O céu ainda estava cinza, coberto por nuvens baixas e ameaçadoras, quando Zoe estacionou o carro diante do antigo prédio onde Helen costumava morar, antes de se mudar para o apartamento de Ethan. A manhã mal começou, mas o dia já carregava o peso de um luto silencioso. O mundo parecia suspenso, como se prendesse o ar na iminência de algo pior.
O coração de Zoe batia tão forte que ela achava que poderia desmaiar. Suas mãos tremiam no volante. A respiração era curta, como se o oxigênio lhe faltasse só por estar ali. Os olhos já estavam úmidos, sua garganta doía. E a culpa… a culpa pesava sobre os ombros como uma sentença cruel.
Ela havia saído da cobertura cedo, com um único propósito: encontrar Helen. Explicar o que havia de fato acontecido, que tudo não tinha passado de um plano sombrio de Miranda para separar os dois. Zoe conhecia o irmão como ninguém e ontem o que viu em seus olhos foi a pura verdade, ele amava Helen e não ia deixar que Miranda conseguisse separar os dois.
Zoe também temia que a cunhada simplesmente desaparecesse e se entregasse ao silêncio do abandono… talvez nunca mais voltando.
Zoe apertou a chave do carro entre os dedos com força e saiu. Subiu as escadas do prédio antigo, ignorando o elevador quebrado. Cada degrau parecia mais alto que o anterior. Quando parou diante da porta 302, estava sem fôlego e sem demora bateu.
— Helen? — a voz saiu trêmula, um pouco rouca. — Sou eu, Zoe. Por favor… atende…
Silêncio.
Bateu de novo, com mais força.
— Helen, me escuta! Por favor! Eu sei o que você viu… mas não é verdade! — sua voz começava a falhar. — Não aconteceu nada entre o Ethan e a Miranda! Ela armou tudo! Ele foi drogado, Helen… foi tudo uma armadilha! Por favor, abre a porta!
Nada.
Apenas o eco abafado do desespero, devolvido pela madeira fria.
Encostou a testa na porta, os olhos fechados. O coração parecia prestes a explodir. A boca se encheu de um gosto amargo.
Desceu correndo, quase tropeçando nos próprios pés. O suor misturado à chuva fina que começava a cair embaçava sua visão. Zoe invadiu a portaria com pressa.
— Seu Álvaro! — chamou, ofegante.
O porteiro levantou o olhar do jornal e se levantou depressa ao vê-la naquele estado.
— Dona Zoe? Que susto…
— A Helen… ela veio aqui? Ontem à noite?
O homem coçou a cabeça, franzindo o cenho.
— Veio sim… passou aqui ontem. Chegou tarde e parecia triste. Subiu direto, mas… saiu bem cedo hoje.
Zoe quase gritou.
— Disse pra onde ia?
— Não. Só que precisava sumir por uns dias.
— Tava com mala?
— Uma bolsa pequena. Parecia leve. Disse que voltaria… ou não.
— Ela disse pra onde ia?
— Infelizmente não. Só comprou a passagem na hora. Mas parecia determinada.
Zoe desligou o telefone e parou por um instante.
As lágrimas começaram a cair devagar. O peito apertado pela culpa, pela impotência, pelo medo.
Ela não conseguiu impedir, não conseguiu explicar, não chegou a tempo.
— Helen… onde você foi?
A brisa fria da manhã bateu em seu rosto, mas o que doía era por dentro. A sensação de que perdeu mais do que tempo, perdeu a chance de evitar um desastre.
Subiu no carro de novo, ligou o motor com as mãos trêmulas, mas não dirigiu. Ficou ali, parada, em silêncio, com a cabeça apoiada no volante.
Helen havia desaparecido. E agora, tudo dependia de que ela, em algum lugar, decidisse acreditar no que o coração dizia… e não no que os olhos viram.
Mas Zoe sabia: a dor de uma mulher traída, ainda que injustamente, era como um oceano. Profundo, escuro… e difícil de atravessar sozinha.
E elas estavam todas, agora, à deriva.

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