O som do relógio digital piscando em vermelho marcava 3h47 da madrugada quando Ethan despertou com um sobressalto. O peito arfava. O quarto estava escuro, abafado, e o ar carregava um cheiro enjoativo de perfume adocicado… e algo mais, metálico, doce… algo que Ethan não sabia nomear.
Ele piscou. A cabeça latejava, a têmpora pulsava como se estivesse prestes a explodir. Cada músculo do corpo protestava como se tivesse sido arrancado de um transe forçado. E então, sentiu. O lençol escorregou do seu peito… nu. Seu estômago revirou e ele girou o rosto e foi quando viu.
Miranda deitada ao seu lado, completamente nua.
O mundo girou.
— N-não… — sussurrou ele, com a voz engasgada de puro terror. Recuou com as costas até a cabeceira, sentindo a respiração falhar.
Ele estava nu e ela também.
Ethan arregalou os olhos, sentindo o coração disparar em pânico. As lembranças vinham em fragmentos. Ele lembrava de estar em casa, de ter servido um uísque, de estar sozinho. Lembrava da saudade que sentia de Helen, do vazio e da visita inesperada de Miranda…
Depois disso, tudo era escuridão.
Levantou-se de um salto, tropeçando nas próprias pernas. Correu para o banheiro, ligou a torneira e mergulhou o rosto na água fria. Mas não adiantava. A imagem do espelho era um reflexo de horror: olhos vermelhos, marcas pelo pescoço e peito. Marcas que não pertenciam a Helen.
— O que você fez comigo…? — sussurrou, enojado.
Saiu cambaleando e pegou o celular no criado-mudo. Estava desligado. Assim que religou, dezenas de notificações pipocaram. Mensagens perdidas, chamadas, o nome dela.
Helen.
Três ligações e uma mensagem.
“Ethan… como você pôde?”
Ele parou de respirar. Um grito preso no peito o sufocava.
Voltou-se para a cama como um animal encurralado. Miranda ainda estava ali, virando-se preguiçosamente entre os lençóis, com um sorriso nos lábios como se aquilo fosse… um prêmio.
— Ethan… — murmurou ela, com a voz arrastada. — Bom dia…
— O QUE VOCÊ FEZ?! — rugiu ele.
A voz saiu como um trovão. Ele avançou até a cama, sentindo a fúria transbordar nos olhos, e as mãos tremer.
— Calma, querido. — disse Miranda, puxando o lençol para cobrir o corpo com fingida delicadeza. — Você estava… tão carente. Me chamou, me serviu um drink. Estava sozinho, partido… vulnerável. E eu fui só quem te amou de verdade nessa noite.
Ethan gritou, recuando um passo, girando em si como se o mundo estivesse caindo.
— EU NUNCA TE TOQUEI! — ele vociferou. — EU NÃO LEMBRO DE NADA! EU FUI DROGADO!
— Drogado? — ela riu, debochada. — Ethan… não seja dramático. Nós transamos. Você estava presente. Aliás, muito presente. Nunca imaginei que sentiria tanto prazer com você.
A náusea tomou conta dele. As mãos dele foram ao cabelo. Ele puxava, girava, tremia.
— Você armou isso. — rosnou ele. — As roupas no chão… o champanhe… as malditas marcas. Você me ARMOU!
Miranda se levantou com calma. Nem se deu ao trabalho de se cobrir. Andava nua pelo quarto como quem exibia um troféu.
— E se tiver sido mesmo uma armação? — perguntou, arqueando uma sobrancelha. — Você vai conseguir provar?
Ethan cerrou os punhos. Os olhos estavam vermelhos de raiva. As veias saltadas, seu corpo inteiro parecia prestes a explodir.
— Helen… — ele murmurou, com a voz despedaçada. — Ela viu?
Miranda sorriu, fria.
— Chegou aqui por volta das onze e meia. Linda. Carregando flores e um sorriso no rosto. Estava radiante. Queria fazer uma surpresa… e fez.
O mundo parou. Ethan sentiu o sangue desaparecer do corpo. As pernas cederam e elle caiu de joelhos, encarando o nada.
— Ela deve achar que eu… que eu… — o grito veio preso na garganta.
— Te traiu. — completou Miranda com um sorrisinho cruel. — Foi isso que ela viu. E será isso que ela vai lembrar… sempre.
Ethan passou as mãos no rosto, virou-se para o amigo com a voz partida:
— Eu preciso encontrá-la. Preciso explicar. Preciso… respirar.
— Vamos sair daqui. — disse Liam com firmeza. — Agora.
Ethan se virou pela última vez para Miranda.
— Aproveita essa vitória, Miranda. Porque quando a verdade vier à tona… e ela virá… você vai perder tudo.
Ela sorriu, se aproximando, sussurrando ao ouvido dele:
— Mas você já perdeu ela.
E isso… foi a pior dor que ele já sentiu.
Ele saiu como uma flecha. Desceu as escadas correndo, ignorando Liam e o elevador. As pernas falharam, mas o coração empurrava a cada passo. Entrou no carro e dirigiu sem saber para onde ir. Tentou ligar para Helen e nada. Mandou mensagens vazias, digitou e apagou dezenas de vezes, até que a voz embargada escapou:
“Por favor, amor… foi uma armadilha. Me ouve. Eu nunca… nunca te trairia. Me dá uma chance de explicar.”
Mas ele sabia.
Sabia que Helen não responderia.
Não agora.
E no fundo, temia que ela nunca mais quisesse falar com ele, e pensar nisso o destruía.
Quinze minutos depois, parou diante do prédio de Zoe. Saiu do carro correndo até a portaria. Sem se identificar, entrou no prédio, subiu o elevador até o apartamento da irmã. Dentro de si, orava que ela estivesse lá e que o ouvisse.
Tocou a campainha de Zoe e no segundo toque a porta foi aberta, Ethan entrou desesperado no apartamento já buscando por ela com os olhos.
— Ela está aí? — perguntou, ofegante. — Helen! Ela está aqui, Zoe?

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