Ethan Carter
Eu não sei mais que horas são.
A verdade é que o tempo parou desde que sai do nosso apartamento e ele estava vazio.
O silêncio ali dentro foi como uma lâmina rasgando minha pele por dentro. Os quadros na parede estavam no mesmo lugar. O perfume dela ainda pairava no ar, fraco, quase como um sussurro. Mas ela… ela não estava.
Apenas ausência.
Apenas o eco de tudo que ela deixou para trás.
Desde então, eu não parei. Saí sem rumo, com o coração dilacerado e a alma pendurada por um fio. Peguei o carro como quem foge de si mesmo. E desde então, dirijo. Paro em cidades pequenas, em postos de gasolina, em pousadas escondidas nas beiras das estradas. Mostro a foto dela no celular e pergunto:
— Você viu essa mulher?
Mas ninguém viu.
Ninguém viu meu coração perdido por aí, carregando uma bolsa leve e uma dor pesada demais para suportar.
A cada “não, senhor, não reconheço”, minha esperança sangra um pouco mais.
Helen… onde você está?
A chuva começa a cair. Grossa. Densa. Como se o céu soubesse que meu mundo já havia desabado e estivesse chorando por mim.
Encosto o carro no acostamento de uma estrada qualquer. Tudo em mim treme. O volante escorrega das minhas mãos. Os faróis iluminam apenas a lama que se forma no canto da pista.
Eu saio. Não consigo mais ficar preso dentro de nada. Nem do carro, nem de mim mesmo.
A chuva me acerta em cheio, gelada. Sinto o casaco pesar com a água. Os sapatos afundam no barro, minhas mãos estão frias. Eu olho para cima.
E então, eu quebro.
Ajoelho na beira da estrada, afundado na terra molhada e começo a chorar.
Choro como nunca chorei na vida.
Choro como um menino perdido.
Porque está doendo.
Porque rasga.
Porque Helen era o meu começo, meu meio e meu fim.
E agora… ela se foi.
— Helen… — sussurro, com a voz falha. — Eu não posso… não posso te perder…
Fecho os olhos e deixo as lembranças me afogarem.
Lembro da primeira vez que vi aqueles olhos. O jeito como ela desviava o olhar, mas sorria sem perceber. Lembro do dia em que ela me chamou de “arrogante”, mas não conseguiu esconder o rubor nas bochechas. Lembro do gosto da pele dela, do cheiro do travesseiro quando ela dormia de bruços. Lembro da voz baixa sussurrando “fica comigo, Ethan…”
E eu fiquei.
De corpo alma e coração.
Ela me fez ser melhor.
Ela acreditou em mim quando nem eu acreditava.
Ela me escolheu.
E agora… ela acredita que eu a traí. Que a feri e que fui capaz de destruir o único amor verdadeiro que já tive. Não a culpo, eu errei muito no passado, a magoei demais, tudo isso por causa de uma mulher que eu acreditava amar…
Miranda
A dor vira raiva.
Levanto, cambaleando. Entrando no carro novamente. Sinto todo o meu corpo tremer, sou consumido agora pelo ódio. Porque Miranda fez o que fez? Porque ela me drogou e armou tudo isso? Foi por amor a mim, por vingança ou por algo maior?
Miranda nunca me amou. Quem ama não faz esse tipo de coisa. Quem ama não destroi, não machuca…
Eu devia ter previsto. Devia ter visto os sinais. Ela sempre foi habilidosa em manipular, em se fazer de vítima. Sempre soube como me envenenar de dentro pra fora. Ela me envenenou contra Helen e por muito tempo eu acreditei na mentira que Miranda contou. Até conhecer de fato quem era Helen… a mulher meiga, doce, gentil… a mulher que de fato eu amava.
O peito ainda queima, só de imaginar Helen chorando sozinha. Meu Deus, imaginar ela dessa maneira me destrói por dentro.
— Mais um.
E então… ela volta.
Helen.
O sorriso dela. A gargalhada com as mãos cobrindo o rosto. A forma como me olhava quando estava apaixonada e furiosa ao mesmo tempo. A forma como dizia meu nome, como se ele fosse o único nome que importava. Quando se aninhava em meus braços depois que fazíamos amor.
— Helen… — sussurro, sozinho. — Por que você não me esperou? Por que não me ouviu?
Mas eu sei a resposta.
Ela viu. E depois de tudo o que já viveu, depois de todas as cicatrizes, ver aquilo… foi o suficiente para destruí-la. E agora sou eu quem estou destruído.
— O que eu faço sem você, Helen?
O barman serve outro copo e sem demoro eu bebo. Mais um.. mais um.. mais um…
Já não sinto mais minhas mãos, o rosto dela se confunde com a música, com o álcool e as lágrimas que ainda não cessaram. Mas sou traído por mim mesmo, com a imagem de Miranda surgindo no fundo de minha mente.
Com aquele sorriso, com aquela frieza, com aquele veneno. Ela me drogou, se deitou ao meu lado e destruiu a minha vida. E o pior… ela sabia exatamente o que estava fazendo.
— EU VOU ACABAR COM VOCÊ. — murmuro, entre dentes, encarando o vazio.
Mas o vazio não responde. O mundo começa a girar, as luzes do bar piscam como estilhaços e como uma benção ou uma maldição escuto novamente a voz de Helen.
“Se você me amasse de verdade… não teria feito isso.”
— NÃO FIZ! — grito, mesmo sem ninguém entender.
E então… Tudo escurece. O copo escorregou da minha mão e meu corpo desabou sobre o balcão.
Sozinho, molhado, perdido… No escuro mais profundo da minha existência. E sinceramente, não sei se quero acordar.

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