fizera parecer. Fechou os olhos, como quem adormece satisfeita.
Por dentro ela acreditava que tinha vencido, mas no fundo, sabia que o que acabara de começar seria a sua queda final.

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